quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Martírio de São João Batista

Predecessor fiel da graça, bondoso anjo da verdade,
clarão de Cristo, ele anuncia a Luz da eterna claridade.

Das profecias o precônio que ele cantara, austero e forte,
com vida e atos confirmou pelo sinal da santa morte.


Quem para o mundo ia nascer ele precede, ao vir primeiro,
mostrando Aquele que viria dar o batismo verdadeiro.

E cuja morte inocente, que a vida ao mundo conquistou,
fora predita pelo sangue que João Batista derramou.

Ó Pai clemente, concedei-nos seguir os passos de São João,
para fruirmos para sempre o dom de Cristo, em profusão.


A festa do martírio de São João Batista está ligada à dedicação da igreja construída em Sebaste, na Samaria, no suposto túmulo do Precursor de Jesus. O próprio Jesus apresenta-nos João Batista:

Ao partirem eles, começou Jesus a falar a respeito de João às multidões: "Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas finas? Mas os que vestem roupas finas vivem nos palácios dos reis. Então, que fostes ver? Um profeta? Eu vos afirmo que sim, e mais do que um profeta. É dele que está escrito: " eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti. Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu nenhum maior do que João, o Batista, e, no entanto, o menor no Reino dos céus é maior do que ele ..." (Mateus 11:2-11).

O martírio de João Batista liga-se à denúncia profética das injustiças cometidas pelos poderosos, inclusive o luxo da corte, cujo desfecho fatal é a morte do inocente e a opressão dos marginalizados.



CATEQUESE
Praça da Liberdade - Castel Gandolfo
29 de agosto de 2012

Queridos irmãos e irmãs,

Na última quarta-feira de agosto recordamos a memória litúrgica do martírio de São João Batista, o precursor de Jesus. No calendário romano, ele é o único santo que comemoramos tanto o nascimento, 24 de junho, quanto a morte, ocorrida por meio do martírio. Recordamos hoje a memória voltada à dedicação de uma cripta de Sebaste na Samaria onde, em meados do século IV, já se venerava sua cabeça. O culto se espalhou por Jerusalém, nas Igrejas do Oriente e em Roma, com o título: Decapitação de São João Batista. O Martirológio Romano faz referência a uma segunda descoberta da relíquia preciosa, transportada, para a ocasião, à Igreja de S. Silvestre em Campo Marzio, em Roma.

Essas pequenas referências históricas nos ajudam a entender quão antiga e profunda é a veneração de João Batista. Os Evangelhos destacam muito bem o seu papel em relação a Jesus. Em particular, São Lucas narra seu nascimento, a vida no deserto, a pregação e São Marcos narra sua morte trágica no Evangelho de hoje. João Batista inicia sua pregação sob o imperador Tibério, no ano 27-28, e o convite dirigido às pessoas que se reuniam para ouvi-lo é o de preparar o caminho para acolher o Senhor, para endireitar as veredas tortuosas da própria vida através de uma conversão
radical de coração (cf. Lc 3, 4). Mas João Batista não se limita a pregar o arrependimento, mas a reconhecer Jesus como o "Cordeiro de Deus" que veio tirar o pecado do mundo (Jo 1,29). Tem em si a profunda humildade de mostrar Jesus como o verdadeiro Mensageiro de Deus, colocando-se à parte para que Cristo possa crescer, ser escutado e seguido. Como último ato, João Batista testemunha com o sangue sua fidelidade aos mandamentos de Deus, sem hesitar ou retroceder, cumprindo até o final sua missão. São Beda, monge do século IX, diz de João Batista em sua  homilia: Para [Cristo] deu a sua vida, ainda que não tenha sido obrigado a negar Jesus Cristo, foi condenado apenas para calar a verdade (cf. Om 23..: CCL 122, 354). Mas calou a verdade, morreu por Cristo, que é a Verdade. Exatamente por amor à verdade, não cedeu a seus valores e não teve medo de dirigir palavras fortes àqueles que tinham se perdido no caminho de Deus.

Nós vemos esta grande figura, esta força na morte, na resistência contra os poderosos. Nos perguntamos: de onde nasce esta vida, esta interioridade tão forte, tão reta, coerente, gasta tão completamente por Deus a preparar o caminho para Jesus? A resposta é simples: da relação com Deus, da oração, que é o fio condutor de toda sua existência. João é o dom divino por muito tempo pedido por seus pais, Zacarias e Isabel (cf. Lc 1,13), um grande presente, humanamente inesperável, porque ambos eram avançados em idade e Isabel era estéril (cf. Lc 1,7), mas nada é impossível para Deus (cf. Lucas 1:36). O anúncio do nascimento ocorre exatamente num lugar de oração, o templo de Jerusalém, quando toca a Zacarias o grande privilégio de entrar no lugar mais sagrado do templo para fazer a oferta do incenso ao Senhor (cf. Lc 1, 8-20). O nascimento de João Batista também foi marcado pela oração: o cântico de alegria, de louvor e de gratidão que Zacarias eleva ao Senhor e que recitamos todas as manhãs nas Laudes, o "Benedictus", exalta a ação de Deus na história e indica profeticamente a missão de seu filho João, preceder o Filho de Deus feito carne, a fim de preparar seu caminho (cf. Lc 1,67-79). Toda a existência do Precursor de Jesus é alimentada por um relacionamento com Deus, especialmente o tempo vivido no deserto (cf. Lc 1,80) regiões desérticas que são locais de tentação, mas também lugar onde o homem sente a própria pobreza por estar privado de recursos e seguranças materiais e então compreende que o único ponto de referência seguro é o próprio Deus. Mas João Batista não é apenas um homem de oração, de contato constante com Deus, mas também um guia para este relacionamento. O evangelista Lucas, recordando a oração que Jesus ensinou aos seus discípulos, o "Pai Nosso", observa que o pedido é feito pelos discípulos com estas palavras: "Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou os seus discípulos" (cf. Lc 11, 1). 
Queridos irmãos e irmãs, celebrar o martírio de São João Batista lembra também a nós, cristãos do nosso tempo, que não podemos nos esquivar do compromisso com o amor de Cristo, sua Palavra, a Verdade. Verdade é verdade, não pode ser negociada. A vida cristã exige, por assim dizer, o "martírio" da fidelidade diária ao Evangelho, que é a coragem de deixar que Cristo cresça em nós, direcione o nosso pensamento e nossas ações. Mas isso só pode acontecer em nossas vidas se for sólido o nosso relacionamento com Deus. Oração não é tempo perdido, não é tirar o tempo das nossas atividades, incluindo as apostólicas, é exatamente o contrário: só se formos capazes de ter uma fiel vida de oração, constante, confiante, será o próprio Deus a nos dar força e capacidade para viver de modo feliz e sereno, superar as dificuldades e testemunhá-Lo com coragem. São João Batista interceda por nós, para que possamos manter sempre a primazia de Deus em nossa vida. Obrigado.





Oração 


Ó Deus, quisestes que São João Batista fosse o precursor do nascimento e da morte do vosso Filho; como ele tombou na luta pela justiça e a verdade, fazei-nos também lutar corajosamente para testemunhar a vossa palavra. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.


Fonte:

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Nossa Senhora Rainha

No alto cume dos seres, Rainha e Virgem estás.
Com tal beleza adornada, imperas sobre as demais.
 
Na criação resplandeces como obra-prima criada,
para gerares o Filho que te criou, destinada.

Rei purpurado no sangue, no lenho morre Jesus;
com ele a cruz partilhando, és Mãe dos vivos, na luz.

De tanta graça repleta, vela por nós, pecadores;
escuta a voz dos teus filhos, que hoje te cantam louvores.

Louvor ao Pai e ao Paráclito e glória ao Filho também,
que te vestiram de graça no Reino eterno. Amém.


Pio XII assim fala de Nossa Senhora Rainha: "Procurem, pois, acercar-se agora com maior confiança do que antes, todos quantos recorrem ao trono de graça e de misericórdia da Rainha e Mãe Nossa, para implorar auxílio nas adversidades, luz nas trevas, conforto na dor e no pranto ... Há, em muitos países da terra, pessoas injustamente perseguidas por causa da sua profissão cristã, e privadas dos direitos humanos e divinos da liberdade ... A estes filhos atormentados e inocentes, volva os seus olhos misericordiosos, cuja luz serena as tempestades e dissipa as nuvens, a poderosa Senhora das coisas e dos tempos, que sabe aplacar as violências com o seu pé virginal; e à todos conceda que em breve possam gozar da merecida liberdade ... Todo aquele, pois, que honra a Senhora dos celestes e dos mortais, invoque-a como Rainha sempre presente, Medianeira de paz".



Castel Gandolfo
Quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Queridos irmãos e irmãs,

Hoje celebramos a festa da Santíssima Virgem Maria, invocada com o título: "Rainha". É uma  festa criada recentemente, mas antiga na origem e na devoção. Foi estabelecida pelo Venerável Pio XII, em 1954, no final do Ano Mariano, para o dia 31 de maio (cf. Carta Apostólica Ad caeli Reginam, 11 octobris 1954: AAS 46 [1954], 625-640). Nesta ocasião, o Papa disse que a Maria é rainha mais  que qualquer outra criatura pela elevação de sua alma e a excelência dos dons recebidos. Ela nunca deixa de conceder os tesouros de seu amor e seu cuidado para a humanidade (cf. Discurso em honra de Maria Rainha, 1º de novembro de 1954). Mas após a reforma pós-conciliar do calendário litúrgico foi estipulada para oito dias após a Solenidade da Assunção para enfatizar a estreita relação entre a realeza de Maria e sua glorificação em alma e corpo junto ao seu Filho. Na Constituição sobre a Igreja do Concílio Vaticano II lemos assim: "Maria foi assunta à glória celeste e exaltada por Deus como Rainha do universo, para que fosse plenamente conformada a seu Filho" (Lumen gentium, 59).

E esta é a origem da festa de hoje: Maria é rainha porque é associada de forma única a seu Filho, tanto na vida terrena, como na glória do céu. O grande santo da Síria, Efrém da Síria, afirma, sobre a realeza de Maria, que ela vem de sua maternidade: Ela é a Mãe do Senhor, o Rei dos reis (cf. Is 9,1-6) e nos mostra Jesus como vida, salvação e nossa esperança. O Servo de Deus Paulo VI recordou na Exortação Apostólica Marialis Cultus: "Na Virgem Maria tudo é relativo a Cristo e tudo depende dele: em vista Dele, o Pai, desde toda a eternidade, a escolheu Mãe, toda santa, e a adornou dos dons do Espírito, concedidos a mais ninguém"(n. 25).

Mas agora nos perguntamos: o que significa Maria Rainha? É apenas um título como os outros, a coroa, um ornamento como os outros? O que quer dizer? O que significa esta realeza? Como já indicado, é uma conseqüência do seu ser unido ao Filho, do seu ser no céu, que está em comunhão com Deus. Ela participa da responsabilidade de Deus para com o mundo e do amor de Deus pelo mundo. Há uma idéia comum, de rei ou rainha: seria uma pessoa com poder e riqueza. Mas este não é o tipo de realeza de Jesus e Maria. Pensemos no Senhor: a realeza, a condição de rei de Cristo é revestida de humildade, serviço, amor: é, acima de tudo, servir, ajudar, amar. Lembremo-nos de que Jesus foi proclamado rei na cruz com a inscrição escrita por Pilatos: "Rei dos Judeus" (cf. Mc. 15,26). Naquele momento na cruz se prova que Ele é rei. E como é rei? Sofrendo conosco, por nós, amando até o fim e assim governa e inaugura o amor, a verdade e a justiça. Ou pensemos também em outro momento: na Última Ceia inclina-se para lavar os pés dos seus. A realeza de Jesus não tem nada a ver com a dos poderosos da terra. É um rei que serve os seus servos, assim agiu em toda sua vida. E o mesmo vale para Maria: é Rainha no serviço a Deus para a humanidade, é rainha do amor, que vive o dom de si a Deus para entrar no plano de salvação do homem. Ao anjo responde: Eis aqui a serva do Senhor (cf. Lc. 1,38) e canta no Magnificat: Deus olhou para a humildade de sua serva (cf. Lc. 1,48). Ela nos ajuda. É rainha amando-nos, ajudando-nos em todas as nossas necessidades, é a nossa irmã, serva humilde.

E assim chegamos ao ponto: como Maria exerceu a realeza de serviço e amor? Cuidando de nós, seus filhos, os filhos que se voltam a ela em oração, para agradecer ou para pedir sua proteção maternal e ajuda celeste, talvez depois de terem se perdido no caminho, oprimidos pela dor ou angústia, pelas tristes e incômodas vicissitudes da vida. Na serenidade ou na escuridão da existência, voltamo-nos a Maria, confiando em sua contínua intercessão, para que do Filho possamos obter toda a graça e misericórdia necessária para a nossa peregrinação ao longo da estrada do mundo. A Ele, que governa o mundo e detém os destinos do universo, nós nos voltamos confiantes, através da Virgem Maria. Ela, pelos séculos, é invocada como uma rainha celeste do Céu; oito vezes, depois da oração do Santo Rosário é invocada na ladainha lauretana como a Rainha dos Anjos, dos patriarcas, profetas, apóstolos, mártires, confessores, virgens, todos os Santos e todas as famílias. O ritmo dessas invocações antigas e orações diárias como a Salve Rainha, ajuda-nos a compreender que a Virgem Santíssima, nossa Mãe junto a seu Filho Jesus na glória do céu, está sempre conosco, no desenrolar cotidiano da nossa vida.

O título de rainha é, então, título de confiança, de alegria, de amor. E sabemos que aquela que tem nas mãos o destino do mundo é boa, nos ama e nos ajuda em nossas dificuldades.

Queridos amigos, a devoção a Nossa Senhora é um elemento importante da vida espiritual. Em nossa oração, não deixemos de recorrer confiantes a ela. Maria não deixará de interceder por nós junto a seu Filho. Olhando para ela, imitemos a fé, a disponibilidade plena no projeto de amor de Deus, o generoso acolhimento de Jesus. Aprendamos a viver como Maria. Maria é a Rainha do céu perto de Deus, mas é também a mãe perto de cada um de nós, que nos ama e ouve a nossa voz. Obrigado pela atenção.



Fonte:

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Assunção da Virgem Maria

De sol, ó Virgem, vestida, de branca lua calçada; 
de doze estrelas-coroas Coroada. 

A terra toda te canta, da morte Dominadora. 
No céu a ti temos, todos, Protetora. 

Fiel, conserva os fiéis, procura a ovelha perdida.
Brilha na treva da morte, Luz e Vida. 

Ao pecador auxilia, ao triste, ao fraco e ao pobre. 
Com o teu manto materno Todos cobre! 

Louvor à excelsa Trindade. 
Que dê a coroa a quem ele fez Mãe e Rainha nossa. Amém.



SANTA MISSA DA SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO 
DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA

HOMILIA DO PAPA BENTO XVI

Paróquia de São Tomás de Vilanova, Castel Gandolfo
Segunda-feira, 15 de Agosto de 2011


Estimados irmãos e irmãs

Encontramo-nos reunidos, mais uma vez, para celebrar uma das mais antigas e amadas festividades dedicadas a Maria Santíssima: a solenidade da sua Assunção na glória do Céu de corpo e alma, ou seja, com todo o seu ser humano, na integridade da sua pessoa. Deste modo, recebemos a graça de renovar o nosso amor a Maria, de a admirar e de a louvar pelas «maravilhas» que o Todo-Poderoso realizou por Ela, e que nela levou a cabo.

Ao contemplarmos a Virgem Maria, recebemos mais uma graça: a de poder ver em profundidade também a nossa vida. Sim, porque inclusive a nossa existência quotidiana, com os seus problemas e as suas esperanças, recebe luz da Mãe de Deus, do seu percurso espiritual, do seu destino de glória: um caminho e uma meta que podem e devem tornar-se, de certo modo, o nosso próprio caminho e a nossa própria meta. Deixemo-nos orientar pelos trechos da Sagrada Escritura que a liturgia hodierna nos propõe. Gostaria de meditar, em particular, sobre uma imagem que encontramos na primeira leitura, tirada do Apocalipse, e à qual faz eco o Evangelho de Lucas: ou seja, o da arca.

Na primeira leitura, ouvimos: «Abriu-se o templo de Deus no céu e apareceu, no seu templo, a arca da sua aliança» (Ap 11, 19). Qual é o significado da arca? O que aparece? Para o Antigo Testamento, ela é o símbolo da presença de Deus no meio do seu povo. Mas o símbolo já cedeu o lugar à realidade. Assim, o Novo Testamento diz-nos que a verdadeira arca da aliança é uma pessoa viva e concreta: é a Virgem Maria. Deus não habita num móvel, mas sim numa pessoa, num coração: Maria, Aquela que trouxe no seu ventre o Filho eterno de Deus que se fez homem, Jesus, nosso Senhor e Salvador. Na arca — como sabemos — estavam conservadas as duas tábuas da lei de Moisés, que manifestavam a vontade de Deus, de conservar a aliança com o seu povo, indicando as suas condições para ser fiel ao pacto de Deus, para se conformar com a vontade de Deus e assim também com a nossa profunda verdade. Maria é a arca da aliança, porque acolheu em si mesma Jesus; recebeu em si a Palavra viva, todo o conteúdo da vontade de Deus, da verdade de Deus; acolheu em si Aquele que constitui a nova e eterna aliança, culminada com a oferenda do seu corpo e do seu sangue: corpo e sangue recebidos de Maria. Portanto, justamente, a piedade cristã, nas ladainhas em honra de Nossa Senhora, dirige-se a Ela, invocando-a comoFoederis Arca, ou seja, «arca da aliança», arca da presença de Deus, arca da aliança do amor que Deus quis estreitar de maneira definitiva com a humanidade inteira em Cristo.

O trecho do Apocalipse deseja indicar outro aspecto importante da realidade em Maria. Ela, arca viva da aliança, tem um destino de glória extraordinária, porque está tão intimamente unida ao Filho, que acolheu na fé e gerou na carne, a ponto de compartilhar plenamente a sua glória celestial. É quanto nos sugerem as palavras que ouvimos: «Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida… Ela deu à luz um Filho, um Menino, Aquele que deve reger todas as nações…» (12, 1-2.5). A grandeza de Maria, Mãe de Deus, cheia de graça, plenamente dócil à acção do Espírito Santo, já vive no Céu de Deus com toda si mesma, alma e corpo. São João Damasceno, referindo-se a este mistério numa sua famosa Homilia, afirma: «Hoje, a santa e única Virgem é conduzida para o templo celeste… Hoje, a arca sagrada e animada do Deus Vivo, [a arca] que trouxe no seu seio o próprio Artífice, descansa no templo do Senhor, não construído por mãos humanas» (Homilia ii sobre a Dormição, 2, PG 96, 723), e continua: «Era necessário que Aquela que tinha hospedado no seu ventro o Logos divino, se transferisse para os tabernáculos do seu Filho... Era preciso que a Esposa escolhida pelo Pai, habitasse no quarto nupcial do Céu» (Ibid.,14, PG 96, 742). Hoje, a Igreja canta o amor imenso de Deus por esta sua criatura: escolheu-a como verdadeira «arca da aliança», como Aquela que continua a gerar e a oferecer Cristo Salvador à humanidade, como Aquela que no Céu compartilha a plenitude da glória e goza da mesma felicidade de Deus e, ao mesmo tempo, convida-nos a tornar-nos, também a nós do nosso modo modesto, «arca» em que está presente a Palavra de Deus, que é transformada e vivificada pela sua presença, lugar da presença de Deus, a fim de que os homens possam encontrar nos outros homens a proximidade de Deus e, desta forma, viver em comunhão com Deus e conhecer a realidade do Céu.

O Evangelho de Lucas que acabamos de ouvir (cf. Lc 1, 39-56), mostra-nos esta arca viva, que é Maria, em movimento: deixando a sua casa de Nazaré, Maria põe-se em viagem rumo à montanha, para ir às pressas a uma cidade de Judá e chegar à casa de Zacarias e Isabel. Parece-me importante ressaltar a expressão «às pressas»: as coisas de Deus merecem pressa, aliás, as únicas coisas do mundo que merecem pressa são precisamente aquelas de Deus, que têm a mesma urgência para a nossa vida. Então Maria entra nesta casa de Zacarias e Isabel, mas não entra sozinha. Entra, levando no seu ventre o Filho, que é Deus feito homem. Sem dúvida, estavam à espera dela e da sua ajuda naquela casa, mas o evangelista orienta-nos a compreender que esta expectativa remete para outra, mais profunda. Zacarias, Isabel e o pequeno João Baptista são, efectivamente, o símbolo de todos os justos de Israel, cujo coração, rico de esperança, espera a vinda do Messias Salvador. E é o Espírito Santo que abre os olhos de Isabel e que a leva a reconhecer em Maria a verdadeira arca da aliança, a Mãe de Deus, que vem para a visitar. E assim, a idosa parente recebe-a, dizendo «em voz alta»: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?» (Lc 1, 42-43). E é o próprio Espírito Santo que, diante daquela que traz em si Deus que se fez homem, abre o coração de João Baptista no seio de Isabel. Isabel exclama: « Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio» (v. 44). Aqui, o evangelista Lucas recorre ao termo «skirtan», ou seja, «saltitar», o mesmo vocábulo que encontramos numa das antigas traduções gregas do Antigo Testamento para descrever a dança do rei David diante da arca sagrada, que finalmente voltou para a pátria (cf. 2 Sm 6, 16). João Baptista, no ventre da mãe, dança diante da arca da Aliança, como David; e reconhece deste modo: Maria é a nova arca da aliança, perante a qual o coração exulta de alegria, a Mãe de Deus presente no mundo, que não conserva para si esta presença divina, mas oferece-a compartilhando a graça de Deus. E assim — como recita a oração — Maria realmente é «causa nostrae laetitiae», a «arca» em que realmente o Salvador está presente entre nós.

Caros irmãos! Estamos a falar de Maria, mas num certo sentido estamos a falar também de nós, de cada um de nós: também nós somos destinatários daquele amor imenso que Deus nos reservou — sem dúvida, de uma maneira absolutamente singular e irrepetível — a Maria. Nesta solenidade da Assunção, olhemos para Maria: Ela abre-nos à esperança, a um futuro cheio de alegria e ensina-nos o caminho para o alcançar: acolher o seu Filho na fé; nunca perder a amizade com Ele, mas deixar-nos iluminar e orientar pela sua palavra; segui-lo todos os dias, mesmo nos momentos em que sentimos que as nossas cruzes se tornam pesadas. Maria, a arca da aliança que se encontra no santuário do Céu, indica-nos com clareza resplandecente que estamos a caminho rumo à nossa verdadeira Casa, a comunhão de alegria e de paz com Deus. Amém!

Fonte: Vatican

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Inscrição do peregrino - JMJ Rio 2013

A inscrição é a porta de entrada para o peregrino na JMJ Rio2013.

É por meio da inscrição que o jovem passa a fazer parte oficialmente da JMJ Rio2013. Por ela poderemos conhecer, acolher e melhor atender as necessidades do peregrino (hospedagem, alimentação, transporte...). Por isso a importância de se inscrever com antecedência.








segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Campanha AIS: Meio Milhão de Catecismos para os Jovens

Mesmo sem saber, a nova geração tem sede da vida. Precisamos apresentar a essa geração a fonte que não seca.



A Ajuda à Igreja que Sofre doará, com a ajuda de seus benfeitores, meio milhão de Catecismos YouCat para os jovens. O pedido dos livros já foi feito. Mais uma vez essa Obra de Amor conta apenas com a caridade dos corações corajosos que se arriscam a doar um pouco do que tem para enraizar Deus nos jovens brasileiros.

Por que a Ajuda à Igreja que Sofre arrisca tanto? A AIS não aprova seus projetos baseada no que ela pode fazer, ela aprova seus projetos baseada no que ela tem que fazer. Podemos fazer tudo pelo poder de Deus! Ele nos dá a força!

Se cada um fizer a sua parte, muito em breve meio milhão de jovens receberão o Catecismo YouCat, aprenderão mais sobre a sua fé e se apaixonarão por Cristo e pela Igreja. E o mais importante desta campanha: esses quinhentos mil jovens brasileiros serão fermento entre tantos outros jovens da nossa nação. Vamos reconquistar o Brasil para Cristo?!

Você pode contribuir:


Fonte: AIS Brasil

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Santa Tereza Benedita da Cruz (Edith Stein)


Edith Stein nasceu na cidade de Breslau, Alemanha, no dia 12 de outubro de 1891, em uma próspera família de judeus. Aos dois anos, ficou órfã do pai. A mãe e os irmãos mantiveram a situação financeira estável e a educaram dentro da religião judaica. 

Desde menina, Edith era brilhante nos estudos e mostrou forte determinação, caráter inabalável e muita obstinação. Na adolescência, viveu uma crise: abandonou a escola, as práticas religiosas e a crença consciente em Deus. Depois, terminou os estudos com graduação máxima, recebendo o título de doutora em fenomenologia, em 1916. A Alemanha só concedeu esse título a doze mulheres na última metade do século XX. 

Em 1921, ela leu a autobiografia de santa Teresa d'Ávila. Tocada pela luz da fé, converteu-se e foi batizada em 1922. Mas a mãe e os irmãos nunca compreenderam ou aceitaram sua adesão ao catolicismo. A exceção foi sua irmã Rosa, que se converteu e foi batizada no seio da Igreja, após a morte da mãe, em 1936. 

Edith Stein começou a servir a Deus com seus talentos acadêmicos. Lecionou numa escola dominicana, foi conferencista em instituições católicas e finalizou como catedrática numa universidade alemã. Em 1933, chegavam ao poder: Hitler e o partido nazista. Todos os professores não-arianos foram demitidos. Por recusar-se a sair do país, os superiores da Ordem do Carmelo a aceitaram como noviça. Em 1934, tomou o hábito das carmelitas e o nome religioso de Teresa Benedita da Cruz. A sua família não compareceu à cerimônia. 

Quatro anos depois, realizou sua profissão solene e perpétua, recebendo o definitivo hábito marrom das carmelitas. A perseguição nazista aos judeus alemães intensificou-se e Edith foi transferida para o Carmelo de Echt, na Holanda. Um ano depois, sua irmã Rosa foi juntar-se a ela nesse Carmelo holandês, pois desejava seguir a vida religiosa. Foi aceita no convento, mas permaneceu como irmã leiga carmelita, não podendo professar os votos religiosos. O momento era desfavorável aos judeus, mesmo para os convertidos cristãos. 

A Segunda Guerra Mundial começou e a expansão nazista alastrou-se pela Europa e pelo mundo. A Holanda foi invadida e anexada ao Reich Alemão em 1941. A família de Edith Stein dispersou-se, alguns emigraram e outros desapareceram nos campos de concentração. Os superiores do Carmelo de Echt tentaram transferir Edith e Rosa para um outro, na Suíça, mas as autoridades civis de lá não facilitaram e a burocracia arrastou-se indefinidamente. 

Em julho de 1942, publicamente, os bispos holandeses emitiram sua posição formal contra os nazistas e em favor dos judeus. Hitler considerou uma agressão da Igreja Católica local e revidou. Em agosto, dois oficiais nazistas levaram Edith e sua irmã do Carmelo de Echt. No mesmo dia, outros duzentos e quarenta e dois judeus católicos foram deportados para os campos de concentração, como represália do regime nazista à mensagem dos bispos holandeses. As duas irmãs foram levadas em um comboio de carga, junto com outras centenas de judeus e dezenas de convertidos, ao norte da Holanda, para o campo de Westerbork. Lá, Edith Stein, ou a "freira alemã", como a identificaram os sobreviventes, diferenciou-se muito dos outros prisioneiros que se entregaram ao desespero, lamentações ou prostração total. Ela procurava consolar os mais aflitos, levantar o ânimo dos abatidos e cuidar, do melhor modo possível, das crianças. Assim ela viveu alguns dias, suportando com doçura, paciência e conformidade a vontade de Deus, seu intenso sofrimento, e dos demais. 

No dia 7 de agosto de 1942, Edith Stein, Rosa e centenas de homens, mulheres e crianças foram de trem para o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau. Dois dias depois, em 9 de agosto, foram mortas na câmara de gás e tiveram seus corpos queimados. 

A irmã carmelita Teresa Benedita da Cruz foi canonizada em Roma, em 1998, pelo papa João Paulo II, que indicou sua festa para o dia de sua morte. A solenidade contou com a presença de personalidades ilustres, civis e religiosas, da Alemanha e da Holanda, além de alguns sobreviventes dos campos de concentração que a conheceram e de vários membros da família Stein. No ano seguinte, o mesmo sumo pontífice declarou santa Edith Stein, "co-Padroeira da Europa", junto com santa Brígida e santa Catarina de Sena.

Fonte: Paulinas

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

OS NOVE MODOS DE ORAR DE SÃO DOMINGOS



PAPA BENTO XVI
AUDIÊNCIA GERAL
Castel Gandolfo
Quarta-feira, 8 de Agosto de 2012

Hoje a Igreja celebra a memória de são Domingos de Gusmão, Sacerdote e Fundador da Ordem dos Pregadores, chamados Dominicanos. São Domingos foi um homem de oração. Apaixonado por Deus, só teve aspiração pela salvação das almas, em particular daquelas que caíam nas redes das heresias da sua época; imitador de Cristo, encarnou radicalmente os três conselhos evangélicos, unindo à proclamação da Palavra o testemunho de uma vida pobre; sob a guia do Espírito Santo, progrediu no caminho da perfeição cristã. Em todos os momentos, a oração foi a força que renovou e tornou sempre fecundas as suas obras apostólicas. 

Não deixou escritos sobre a oração, mas a tradição dominicana reuniu e transmitiu a sua experiência viva numa obra intitulada: Os nove modos de rezar de são Domingos. Este livro foi composto entre 1260 e 1288 por um padre dominicano; ele ajuda-nos a entender algo da vida interior do Santo e também a nós, com todas as diferenças, a aprender como rezar. 

Portanto, são nove os modos de rezar segundo são Domingos e cada um deles, que recitava sempre diante de Jesus Crucificado, exprime uma atitude corporal e uma espiritual que, intimamente compenetradas, favorecem o recolhimento e o fervor. Os sete primeiros modos seguem uma linha ascendente, como passos de um caminho, rumo à comunhão com Deus, com a Trindade: são Domingos reza em pé; inclinado para expressar a humildade; estendido no chão para pedir perdão pelos próprios pecados; de joelhos, fazendo penitência para participar nos sofrimentos do Senhor; com os braços abertos fixando o Crucificado a fim de contemplar o Amor Supremo; com os olhos dirigidos ao céu, sentindo-se atraído pelo mundo de Deus. Portanto, são três formas: em pé, de joelhos, estendido no chão; mas sempre com o olhar dirigido para o Senhor Crucificado. Os dois últimos modos, sobre os quais gostaria de refletir brevemente, correspondem a duas práticas de piedade habitualmente vividas pelo Santo. Antes de tudo, a meditação pessoal, na qual a oração adquire uma dimensão ainda mais íntima, fervorosa e reconfortante. No final da recitação da Liturgia das Horas, e depois da celebração da Missa, são Domingos prolongava o diálogo com Deus, sem por limites ao tempo. Sentado tranquilamente, recolhia-se em atitude de escuta, lendo um livro ou fixando o Crucificado. Vivia estes momentos de relação com Deus de modo tão intenso que até exteriormente se podiam notar as suas reações de alegria ou de pranto. Portanto, assimilou em si, meditando, as realidades da fé. As testemunhas narram que, às vezes, entrava numa espécie de êxtase, com o rosto transfigurado, mas imediatamente depois retomava humildemente as suas atividades diárias revigorado pela força que vem do Alto. Também a oração durante as viagens de um convento para outro; recitava as Laudes, a Hora Média, as Vésperas com os companheiros e, atravessando os vales ou as colinas, contemplava a beleza da criação. Então, do seu coração brotava um cântico de louvor e de ação de graças a Deus por tantos dons, sobretudo pela maior maravilha: a redenção realizada por Cristo. 

Queridos amigos, São Domingos recorda-nos que na origem do testemunho da fé, que cada cristão deve dar em família, no trabalho, no compromisso social e também nos momentos de distensão, estão a oração, o contacto pessoal com Deus; só esta relação real com Deus nos dá a força para viver intensamente cada evento, em particular os momentos mais difíceis. Este Santo recorda-nos também a importância das atitudes exteriores na nossa oração. O ajoelhar-se, o ficar em pé diante do Senhor, o olhar fixado no Crucificado, o deter-se e recolher-se em silêncio não são secundários, mas ajudam-nos a colocar-nos interiormente, com todo o nosso ser, em relação com Deus. Gostaria de lembrar mais uma vez a necessidade para a nossa vida espiritual de encontrar diariamente momentos para rezar com tranquilidade; devemos procurar este tempo, especialmente nas férias, deixar um espaço para falar com Deus. Será um modo também para ajudar quem nos está próximo a entrar no raio luminoso da presença de Deus, que traz a paz e o amor dos quais todos temos necessidade. Obrigado!

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OS NOVE MODOS DE ORAR DE SÃO DOMINGOS
fr. João da Cruz, op (séc. XVI), Crónica de la Orden de Predicadores (Lisboa, 1567)


Primeiro modo

Muitas vezes, segundo alguns religiosos que o viram, colocava-se diante de um altar, inclinando não só a cabeça mas meio corpo, com tanto respeito como se estivesse na presença do Senhor, que o altar representava na sua alma. Entendendo ainda desta humilhação corporal o que diz Salomão: “a oração do que se humilha penetra os céus”, e trazendo à memória a humildade do Filho de Deus, por nós crucificado.


Segundo modo

Outras vezes deitava todo o corpo por terra, rebaixando-se e depreciando-se, como se não fosse digno de estar de pé. Imitando o exemplo dos santos Reis que assim prostrados adoraram o Menino Jesus. E lembrando-se que o próprio Senhor, perto da sua paixão, com a face por terra, rezou ao Pai no horto. E então, dizia as palavras daquele humilde publicano, que não ousava levantar os olhos ao alto: “Deus, tem misericórdia de mim, pecador”, e o que o profeta David escreve: “A minha alma está prostrada no pó da terra, e o meu coração e as minhas entranhas coladas à terra”.

Terceiro modo

Outras vezes fazia oração em pé, levantado e direito, em especial quando se disciplinava. E então dizia: “A vossa disciplina, Senhor, me castigou, e a vossa disciplina me ensinará”.







Quarto modo

Outras vezes, rezava de joelhos e dizia as palavras do leproso que, nessa posição, pediu a cura ao nosso Redentor: “Senhor, se quiserdes podeis curar-me”. E as que disse Santo Estêvão, quando, enquanto lhe atiravam pedras se colocou de joelhos e disse: “Senhor, recebe o meu espírito”. E, depois disto, clamava tão alto, que os frades ouviam. E dizia fortemente o mesmo que David: “A ti, Senhor eu clamo, não te cales nem deixes de me responder”. E dito isto, descansava assim, de joelhos. E já não se ouvia a sua voz, mas dentro do seu coração falava para si, movendo os lábios, como a mãe de Samuel. E algumas vezes, levantava os olhos e o rosto, como se quisesse subir ao céu, e subitamente se alegrava e limpava as suas lágrimas que lhe corriam dos olhos. Outras vezes levantava-se e voltava a ajoelhar-se, e isto repetia muitas vezes.

Quinto modo

Outras vezes estava em pé e direito, diante do altar, sem se encostar a alguma coisa. E tinha as suas mãos abertas, diante do peito, somo se estivesse lendo algum livro com grande atenção e reverência, e parecia que dentro de si meditava as palavras de Deus e que entendia os mistérios da divina escritura. E algumas vezes tinha os ouvidos atentos, como para ouvir e entender o que lhe diziam, punha as mãos sobre os seus olhos e apertava-os fortemente. Outras vezes levantava as mãos até aos ombros, abertas como as coloca o sacerdote quando diz Missa.

Sexto modo

Outras vezes rezava em pé, de braços estendidos em modo de cruz, e algumas vezes via-se o seu corpo levantado da terra. E chorava fortemente, lembrando-se de quando o nosso Redentor esteve levantado na cruz, preso por três cravos, pedindo ao Pai por nós, com muitas lágrimas, como diz o Apóstolo. E dizia com David: “A ti, Senhor, eu clamo, durante o dia estendo a ti a minhas mãos”.


Sétimo modo

Outras vezes rezava em pé, com os braços estendidos ao alto e as mãos juntas acima da cabeça, como se fossem uma seta, e algumas vezes as abria como se estivesse a receber alguma coisa que lhe enviavam do alto. E dizia como o salmista: “Ouve o grito das minhas súplicas quando te invoco, quando ergo as minhas mãos para o teu santuário”. E então, segundo parecia aos frades, pedia e alcançava de Deus os favores e mercês para a sua Ordem. Mas não demorava muito neste modo de orar, que frequentemente se arrebatava e saía fora de si, mas logo voltava a si como se voltasse de novo ao mundo, ou como quem vinha de um longo caminho.

Oitavo modo

Outras vezes rezava desta maneira. Acabando de ler ou ouvir alguma santa lição, afastava-se para um lugar secreto e meditava no que tinha lido e escutado. E viam-no como se estivesse pregando e disputando com algum companheiro. Umas vezes como se estivesse irado consigo mesmo, outras, risonho e contente, outras, choroso; outras vezes, quieto e descansado, e então ouviam-no dizer o que o profeta dizia: “prestarei atenção ao que me diz o Senhor Deus”.
E era seu costume, antes da oração, ler alguma coisa santa e, acabando de ler, fechava o livro e prestava-lhe reverência, inclinando-se diante dele e beijava-o, sobretudo se eram os Evangelhos. E algumas vezes, acabando de ler, colocava a sua fronte sobre as suas mãos e cobria a cabeça com o escapulário.

Nono modo

Outras vezes rezava caminhando (como dissemos acima) e dizia para si ou ao companheiro o que escreve o profeta Oseias: “vou levá-la a um lugar deserto e falar-lhe ao coração”. E quando ficava sozinho adiantando-se ou ficando para trás, fazia muitas vezes sobre si o sinal da cruz, e mexia muitas vezes a mão, levantada diante do seu rosto, como quem sacode de si mosquitos ou quem enxota moscas.

Estas nove maneiras de orar usava o bem-aventurado Padre, quando e onde o encaminhava o Espírito Santo, como aqueles santos animais que viu o profeta Ezequiel. E quem duvida que admoestaria com poderosas razões aos seus frades a que fizessem o mesmo.

E como se diz da águia, que voa diante dos seus filhos para os incitar a que eles voem, assim o santo varão se coloca como exemplo aos seus súbditos para que rezassem, e para que na sua Ordem perseverasse este santo exercício importantíssimo para conservação de toda a virtude.

Tradução: fr. Filipe, op
Revisão: Maria Torres


Fontes: