segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Festum Omnium Sanctorum (Festa de Todos os Santos)

"Vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé diante do Trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão." (Apocalipse 7,9)



A Igreja celebra no dia 1º de novemmbro a festa de Todos os Santos, em honra aos santos e mártires, os reconhecidos oficialmente pela Igreja e tantos outros desconhecidos, mas que certamente estão na glória de Deus. Essa festa é seguida do dia em que se celebra os fiéis defuntos (2 de novembro, dia de finados), ou seja, os santos que ainda não estão na perfeita alegria pois pagam à justiça divina. Assim, no dia de Todos os Santos pedimos que os Santos rezem por nós, e no dia de Finados, nós é que devemos rezar pelas almas já santas, mas que padecem no purgatório.

Inicialmente nas datas de aniversário da morte dos cristãos martirizados se realizavam orações, missas e vigílias, habitualmente no mesmo local ou nas imediações de onde foram mortos, como acontecia em redor do Coliseu de Roma. A partir da perseguição de Diocleciano, o número de mártires era tão grande que se tornou impossível designar um dia do ano separado para cada um. O primeiro registro (séc. IV) de um dia comum para a celebração de todos eles aconteceu em Antioquia, no domingo seguinte ao de Pentecostes, data ainda hoje preservada nas Igrejas orientais.
A festa de Todos os Santos ocorreu pela primeira vez em Roma, no dia 13 de maio de 609, quando o papa Bonifácio IV transformou o Panteão, templo dedicado a todos os deuses pagãos do Olimpo, em uma Igreja em honra à Virgem Maria e a Todos os Santos. Segundo historiadores, a mudança do dia começou com o abade inglês Alcuíno de York, professor de Carlos Magno, perto do ano 800. Os pagãos celtas entendiam o dia 1º de novembro como um dia de comemoração que anunciava o início do inverno. Quando eles se convertiam, queriam continuar com a tradição da festa. Assim, a veneração de Todos os Santos lembrando os cristãos que morreram em estado de graça foi instituída no dia 1º de novembro.
O papa Gregório IV, em 835, fixou e estendeu para toda a Igreja a comemoração em 1º de novembro. Oficialmente, a mudança do dia da festa de Todos os Santos para 1º de novembro, só foi decretada em 1475, pelo do papa Xisto IV (daí o motivo pelo qual há diferença da data no calendários romano e ortodoxo). Mas o importante é que a solenidade de Todos os Santos enche de sentido a homenagem de todos os fiéis deuntos, que ocorre no dia seguinte.
O dia dedicado a "todos os santos" pretende celebrar conjuntamente todos os cristãos que se encontram na glória de Deus, tenham ou não sido canonizados (processo regularizado, iniciado no séc. V, para o apuramento da heroicidade de vida cristã de alguém aclamado pelo povo e através do qual pode ser chamado universalmente de beato ou santo, e pelo qual se institui um dia e o tipo e lugar para as celebrações, normalmente com referência especial na missa).

Nesta celebração, o povo católico é conduzido à contemplação do que, por exemplo, dizia o Cardeal Beato John Henry Newman: "não somos simplesmente pessoas imperfeitas em necessidade de melhoramentos, mas sim rebeldes pecadores que devem render-se, aceitando a vida com Deus, e realizar isso é a santidade aos olhos de Deus".
Em sua homilia, o Padre Paulo Ricardo nos diz: "Ao proclamar o evangelho da felicidade (bem-aventuranças) a Igreja nos recorda que santidade e felicidade coincidem. Nós, que ainda lutamos aqui na terra, somos ajudados pelos nossos irmãos e irmãs que já alcançaram a felicidade no céu. É o mistério da comunhão dos Santos."

Sobre os Santos, o catecismo da Igreja nos diz:

957. A comunhão com os santos. «Não é só por causa do seu exemplo que veneramos a memória dos bem-aventurados, mas ainda mais para que a união de toda a Igreja no Espírito aumente com o exercício da caridade fraterna. Pois, assim como a comunhão cristã entre os cristãos ainda peregrinos nos aproxima mais de Cristo, assim também a comunhão com os santos nos une a Cristo, de quem procedem, como de fonte e Cabeça, toda a graça e a própria vida do Povo de Deus».
 «A Cristo, nós O adoramos, porque Ele é o Filho de Deus; quanto aos mártires, nós os amamos como a discípulos e imitadores do Senhor; e isso é justo, por causa da sua devoção incomparável para com o seu Rei e Mestre. Assim nós possamos também ser seus companheiros e condiscípulos!».

1173. Quando a Igreja, no ciclo anual, faz memória dos mártires e dos outros santos, «proclama o mistério pascal» realizado naqueles homens e mulheres que «sofreram com Cristo e com Ele foram glorificados, propõe aos fiéis os seus exemplos, que a todos atraem ao Pai por Cristo, e implora, pelos seus méritos, os benefícios de Deus».

2013. «Os cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade». Todos são chamados à santidade: «Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito» (Mt 5, 48): «Para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida em que Cristo as dá, a fim de que [...] obedecendo em tudo à vontade do Pai, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do próximo. Assim crescerá em frutos abundantes a santidade do povo de Deus, como patentemente se manifesta na história da Igreja, com a vida de tantos santos».


"Para que louvar os santos, para que glorificá-los? Para que, enfim, esta solenidade? Que lhes importam as honras terrenas, a eles que, segundo a promessa do Filho, o mesmo Pai celeste glorifica? De que lhes servem nossos elogios? Os santos não precisam de nossas homenagens, nem lhes vale nossa devoção. Se veneramos os Santos, sem duvida nenhuma, o interesse é nosso, não deles. Eu por mim, confesso, ao recordar-me deles, sinto acender-se um desejo veemente.
Em primeiro lugar, o desejo que sua lembrança mais estimula e incita é o de gozarmos de sua tão amável companhia e de merecermos ser concidadãos e comensais dos espíritos bem-aventurados, de unir-nos ao grupo dos patriarcas, às fileiras dos profetas, ao senado dos apóstolos, ao numeroso exercito dos mártires, ao grêmio dos confessores, aos coros das virgens, de associar-nos, enfim, à comunhão de todos os santos e com todos nos alegrarmos. A assembleia dos primogênitos aguarda-nos e nós parecemos indiferentes! Os santos desejam-nos e não fazemos caso; os justos esperam-nos e esquivamo-nos.
Animemo-nos, enfim, irmãos. Ressuscitemos com Cristo. Busquemos as realidades celestes. Tenhamos gosto pelas coisas do alto. Desejemos aqueles que nos desejam. Apresemo-nos ao encontro dos que nos aguardam. Antecipemo-nos pelos votos do coração aos que nos esperam. Seja-nos um incentivo não só a companhia dos santos, mas também a sua felicidade. Cobicemos com fervoroso empenho também a glória daqueles cuja presença desejamos. Não é má esta ambição nem de nenhum modo é perigosa à paixão pela glória deles.
O segundo desejo que brota em nós pela comemoração dos santos consiste em que Cristo, nossa vida, tal como a eles, também apareça a nós e nós juntamente com ele apareçamos na glória. Enquanto isso não sucede, nossa Cabeça não como é, mas como se fez por nós, se nos apresenta. Isto é, não coroada de glória, mas como com os espinhos de nossos pecados. É uma vergonha fazer-se de membro regalado, sob uma cabeça coroada de espinhos. Por enquanto a púrpura não lhe é sinal de honra, mas de zombaria. Será sinal de honra quando Cristo vier e não mais se proclamará sua morte, e saberemos que nós estamos mortos com ele, e com ele escondida nossa vida. Aparecerá a Cabeça gloriosa e com ela refulgirão os membros glorificados, quando transformar nosso corpo humilhado, configurando-o à glória da Cabeça que é ele mesmo.
Com inteira e segura ambição cobicemos esta glória. Contudo para que nos seja lícito espera-la e aspirar a tão grande felicidade, cumpre-nos desejar com muito empenho a intercessão dos santos. Assim, aquilo que não podemos obter por nós mesmos, seja-nos dado por sua intercessão."
Dos sermões do abade São Bernardo (Séc. XII)


ORAÇÃO
Ó Deus, concedei-nos, pelas preces dos Santos, a quem destes perseverar na imitação de Cristo pobre e humilde, seguir a nossa vocação com fidelidade. E chegar àquela perfeição que nos propusestes em Vosso Filho, que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo. Amém.


Todos os Santos de Deus, rogai por nós!

Nenhum comentário:

Postar um comentário