sábado, 20 de novembro de 2010

Igreja x Camisinha: O que o papa realmente disse?

Os principais jornais do país destacaram as seguintes manchetes hoje:
"Papa diz que uso da camisinha pode ser justificável em alguns casos" Estadão
"Papa Bento 16 defende uso da camisinha em casos de prostituição" Folha de SP
"Pela primeira vez, Papa admite uso de camisinha" O Globo
"Papa diz que uso de camisinha pode ser aceitável" Jornal do Brasil
Um católico preguiçoso e comodista poderá até acreditar nesses jornais e se voltar contra o Pontífice... Os católicos relativistas poderão até parabenizar o Papa por essa notícia... Mas um verdadeiro católico, comprometido com o Evangelho e com a Igreja de Cristo, irá logo perceber que "algo cheira mal no reino da mídia mundial..."

Eu li a notícia no Estadão. E sinceramente, de primeira notei que a manchete não condiz com o que o Papa prega e com o que a Igreja sempre disse... Para mim, ficou claro o exagero proposital e fora do contexto, tendo unicamente o intuito de polemizar!

O jogo de palavras costuma ser eficaz para distorcer o sentido real do pensamento, ainda mais quando não se publica na íntegra o que de fato foi dito. Muita má fé dessa imprensa!

Segue o que o Papa realmente disse:


Bento XVI: É evidente que ela (Igreja) não a considera (utilização de preservativos) uma solução verdadeira e moral.

«[…] Em África, Vossa Santidade afirmou que a doutrina tradicional da Igreja tinha revelado ser o caminho mais seguro para conter a propagação da SIDA/AIDS. Os críticos, provenientes também da Igreja, dizem, pelo contrário, que é uma loucura proibir a utilização de preservativos a uma população ameaçada pela SIDA/AIDS.

Em termos jornalísticos, a viagem a África foi totalmente ofuscada por uma única frase. Perguntaram-me porque é que, no domínio da SIDA/AIDS, a Igreja Católica assume uma posição irrealista e sem efeito – uma pergunta que considerei realmente provocatória, porque ela faz mais do que todos os outros. E mantenho o que disse. Faz mais porque é a única instituição que está muito próxima e muito concretamente junto das pessoas, agindo preventivamente, educando, ajudando, aconselhando, acompanhando. Faz mais porque trata como mais ninguém tantos doentes com sida e, em especial, crianças doentes com sida. Pude visitar uma dessas unidades hospitalares e falar com os doentes.

Essa foi a verdadeira resposta: a Igreja faz mais do que os outros porque não se limita a falar da tribuna que é o jornal, mas ajuda as irmãs e os irmãos no terreno. Não tinha, nesse contexto, dado a minha opinião em geral quanto à questão dos preservativos, mas apenas dito – e foi isso que provocou um grande escândalo – que não se pode resolver o problema com a distribuição de preservativos. É preciso fazer muito mais. Temos de estar próximos das pessoas, orientá-las, ajudá-las; e isso quer antes, quer depois de uma doença.

Efectivamente, acontece que, onde quer que alguém queira obter preservativos, eles existem. Só que isso, por si só, não resolve o assunto. Tem de se fazer mais. Desenvolveu-se entretanto, precisamente no domínio secular, a chamada teoria ABC, que defende “Abstinence – Be faithful – Condom” (“Abstinência – Fidelidade – Preservativo”), sendo que o preservativo só deve ser entendido como uma alternativa quando os outros dois não resultam. Ou seja, a mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. É por isso que o combate contra a banalização da sexualidade também faz parte da luta para que ela seja valorizada positivamente e o seu efeito positivo se possa desenvolver no todo do ser pessoa.

Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por VIH/HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade.

Quer isso dizer que, em princípio, a Igreja Católica não é contra a utilização de preservativos?

É evidente que ela não a considera uma solução verdadeira e moral. Num ou noutro caso, embora seja utilizado para diminuir o risco de contágio, o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana.»

In Bento XVI, Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos – Uma conversa com Peter Seewald, Lucerna, 2010


Fonte: Spe Deus

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