domingo, 24 de julho de 2011

O tesouro do Reino...

Em duas parábolas, Jesus nos fala de duas pessoas que vendem “todos os seus bens”. Mas aquilo que inicialmente parecia um grande sacrifício revela-se no final um negócio vantajoso. Para os que não tiveram a experiência da fé, o cristianismo pode parecer um grande sacrifício. Mas para aqueles descobriram o tesouro do Amor eterno, sem mancha e sem ruga, com que Jesus nos amou, trata-se apenas de pagar um preço irrisório por um tesouro incalculável.
“Quem faz entrar Cristo, nada perde, nada absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nesta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só nesta amizade experimentamos o que é belo e o que liberta. Assim, eu gostaria com grande força e convicção, partindo da experiência de uma longa vida pessoal, de vos dizer hoje, queridos jovens: não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, ele dá tudo. Quem se doa por Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira. Amém” (Bento XVI, Homilia da Missa de início do Ministério Petrino do Bispo de Roma, 24 de Abril de 2005)



Olhe pra Cristo, autor da nossa fé
Ferido, humilhado, não abriu a boca
Homem de dores
Castigado, desprezado, abandonado

 Ele suportou a cruz
Sofreu por nossos pecados
Mas ressuscitou
Tudo passa pela cruz
A minha vida passa pela cruz

Tudo passa pela cruz
Meus pecados e tribulações
Os meus sonhos
A ressurreição
Passam pela tua cruz, Jesus
Tudo passa pela cruz
A minha vida passa pela cruz

Tudo passa pela cruz
A cura, a libertação
Das feridas do meu coração
Passam pela tua cruz, Jesus!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A Cruz e o Ícone da JMJ

A Cruz

cruz_jmjA Cruz da JMJ ficou conhecida por diversos nomes: Cruz do Ano Santo, Cruz do Jubileu, Cruz da JMJ, Cruz Peregrina, muitos a chamam de Cruz dos Jovens porque ela foi entregue pelo papa João Paulo II aos jovens para que a levassem por todo o mundo, a todos os lugares e a todo tempo.

A cruz de madeira de 3,8 metros foi construída e colocada como símbolo da fé católica, perto do altar principal na Basílica de São Pedro durante o Ano Santo da Redenção (Semana Santa de 1983 à Semana Santa de 1984). No final daquele ano, depois de fechar a Porta Santa, o Papa João Paulo II deu essa cruz como um símbolo do amor de Cristo pela humanidade. Quem a recebeu, em nome de toda a juventude foram os jovens do Centro Juvenil Internacional São Lourenço em Roma. Estas foram as palavras do Papa naquela ocasião:

“Meus queridos jovens, na conclusão do Ano Santo, eu confio a vocês o sinal deste Ano Jubilar: a Cruz de Cristo! Carreguem-na pelo mundo como um símbolo do amor de Cristo pela humanidade, e anunciem a todos que somente na morte e ressurreição de Cristo podemos encontrar a salvação e a redenção”. (Sua Santidade João Paulo II, Roma, 22 de abril de 2004).
Os jovens acolheram o desejo do Santo Padre. Levaram a cruz ao Centro São Lourenço, que se converteria em sua morada habitual durante os períodos em que ela não estivesse peregrinando pelo mundo.

Desde 1984, a Cruz da JMJ peregrinou pelo mundo, através da Europa, além da Cortina de Ferro, e para locais das Américas, Ásia, África e agora na Austrália, estando presente em cada celebração internacional da Jornada Mundial da Juventude. Em 1994 a Cruz começou um compromisso que, desde então, se tornou uma tradição: sua jornada anual pelas dioceses do pais sede de cada JMJ internacional, como um meio de preparação espiritual para o grande evento.

O Ícone de Nossa Senhora

icone_jmjEm 2003, o Papa João Paulo II deu aos jovens um segundo símbolo de fé para ser levado pelo mundo, acompanhando a Cruz da JMJ: o Ícone de Nossa Senhora, “Salus Populi Romani”, uma cópia contemporânea de um antigo e sagrado ícone encontrado na primeira e maior basílica para Maria a Mãe de Deus, no ocidente, Santa Maria Maior.

“Hoje eu confio a vocês... o Ícone de Maria. De agora em diante ele vai acompanhar as Jornadas Mundiais da Juventude, junto com a Cruz. Contemplem a sua Mãe! Ele será um sinal da presença materna de Maria próxima aos jovens que são chamados, como o Apóstolo João, a acolhe-la em suas vidas” (Roma, 18ª Jornada Mundial da Juventude, 2003)

Papa Bento XVI continua o legado

icone_jmj1O Papa Bento XVI, continuando o legado de seu predecessor, falou na cerimônia de entrega da Cruz e do Ícone da JMJ de um grupo de jovens alemães para uma delegação de jovens australianos no Domingo de Ramos de 2006. Então enfatizou porque o Ícone de Maria pertence à peregrinação da Cruz da JMJ. 
“Nossa Senhora esteve presente no cenáculo com os Apóstolos quando eles estavam esperando por Pentecostes. Que ela seja vossa mãe e guia. Que ela vos ensine a receber a palavra de Deus, a valoriza-la e medita-la em seu coração (cf. Lc 2,19) como ela fez com sua vida. Que ela possa encorajar-vos a dizer o vosso “sim” ao Senhor ao viver “a obediência da fé”. Que ela possa ajudar-vos a permanecer fortes na fé, constantes na esperança, perseverantes na caridade, sempre atentos à palavra de Deus”.
Ao observarmos Maria no Ícone carregando seu Filho, ela nos ensina como levá-lo para o mundo.Milhões de jovens nos últimos 20 anos participaram das Jornadas Mundiais da Juventude. Centenas de milhares mais participaram da graça do evento pelo seu encontro com a Cruz e o Ícone da JMJ. Esses símbolos são apresentados ao mundo de forma mais contundente pelos jovens que os levam não por alguns momentos ou horas, mas pelo exemplo de suas vidas cristãs diariamente. Você é convidado a fazer o mesmo!

A Cruz e o ícone da Virgem Maria acompanham os jovens em todas as Jornadas


Fonte: JMJ Brasil

sábado, 16 de julho de 2011

Nossa Senhora do Carmo

Data est ei decor Carmeli


Ao olharmos para a história da Igreja encontramos uma linda página marcada pelos homens de Deus, mas também pela dor, fervor e amor à Virgem Mãe de Deus: é a história da Ordem dos Carmelitas, da qual testemunha o cardeal Piazza: "O Carmo existe para Maria e Maria é tudo para o Carmelo, na sua origem e na sua história, na sua vida de lutas e de triunfos, na sua vida interior e espiritual".

Carmelo (em hebraico, "carmo" significa vinha; e "elo" significa senhor; portanto, "Vinha do Senhor"): este nome nos aponta para a famosa montanha que fica na Palestina, donde o profeta Elias e o sucessor Elizeu fizeram história com Deus e com Nossa Senhora, que foi pré-figurada pelo primeiro numa pequena nuvem (cf. I Rs 18,20-45). Estes profetas foram "participantes" da Obra Carmelita, que só vingou devido à intervenção de Maria, pois a parte dos monges do Carmelo que sobreviveram (século XII) da perseguição dos muçulmanos, chegaram fugidos na Europa e elegeram São Simão Stock como seu superior geral; este, por sua vez, estava no dia 16 de julho intercedendo com o Terço, quando Nossa Senhora apareceu com um escapulário na mão e disse-lhe: "Recebe, meu filho, este escapulário da tua Ordem, que será o penhor do privilégio que eu alcancei para ti e para todos os filhos do Carmo. Todo o que morrer com este escapulário será preservado do fogo eterno".

Vários Papas promoveram o uso do escapulário e Pio XII chegou a escrever: "Devemos colocar em primeiro lugar a devoção do escapulário de Nossa Senhora do Carmo - e ainda - escapulário não é 'carta-branca' para pecar; é uma 'lembrança' para viver de maneira cristã, e assim, alcançar a graça duma boa morte". Neste dia de Nossa Senhora do Carmo, não há como não falar da história dos Carmelitas e do escapulário, pois onde estão os filhos aí está a amorosa Mãe.



O Monte Carmelo

No centro-oeste de Israel, como um manto verde triangular, estende-se, por 20 km, uma cadeia montanhosa que, desde Meguido, afina-se em direção ao mar mediterrâneo, como que atraída por ele, levando consigo a terra que adentra o mar com uma ponta, formando aos seus pés uma baía. Naquele ponto há um terraço que termina, abrupto, com uma parede de pedra de 700 metros. A este promontório aludia-se quando se nomeava o Monte Carmelo, nome, porém, que refere-se a toda a cordilheira. O nome Karmel, derivado de Karem (vinha), pode significar campo, lugar fértil ou vinha em flores.

A singular beleza de seu verde, ressaltado no contraste com o azul do mar, inspirou o profetismo hebreu que nas suas poéticas previsões anunciavam, dentre os dons que farão resplandecer o povo escolhido, como a força, a glória e a riqueza (cf. Jr.15,9), a oferta de Deus ao seu povo, da beleza daquele Monte (cf. Is.35,2). Sua altura inspirou as românticas alusões sobre a esbelteza estonteante da mulher amada (cf. Ct.7,6).

Imaginá-lo ressequido e sem vida servia aos profetas para dar a imagem mais realista possível das desgraças vaticinadas sobre Israel, decorrentes de sua teimosa infidelidade (cf. Am.1,2 e Na. 1,4).

Neste cenário, como casa feita ao estilo do seu morador, rondava Elias. Seu rosto, curtido pelo fogo que lhe era companhia constante, mas ao mesmo tempo suavizado pela brisa em que via a face de Deus, parecia o reflexo das visões paradisíacas de certos ângulos do Monte, misturadas aos abismos e formações rochosas que diziam aos homens não ser ali lugar para atreverem-se em permanecer. 

Provavelmente o santo profeta e seus seguidores tinham aquele Monte como seu ponto de referência. Ali Elias desafiou os sacerdotes de Baal, orou para que cessasse a seca castigante que se abateu sobre Israel, saciou sua própria sede bebendo em suas fontes, alimentou-se das mãos generosas daquela natureza que lhe servia figos, romãs, melões e azeitonas, e abrigou-se em suas grutas. 

Para perpetuar a memória do profeta, a tradição judia, cristã e islâmica teve que escolher entre as grutas e as fontes existentes no Monte, uma que pudesse aglutinar os corações de seus veneradores. A gruta escolhida foi aquela existente abaixo do promontório, sob o farol de Haifa, a 50m do nível do mar. Uma sala de 8,70 metros de largura por 13,5 metros de comprimento, que os árabes denominam El Kader - o verdejante. Ocupada no século XII e XIII por cristãos ortodoxos gregos, foi transformada em mesquita, quando o local foi tomado pelos sultões. Quando os Carmelitas Descalços compraram a extensão do terraço, no século XVII, ocuparam a gruta por pouquíssimo tempo. A ira dos muçulmanos os obrigou a devolver-lhes a gruta para, que a ocupam até os dias de hoje.


Entre as fontes, qual foi a de Elias? A tradição apontou como sendo a fonte que está a 3 kilômetros ao sul do promontório, no vale Es-Siah - o vale do peregrino. Trata-se de uma fonte abundante e permanente. Foi aí, exatamente aí, junto à fonte de Elias, que alguns homens, dentre os tantos cristãos refugiados no Monte, acuados por Saladino, estabeleceram-se desprentensiosamente, quem sabe esperando dias melhores que os pudesse permitir caminhar de volta a Jerusalém. 


Junto à fonte


Wadk'ain es-Siah, é assim que os árabes chamam um dos vales do Monte Carmelo que se abre ao Mediterrêneo, no flanco oeste da montanha sagrada. Ao redor do vale, algumas grutas são convidativas aos latinos que têm seus sonhos povoados pela figura terrível de Saladino. É um bom lugar para ficar. Cinco, dez, quantos pararam por ali? Não se sabe. Com certeza um número pequeno de homens. Limpas as áreas ao redor de cada habitação, vão se insediando e adaptando o corpo e o espírito à nova paisagem.

A data também vacila, na falta de dados mais consistentes. Com certeza entre 1187, data da tomada de Jerusalém, e 1220, data do mais antigo testemunho da existência de eremitas naquela região. Na esteira dos itinerários e escritos históricos que apareciam naqueles tempos, Jacó de Vitry também escreveu sua Historia Orientalis. Em seu escrito fala da divisão da Terra Santa nos tempos das cruzadas, e menciona o fenômeno religioso daqueles dias. Ao relatar como muitos dos cruzados, desejosos de uma vida retirada, escolhiam diversos lugares santificados pela presença do Senhor para recolher-se neles, como o deserto onde Jesus jejuou durante 40 dias e o Jordão, fala de alguns que elegeram o Monte Carmelo onde - diz ele - “à imitação do santo varão e solitário profeta Elias.... junto ao manancial que chamam fonte de Elias, não longe do mosteiro da bem-aventurada Virgem Margarida, levavam uma vida solitária nas colméias das pequenas celas, fabricando o mel da doçura espiritual como abelhas do Senhor.” Este é o único testemunho ocular daqueles inícios, a nos alcançar.



Jacó, bispo de uma cidade francesa, teria ficado admirado pelo vai-vém dos homens naquele vale, saindo e entrando em suas celas, tal como as abelhas em suas habitações. A imagem nos dá a sensação de uma vida já mais ou menos organizada e lauras construídas e dispostas de tal modo a formar um retângulo. De fato, com o passar do tempo, os habitantes do vale do peregrino foram compactuando-se sob o chão da mesma aventura: peregrinos sem meta, soldados sem forças, restam-lhe ser eremitas que os transformam em peregrinos do Absoluto e combatentes da vida interior. Ao impor-se a provisoriedade do tempo - um passado inglório, um presente precário e um futuro incerto - eles buscam o nova Jerusalém, onde o Cordeiro brilha para sempre, sem templo, sem cidade, sem lamparinas. Que bons ventos, pensam, os conduziram até ali!


A lenda da descendência profética
O surgimento de uma lenda

Os esforços empreendidos pelos Carmelitas por impor-se e serem aceitos na vida eclesial européia incluíram várias frentes e batalhas, como vimos. No século XIV a intelectualidade carmelitana dedicou a maior parte de suas energias a comprovar a magnificência de sua origem. A todos quantos duvidavam de suas origens, diziam: somos do Monte! E aos que caçoavam-lhes pela falta de fundador, defendiam-se: - somos filhos de Elias, descendentes do profeta. A descendência profética  O primeiro texto oficial, chamado por isso de rubrica prima, incorporado às Constituições de 1281, as primeiras conhecidas e conservadas, expressa a convicção dos ermitães. “Declaramos - diz o texto - dando testemunho da verdade, que, desde o tempo em que os profetas Elias e Eliseu viveram devotamente no Monte Carmelo, os santos Padres, tanto do Antigo como do Novo Testamento, para quem a contemplação das coisas celestiais conduziu à solidão deste Monte, levaram ali, sem dúvida, vida exemplar, junto à fonte de Elias, em santa penitência, mantida sem interrupção e com proveito. A estes mesmos sucessores, Alberto, Patriarca de Jerusalém, em tempos de Inocêncio III, uniu em uma comunidade, escrevendo para eles uma Regra, que o papa Honório, sucessor do mesmo Inocêncio, e muitos de seus sucessores, aprovando esta Ordem, a confirmaram com muito louvor por meio de cartas. Na profissão desta Regra, nós, seus seguidores, servimos ao Senhor em diversas partes do mundo, até o dia de hoje”.

Esta Rubrica Prima é a semente de onde germinou, nos séculos futuros, frondosamente, até o excesso, as maravilhosas lendas elianas que deram à Ordem razões de sua existência e consistência ao seu espírito.

As lendas fazem parte da cultura literária de um povo. O cristianismo não foge à regra. Neste tipo de literatura o povo se diz, conta-se, resolve-se, e é conhecido por outros povos. E as lendas são um dos meios para que a palavra o personifique, camuflando, em fatos fantasiosos, a sua história e os seus valores. Pode-se dizer que a lenda é um modo divertido de expressar coisas sérias. O herói sujeito a dados históricos, reflete os anseios de um grupo ou de um povo; sua conduta depõe a favor de uma ação ou de uma idéia cujo objetivo é arrastar outros indivíduos para o mesmo caminho. A lenda, mais verdadeira do que a história, devido à quantidade de ensinamentos humanos que trazem, contraria freqüentemente a verdade psicológica: uma abóbora, por exemplo, transforma-se em carruagem; um rato, em cocheiro. O Carmelo, em seu contato com o judaísmo, nascido na idade média, sobrevivente na igreja através dos séculos, enriqueceu-se do que encontrou e foi criativo em acrescentar outros dados a antigas lendas ligadas ao profeta.

As lendas que têm como protagonista o Profeta Elias são um valiosíssimo patrimônio da Ordem, riqueza de sua história e da progressiva consciência de si mesma. Elas contém também verdades imbutidas a respeito das pessoas, da cultura, do mundo e da fé de quem as cultivou, além de, por serem lendas, oferecerem elementos de espiritualidade universais, em que gerações podem se espelhar.

Desprezá-las, movidos pela influência de um empobrecedor e primitivo espírito cientificista da modernidade, é privar-se de uma grande riqueza do tesouro mesmo da Ordem, tão rico quanto só as intuições podem ser.
Os carmelitas, como filhos do profeta, recontam as lendas judaicas e as recriam, acabando elas por fundamentarem uma opinião sobre as suas origens, defendidas e cridas como verdade histórica até algum tempo atrás. Segundo esta opinião a Ordem foi fundada por ninguém menos que o grande e celebrado Profeta. Desde quando ele formou em torno de si um grupo de profetas que o seguiam, a Ordem Carmelita, nascida como uma escola de profetas, existiu sem conhecer interrupção.

Visto assim, a Ordem teria passado por três períodos em sua história. O primeiro, o profético, pertencente ao tempo do Antigo Testamento. O segundo, o período grego, desde Jesus, que os profetas do Monte reconhecem e o seguem, até a primeira metade do século XII. O terceiro e último período, o latino, vai do século XII em diante.

A estória afirma também sobre a existência de três regras diversas: a de João XLIV, Patriarca de Jerusalém, dada ao redor do ano 410, intitulada Instituição dos primeiros monges; a de Aymérico de Limoges, Patriarca de Antioquia, cujo texto é na verdade uma tradução para o latim da regra de João, com alguma alteração, e dada em meados do século XII, e a de Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém, promulgada entre 1209 e 1214.

A mais antiga obra escrita a tratar disto é o Tratactus de Instituitione et peculiaribus religiosorum carmelitarum (1370-1380) do catalão Filipe Ribot. O tratado traz a obra atribuída a João XLIV e a Espítola de Cirilo ou de processu Ordinis et varris eius regulis ad Eusebium Priorem Montis Neroi.

A De instituione primorum monachorum, atribuída a João Nipote Silvano, bispo XLIV de Jerusalém, que, antes da nomeação à sede patriarcal, teria sido monge no Monte Carmelo, e trazida à tona por Filipe Ribot, foi o principal texto de que se serviam os religiosos carmelitas para a leitura espiritual e guia ascético. Desde sua publicação foi tida como a regra existente até o aparecimento do texto de Alberto de Jerusalém. Análises textuais nos dão conta de que são fruto do próprio século em que apareceu, o século XIV e, numa hipótese provável, fruto do punho do próprio Ribot.

A obra propõe Elias como fundador da Ordem, interpretando alegoricamente a passagem do livro de Re, 17,2ss, exemplo de pobreza, vida de abnegação, mortificação, solidão e continência, homem amoroso para com Deus e com o próximo, eremita singular, pai da vida monástica.

A obra trata também dos sucessores de Elias; dos lugares que ocuparam os ermitãos nas diversas épocas; de Eliseu, sucessor do Profeta; da conversão ao cristianismo dos filhos dos Profetas; do culto que tributavam à Santíssima Virgem, do hábito e seu significado espiritual.

Cirilo é o personagem que, segundo a tradição da Ordem, foi o sucessor de Brocardo no priorado do Monte Carmelo. Sua epístola, publicada no tratado de Filipe Ribot, traz um resumo da história da Ordem em cinco pequenos capítulos, seguidos dos textos das Regras de João, a sua tradução para o latim, feita por Aymerico, e a de Alberto. 

Elias, o pai 
A crença na origem eliana da Ordem gerou uma série de escritos no século XIV sobre a figura do Profeta. O desenvolvimento do tema eliano, provocado pelas circunstâncias, servirá para a Ordem instalada na Europa, longe de suas raízes, estabelecer bases que gerem fidelidade aos de dentro da Ordem, e identidade que gere confiança nos de fora. Neste reencontro com o Profeta, a Ordem firma seu ideal de comprometer-se na busca do rosto de Deus e de servi-Lo com puritas cordis.


Elias, cuja presença entre os eremitas do Monte era natural, lembrado veladamente na Regra de Alberto pela referência que faz "à fonte", sem ser mencionado, é, no século XIV, exaltado e defendido como o fundador do Carmelo e da Vida Religiosa. O Carmelo seria, então, dentre as Ordens, a mais antiga. Desta afirmação desenvolve-se um ardente debate sobre a hereditariedade da Ordem ou a "sucessão eliana". Alguns autores chegam a elencar todos os sucessores de Elias até o pe. Geral de então. Outros, dando prosseguimento à lógica, sem escrúpulos, afirmavam que João Batista e Maria freqüentaram o Monte e conheceram a nossa Ordem. Uma das histórias mais impressionantes é de um santo homem, contemporâneo da Virgem Maria e pretendente a casar-se com ela. Vendo que ela havia escolhido José, ele resolve abraçar o celibato e pede admissão entre os profetas do Monte. Quando Maria e José, como os judeus piedosos da Galiléia, levam o Menino Jesus para ser abençoado e instruído no Carmelo pelos eremitas, é ele que os recebe à porta.

Quanto mais argumentos surgiam, mais discussões provocavam. Grande parte dos escritos do século XIV são de apologia doméstica, que visava defender o caráter eliano da Ordem.

Um ponto importante foi a tentativa de se aproximar a Virgem Maria do Profeta. De extrema relevância foi a interpretação dada ao texto sobre a nuvenzinha, de 1Re.18,45. O primeiro a trazer esta interpretação foi João Baconthorp. Segundo esta visão o Profeta Elias já rendia o culto à Virgem, de forma a prevê-la naquela nuvem, pequena, insignificante, despercebida, mas que, pela graça de Deus, transformar-se-ia em uma tempestade que fez chover para todos o Divino Salvador.

As lendas elianas não se restringiram à finalidade de explicar a origem da Ordem. O Carmelo foi um meio importante para o resgate e a publicidade de lendas já famosas entre os judeus.

As lendas elianas eram abundantes no mundo judaico. Escritos extra-bíblicos estão cheios destas estórias, muitos ligados à sua arrebatação aos céus, à sua constante aparição na terra, à sua figura simpática de benfeitor dos pobres e amigo dos humildes, como socorredor e libertador dos fiéis em toda situação extrema, como amigo dos sábios e estudiosos da Torah, devido o seu zelo por ela, e finalmente como precursor do Messias. Especialmente o Midrash acentua, mais que o vingador zeloso que Elias demonstra ser em determinado momento do livro dos Reis, o profeta terno, doce, compreensivo, amigo dos necessitados, dos aflitos, dos que correm perigo. Coragem e compaixão são as qualidades do profeta ressaltados nos contos judaicos. Neles o homem de Deus aparece milagrosamente, assumindo os mais incríveis disfarces para salvar alguém, para transmitir ensinamentos ou para ajudar quem precisa. Elias tornou-se para o povo de Israel o símbolo da redenção futura, um homem que infunde esperança.

Em suas andanças pelo mundo o profeta age na vida das pessoas e as ajuda em seus caminhos. Conta-se que certo dia o profeta permitiu ao Rabi Joshua ben Levi acompanhá-lo, com uma condição: não importava o quão estranhas pudessem parecer as ações do profeta, o Rabi não poderia pedir-lhe explicações. No momento em que isso acontecesse, os dois teriam que se separar.

O primeiro lugar no qual pararam foi em frente à uma modesta casa onde moravam um homem pobre e sua esposa. O único bem que possuíam era uma vaca que lhes dava o leite para sua sobrevivência. Ao ver os dois viajantes, o casal os convidou para seu lar.

Ofereceram comida e bebida, além de um lugar confortável para dormir. No dia seguinte, após agradecer pela hospitalidade e se despedir do casal, o profeta rezou com fervor pedindo aos Céus a morte da vaca que possuíam. Antes mesmo que o profeta e o rabino saíssem da casa, o animal morreu. Rabi Joshua, chocado pela desgraça que havia se abatido sobre o hospitaleiro e bondoso casal, pensou: “Será que esta é a recompensa pela bondade e gentileza que este pobre homem teve conosco?” Mas não ousava interpelar o profeta, pois temia colocar um fim à viagem.


À noite chegaram à casa de um homem muito rico. Apesar de permitir que os dois passassem a noite sob seu teto, ele não os recebeu nem ofereceu comida ou bebida. Antes que lá chegassem o profeta e o rabino, ruíra uma das paredes da casa e o homem estava ansioso para que alguém a consertasse, o mais rápido possível. Quando o profeta Elias deixou a casa, rezou novamente aos Céus pedindo que o muro se erguesse sozinho, algo que aconteceu em seguida. Rabi Joshua estava cada vez mais perplexo, mas nada disse. 


Os dois seguiram viagem novamente e chegaram a uma sinagoga maravilhosamente decorada. Mas, infelizmente, os fiéis não estavam à altura da construção, pois na hora que viram os dois peregrinos, não se mostraram nem um pouco generosos com os mesmos, não lhes oferecendo comida nem bebida. Na hora em que deixaram a cidade, o profeta expressou o desejo de que Deus transformasse todos os presentes em líderes. Novamente Rabi Joshua se calou, aturdido.

Na cidade seguinte foram recebidos calorosamente, com alimentos e refrescos. Todos os convidaram para descansar em suas casas. Desta vez, ao deixar a cidade, o profeta pediu a Deus que desse aos habitantes daquela cidade um único líder.

Rabi Joshua, então, não conseguiu mais se conter; já não entendia mais nada. Pediu a Elias explicações sobre suas estranhas ações. Ao se separarem, o profeta explicou a Rabi Joshua: 
“Pedi que a vaca do pobre homem morresse, porque já havia sido decretada pelos Céus a morte da esposa daquele gentil homem e o Anjo da Morte já estava a caminho. Por isto pedi que o animal morresse no lugar da esposa. Assim só perderia as posses e não sua esposa. Quanto ao homem rico, havia um grande tesouro debaixo do muro caído, por isto pedi que o muro fosse logo erguido; assim o tesouro ficaria enterrado ainda por algum tempo. Pedi para que os fiéis da sinagoga tão pouco hospitaleiros tivessem muitos líderes porque, em um lugar assim, brigas são inevitáveis e não há prosperidade”. E concluiu Eliahu ha-Navi: “Para nossos gentis hóspedes pedi só um líder para guiar a cidade, porque o sucesso é garantido quando uma só pessoa coordena os projetos. Agora que você conseguiu ver que a Justiça Divina vai além das simples aparências e entendeu por que às vezes parece prosperar quem faz o mal e sofrer quem faz o bem, não seja tão apressado em julgar e esteja sempre ciente de que Deus é Justo”.

Um outro texto judaico diz que quando o anjo da morte apareceu para levar Elias, este se encontrava conversando com Eliseu sobre a Torah. Como não lhe era permitido interromper o estudo [da Torah], Satanás se pôs na espera; porém, num relance, um carro de fogo puxado por cavalos de fogo se interpôs entre Elias e seu discípulo. Elias subiu nele e foi arrebatado ao céu em um turbilhão. Satanás foi então protestar diante de Deus pela não acontecida morte de Elias; porém antes de começar a falar, Deus o preveniu: "Eu criei os céus precisamente para que Elias pudesse subir a eles". O anjo insistiu e o Eterno permitiu que houvesse uma luta entre Satanás e Elias. O profeta saiu vencedor e pediu a Deus permissão para aniquilar a seu adversário. A permissão não lhe foi dada porque a derrota definitiva de Satanás deverá acontecer no final dos tempos (Zohar hadash Ruth 1, 1; Sepher Elijahu, p. 19). 

Tudo o que diz respeito ao profeta é de interesse para o Carmelo que o escolheu como inspirador. Tudo, como a estória bem humorada dos melões transformados em pedras pelo Profeta, diante da recusa de um agricultor que recusa-se em oferecer um deles para saciar a fome de Elias; ou fatos extraordinários da infância do Tesbita, que era alimentado, no regaço de seu pai, com tições incandescentes; ou ainda as estórias sobre os discípulos de Elias, entre os quais encontrava-se o filho da viúva de Sarepta, ressuscitado pelo Profeta em agradecimento à generosidade de sua mãe. Como reconhecimento o jovem serve o Profeta e é ele quem olha para o horizonte, enquanto o profeta ora no promontório do Monte Carmelo. Depois da morte do profeta o jovem é enviado por Eliseu para ungir Ihehu e, finalmente, recebe de Deus a missão de profetizar à cidade de Nínive!


No âmbito da história da Ordem é digna de nota a lenda sobre a homilia que Santo Elias teria proferido aos seus filhos, antes de subir ao céu num carro de fogo. Um autor medieval, Tiago Saliano, retoma a lenda e ainda é capaz de construir o texto inteiro da prédica, proferida em latim clássico! Um outro momento em que o Profeta aproveita a oportunidade para dar uma canja aos seus filhos do Monte Carmelo foi durante a transfiguração de Jesus, em que ele aparece ao seu lado, juntamente com Moisés. Alguém preocupou-se em escrever também esta homilia.

Uma lenda famosa tem a fonte do profeta como protagonista. Ela pára de jorrar na ausência dos carmelitas e volta a verter sempre que retornam.

Tais lendas são formas literárias simbólicas, com o largo uso da fantasia, que querem dizer, ao seu modo, verdades permanentes. Através delas Elias estabelece-se como o pai do Carmelo, inspirador de toda a Ordem, chamada a ser, por isso, profética como ele. Nele os carmelitas encontraram a exemplaridade eremítica e apostólica.

Os ventos que levaram os eremitas a aportarem no Monte Carmelo, foram os mesmos que levaram seus descendentes a encontrarem em Elias a perfeita expressão de seu "duplo espírito", da contemplação e da ação apostólica, do encontro com Deus no encontro com os irmãos, do divino e do humano.

O Carmelo, neste encontro com o Profeta, perpetua a tradição monástica que, já nos seus inícios, viu em Elias um exemplo inspirador da vida orante e solitária. Cassiano, Antão, Pacômio, Agostinho, Gregório Nazianzeno, e outros Padres da Igreja, todos exaltam a figura do Profeta sob este perfil.


De fato, o ciclo eliano, imortalizado no dois livros dos Reis, revelam o profeta como homem de solidão, que encontra Jahvé, que sofre solitariamente, que ora e jejua. A sua ascensão no fogo significa a paixão ardente pelo Absoluto e a sua dedicação ao Deus vivente. 

De outro lado a Sagrada Escritura também nos dá testemunho dos momentos de empenho ativo do profeta em defesa da pureza da fé e da justiça. As suas lutas contra as várias opressões religiosas e econômicas não foram simples episódios esporádicos. A história da vinha de Nabot, a seca e o desafio do Monte Carmelo, o contraste com a caravana que vai consultar Baal-Zebub, têm, certamente, uma força imperativa a indicar o campo do mundo como lugar de uma ativa presença de quem arde de zelo por Deus.


A primeira tradição espiritual carmelitana enfatizou os valores eremíticos, orantes e solitários de Elias. Mas, já no século XIV, no contexto de uma dilatação do serviço apostólico e uma quase mínima experiência eremítica, começa a aparecer uma interpretação também apostólica de Elias. As duas frases bíblicas com que o Carmelo se refere a Elias: Vivit Deus ante cuius conspectum sto (I Re. 17,1) e Zelo zelatus sum pro Dominus Deo Exercituum (I Re. 19.10.14), representam os valores contemplativo e ativo dialeticamente conexos.

Ricos são os símbolos utilizados nos textos sagrados sobre o Profeta. Eles servem para expressar os aspectos mais característicos do profetismo de Elias. A seca, a chuva recordam a aridez da vida distante de Deus e a fecundidade de sua presença; o fogo, presente no sacrifício, no encontro com os soldados enviados pelo Rei, ou no momento de sua subida para o céu, sinaliza a força divina e o ardor do coração do profeta. Os fenômenos naturais no Monte Horeb expressam o modo como Deus povoa a solidão dos que se abrem à sua ação. Elias é só. Sente-se só na adoração a Deus; luta só contra os profetas de Baal; foge só; está a sós com Deus; quer que Eliseu o deixe, para ir sozinho aonde Deus lhe manda; sobe só aos céus. Só Deus pode povoá-lo. O manto, enfim, é significante do poder transmitido, do apoio, da fraternidade, do bem compartilhado.

Da importância que Elias tomou no Carmelo como figura em que a história da espiritualidade carmelitana concentrou as balizas da sua vida, são testemunhas os pais do Carmelo Descalço, Teresa e João da Cruz.
Por seis vezes Santa Madre recorda o Profeta em suas obras. Três das citações estão concentradas nas Moradas, o livro de ouro da Santa Madre, em que ela trata do cume da vida contemplativa (5M 1,3; 6M, 7,8; 7M, 4,13).

Em um de seus poemas conclama: “Caminhemos para o céu, monjas do Carmelo, ao Pai Elias seguindo, nós vamos contradizendo, com sua fortaleza e zelo”. Trata-se de duas virtudes caras a Teresa: determinada determinação, força de vontade, decisão firme e zelo pela causa de Deus, que se revela no serviço à Igreja. 
Em Fundações 27,17 relembra Santo Elias fugindo de Jezabel, quando sentia o cansaço nas suas caminhadas fundacionais (cf. tb. F. 28,20).

Também São João da Cruz cita o Profeta por seis vezes (S.II, 8,4;20,2; 24,3; S. III, 42,5; C.14, 14-15; Ch.2, 17). Em 5 citações refere-se a ele como "nosso pai"; em uma "o profeta".



A Ordem da Virgem

No mesmo século em que os Carmelitas esculpem teoricamente a imagem de Elias como seu fundador, o século XIV, empenham-se, com o mesmo entusiasmo, em cimentar a base mariana da Ordem. Maria vai-se apresentando como a alma mesma do frade, fundamento do seu modo de pensar e viver, de modo que nada nele há que não pertença à Santíssima Virgem. Daí o dizer que o "o Carmelo é todo de Maria".

Assim como o vínculo dos primeiros eremitas com Elias era evidente, por isso as lendas em torno dele tinham coerência lógica, também era patente a relação primitiva com a Virgem. A ela foi dedicado o primeiro oratório e a ela traziam gravada no nome. Os patronos tinham para a sociedade medieval uma importância muito maior que em nosso tempo. A consciência era de que os patronos não eram escolhidos, mas eles é quem escolhiam para si a igreja, a cidade, o país que protegiam. A importância era tanta que entre as cidades medievais havia uma disputa para ver qual o patrono era mais forte. O Brasil barroco, filho de Portugal, assumiu esta reverência pelo padroeiro. No interior de Minas Gerais encontra-se uma pequena cidade que mantém uma interessante tradição. Na câmara de vereadores existe uma cadeira vitalícia reservada para Santo Antônio, o padroeiro da cidade. É como se ele participasse da vida da comunidade. O salário de vereador é entregue todos os meses à paróquia local.

Ser patrona significava não só ter o dever de honrá-la, mas também de garantir sua proteção. Existia a concepção de uma relação recíproca: o fiel oferecia o obsequium e o servitium devoto e total ao titular e, em troca, recebia “ajuda” e “proteção”, “graças” e “benefícios”. Este é, justamente, o caso do monte Carmelo. O título mariano se transformará na origem de uma fonte espiritual profundamente encarnada. A Virgem Maria será a Patrona do grupo, e o grupo se sentirá unido a ela vital e existencialmente, considerando-se inclusive “instituído para honrá-la e servi-la”. Eles podiam reivindicar, com todo o direito, o título de “Irmãos da Virgem Maria do Monte Carmelo”. Maria era a Senhora absoluta dos Carmelitas.

O mais notável entre os teólogos carmelitanos daquele tempo, João Baconthorp, aplica a Maria a promessa divina feita em Isaías: Data est ei decor Carmeli - dar-te-ei a beleza do Carmelo. Para ele Maria é quem embeleza o Monte e o Monte é dela, ela é a Senhora do Carmelo, a Dominca Loci. O itinerário do Carmelita será o de tudo fazer para a sua honra e glória porque, segundo a vontade divina, esta é a razão da existência de sua Ordem. A vida do Carmelita exige, por isso, uma sincera e vasta imitação das virtudes contempladas em Maria, porque a conformidade é o meio melhor para a sua glorificação.

Senhora e mãe. É esta a tarefa desempenhada por Maria em suas relações com o Carmelo. Em resposta o frade empenha-se na conformidade a ela e na sua imitação.

Do antigo eremitério os frades reconhecem em Maria o modelo e guia para a fraternidade, com sua presença “em meio às celas” e no lugar do banquete eucarístico. Maria encarna a disponibilidade absoluta diante da Palavra de Deus, já que ela é a serva-escrava, a virgem puríssima e silenciosa. Na busca do rosto de Deus e na espera de seus dons, ela é a irmã de puro coração, concentrada na meditação dos mistérios salvíficos. Ela nos ensina a louvar a Deus em suas misericórdias e a ver a história à luz dos critérios de Deus. Ela é a patrona e a mãe, solícita e atenta para com seus filhos e irmãos, honrada por eles com o hábito e com o nome que levam, com os títulos litúrgicos e com a leitura dos textos bíblicos.


O título da Ordem, que oficialmente encontramos na bula de Inocêncio IV, heremitae fratres ordinis sancte Mariae de Monte Carmeli, de 1247, tem sua força inspiradora na capela que se encontra no meio das celas.

Dia a dia, a recíproca fidelidade se transforma em certeza e em identificação, será o homem novo com o que se identificarão e com o qual serão reconhecidos, vindo a ser assim em uma nova chave de leitura e de interpretação do próprio projeto de vida. A finalidade e o ideal é o de permanecer no seguimento de Cristo, seguindo as pegadas e o modelo da Mãe, com os sentimentos da Mãe e com as qualidades interiores da Mãe. Uma presença viva que se transforma em companhia existencial para o serviço do Senhor no caminho da fé. Esta convicção justificará o florescer dos distintos títulos marianos, presentes na história dos destinatários da Regra de Alberto de Jerusalém: da Patrona à Domina Loci; da Virgem Puríssima à irmã; da Mãe do Senhor à Mater et decor Carmeli; da Flos Carmeli à Stella Maris. 
Seguindo o exemplo daquela primeira capela, os Carmelitas consagraram à Virgem as Igrejas que aos poucos iam construindo junto aos seus primeiros conventos na Europa.


Por um período bastante longo, esta denominação na Europa foi objeto de discussão, do momento em que os adversários da nova Ordem – entre os quais veneravam também de modo particular a Mãe de Deus – julgavam ser a reivindicação deste título um sinal de arrogância. Por este motivo, os Carmelitas se viram constrangidos por muito tempo a defendê-lo com paixão, como podemos constatar pelos estatutos dos Capítulos gerais ocorridos entre 1294 e 1324, pelos quase todos os tratados escritos no século XIV, e do fato que esses – na Alemanha de 1287 e em Roma em 1379 – pediram indulgência para todos aqueles que tivessem chamado os Carmelitas com o título mariano. Eram beneficiados com indulgência todos os fiéis que, vendo um carmelita, o cumprimentassem com a saudação - Eis aí um filho da Virgem Maria!


Para não deixar dúvidas de que a Virgem Maria no nome dos frades era a Mãe do Senhor, acrescentaram ao Dei Genitrix - Mãe de Deus. Daquele momento em diante o título completo foi Fratres Dei Genitrix Mariae de Monte Carmelo - Irmãos da Mãe de Deus Maria do Monte Carmelo. Com o tempo o nome que se firmou foi Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do monte Carmelo.


Como as outras Ordens religiosas, também os carmelitas inseriram na fórmula da sua Profissão Religiosa o nome de Maria, de modo que prometiam obediência a Deus e à Beata Virgem do Monte Carmelo. Tal fórmula a encontramos já prescrita nas primeiras constituições que a Ordem se deu em 1281.

O Capítulo Geral de 1294 decretou que se inserisse o nome de Maria no Confiteor, e em 1312, estabeleceu-se de se recitar o oficio de Nossa Senhora a cada Sábado do mês ou pelo menos cada semana; devia-se cantar a cada dia a Missa da Beata Virgem Maria, e no calendário carmelitano foi inserida a festa da Imaculada Conceição, título este que os Carmelitas defendem, no bojo das discussões teológicas a respeito. O capitulo Geral de 1324 prescreveu enfim a Salve Regina em todas as horas canônicas do ofício divino.


Em relação à festa de Nossa Senhora do Carmo, houve, durante os séculos XIII e XIV, intentos de se celebrar uma festa que fosse própria. Celebravam-se, sim, a partir de meados do século XIII, as festas da Purificação, Anunciação, Assunção e Natividade. Em 1312 introduziu-se a festa da Imaculada Conceição. Somente no final do século XIV aparece a Comemoração solene da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. A primeira menção desta solenidade a temos em um calendário litúrgico próprio de 1386.

Da leitura dos textos litúrgicos da Commemoratio depreende-se que ela foi instituída para dar graças à Virgem pelos seus inumeráveis benefícios, principalmente por sua intervenção por ocasião da aprovação da Regra feita por Honório III. A festividade foi associada à memória da entrega do Escapulário até 1609, quando, a partir da Inglaterra, extendeu-se a toda a Ordem. Em 1624 a Espanha começa a celebrar esta festa. Benedito XIV extendeu a comemoração para toda a Igreja em 1726. No Brasil a comemoração foi elevada ao grau de festa em 1990, pela Conferência Nacional dos Bispos, por indicação de D. Pedro Fedalto, arcebispo de Curitiba.

A história consolidou o espírito mariano da Ordem, definitivamente. O Carmelo é dela e ela toda do Carmelo.


Tendo o profeta como Pai e Maria como Mãe, o Carmelo não terá problemas de orfandade e com pais tão ilustres adquire respeito no seio da Igreja. Os carmelitas têm onde buscar inspirações para sua vida, posto que filhos de dois nascimentos, no dizer de Padre Vieira: 
“As duas cores e as duas peças do hábito carmelitano são a prova e a herança destes dois nascimentos. A prova e herança do nascimento do pai sem mãe é o manto branco, dado por Elias nas mãos de Eliseu carmelita; a prova e herança do nascimento de Mãe sem pai é o escapulário pardo, dado pela Virgem Maria nas mãos de Simão, também carmelita e geral santo dos carmelitas. Só parece diferença entre os dois nascimentos de Cristo e desta sagrada religião, que no nascimento de Cristo, o Pai era do céu e a Mãe da terra; no nascimento dos carmelitas, o pai era da terra e a Mãe do céu. Mas nesta troca do céu e terra tinham tanto de celestiais estes nascimentos, e tanto de celestiais estas duas peças ou divisas do hábito carmelitano, que a Mãe trouxe o escapulário descendo do céu à terra, e o pai lançou o manto subindo da terra ao céu.
Não há religião posto que todas sejam santíssimas que tivesse tais princípios, nem se possa gloriar de tais progenitores. E como estes benditos filhos foram duas vezes nascidos, e por duas gerações, ambas miraculosas, ambas singulares, ambas celestiais e divinas, não será excesso de devoção nem encarecimento de louvor, que com as mesmas vozes do Evangelho os aclamemos neste dia duas vezes bem-aventurados: bem-aventurados por filhos de tal Mãe: Beatus venter qui te portavit, e bem-aventurados por filhos de tal pai: Beati qui audiunt Verbum Dei et custodiunt illud” (sermão de Nossa Senhora do Carmo). 



"A devoção do Escapulário do Carmo fez descer sobre o mundo 
copiosa chuva de graças espirituais e temporais". (Pio XII)

O Escapulário ou Bentinho do Carmo é um sinal externo de devoção mariana, que consiste na consagração à Santíssima Virgem Maria, por meio da inscrição na Ordem Carmelita, na esperança de sua proteção maternal. O escapulário do Carmo é um sacramental. No dizer do Vaticano II, "um sinal sagrado, segundo o modelo dos sacramentos, por intermédio do qual significam efeitos, sobretudo espirituais, que se obtêm pela intercessão da Igreja". (S.C. 60)


Algumas informações:


Só pode benzer e impor Escapulário que estiver revestido de ordem sacra, ou seja, sacerdotes e/ou diáconos. Não importa qual seja o tamanho, matéria ou cor de que é feito o Escapulário. O seu uso diário e permanente, embora muito recomendado, não é essencial; essencial é o compromisso de viver cristãmente, à imitação de Maria Santíssima.
A Medalha-Escapulário substitui plenamente o próprio Escapulário. Quanto aos compromissos práticos, recomenda-se muito a recitação e a meditação do terço ou, pelo menos, uma parte dele ou qualquer outra prática de devoção a Maria.



Às paróquias do Carmo, Sodalícios da Ordem Carmelitana Secular, Confrarias do Carmo, Colégios, Hospitais, Asilos, Orfanatos consagrados a Nossa Senhora do Carmo recomenda-se a promoção dos Encontros da Família Carmelitana com a finalidade sobretudo, de estreitar os laços de verdadeira fraternidade cristã. Temos todos um mesmo ideal de santificação e de auxílio mútuo neste empreendimento - e isto se torna mais fácil se tivermos consciência de que somos uma grande Família, de que somos todos irmãos do CARMO!
Texto retirado do livro "Fraternidade do Escapulário do Carmo" escrito por Frei Nuno Alves Corrêa.



O Poder do Escapulário


O Monte Carmelo, na Palestina, é o lugar sagrado do Antigo e Novo Testamento. É o Monte em que o Profeta Elias evidencia a existência e a presença do Deus verdadeiro, vendo os 450 sacerdotes pagãos do Baal e os 400 profetas dos bosques, fazendo descer do céu o fogo devorador que lhes extinguiu a vida. (III Livro dos Reis, XVIII, 19 seg.).
É ainda o Profeta Elias que implora do Senhor chuva benfazeja, depois de uma seca de três anos e três meses (III Livro dos Reis, XVIII, 45).
É no Monte Carmelo que a tradição colocou a origem da Ordem Carmelitana.
Alí, viviam eremitas entregues à oração e à penitência.
Há quem afirme que o primeiro oratório em louvor à Virgem Maria foi levantado no Monte Carmelo. Sempre foi transmitida a crença que aquela nuvem branca que surgiu do mar e se transformou em chuva benéfica é símbolo da Imaculada Conceição de Maria.
São Luis IX, rei da França, sobe ao Monte Carmelo. Encontra-se com aqueles eremitas e fica encantado, quando lhe contam que sua origem remonta ao Profeta Elias, levando uma vida austera de oração e penitência, cultivando ardente devoção à Nossa Senhora.
Trinta anos, antes de São Luis IX subir ao Monte Carmelo, dois cruzados ingleses levaram para a Inglaterra alguns monges.
Na Inglaterra, vivia um homem penitente, como o Profeta Elias, austero como João Batista. Chamava-se Simeão. Mas, diante de sua vida solitária na convacidade de uma árvore no seio da floresta, deram-lhe o apelido de Stock.
Dizem os historiadores que Nossa Senhora lhe apareceu, exortando-o a unir-se aos Monges Carmelitas.
Os Carmelitas transferiram-se do Oriente para a Europa, por causa das perseguições sofridas, com seus conventos destruídos, queimados, seus religiosos presos, mortos e os sobreviventes dispersos. Diferente porém não foi sua sorte na Europa.



São Simão Stock, unindo-se aos Carmelitas, tanto se distinguiu por sua piedade, austeridade, visão e liderança, acabando sendo eleito Superior de todos os Carmelitas da Europa, em 1245. Teve coragem de adaptar a vida dos Carmelitas, que devia ser um misto de contemplação e de atividade apostólica e pastoral. Preparou os Religiosos, mandando-os às Universidades. Isto desagradou aos mais velhos. Se não bastassem as dificuldades internas, o clero diocesano que não aceitava os frades mendigantes Franciscanos e Dominicanos, fez guerra também aos Carmelitas. São Simão Stock até pensou em mudar o hábito que tanto chamava a atenção na Europa.
Sentindo ele sempre mais a oposição interna e externa e sendo já nonagenário, reconhecia que as provações eram superiores a suas forças.
Foi então que recorreu com muita confiança à proteção de Nossa Senhora. Na noite de 16 de julho de 1251, no Convento de Cambridge, no condado de Kent, Inglaterra, assim rezava São Simão Stock na sua cela: "Flor do Carmelo, Vinha florífera, Esplendor do céu, Virgem fecunda, singular. Ó Mãe benigna, sem conhecer varão, aos Carmelitas dá privilégio, Estrela do Mar!".
Terminada esta prece, levanta os olhos marejados de lágrimas, vê a cela encher-se, subitamente, de luz. Rodeada de anjos, apareceu-lhe a Virgem Santíssima, revestida de esplendor, trazendo nas mãos o Escapulário dizendo a São Simão Stock, com inexprimível ternura maternal: "Recebe, filho queridíssimo, este Escapulário de tua Ordem, como sinal peculiar de minha fraternidade, como privilégio para ti e para todos os Carmelitas. Quem morrer revestido dele não sofrerá o fogo eterno. Eis um sinal de salvação, de proteçao nos perigos, eis uma aliança de paz e de eterna amizade".
Nossa Senhora voltou ao céu e o Escapulário permaneceu como sinal de Maria.
Na última aparição de Lourdes e de Fátima, Nossa Senhora traz o Escapulário.São passados 733 anos, desde o dia 16 de julho de 1251. Todos os que trouxeram o Escapulário, com verdadeira piedade, com sincero desejo de perfeição cristã, com sinais de conversão, sempre foram protegidos na alma e no corpo contra tantos perigos que ameaçam a vida espiritual e corporal. É só ler os anais carmelitanos para provar a proteção e a assistência de Maria Santíssima.

O Escapulário é a devoção de papas e reis, de pobres e plebeus, de homens cultos e analfabetos. É a devoção de todos. Foi a devoção de São Luis IX, de Luis XIII, Luis XIV da França, Carlos VII, Filipe I e Filipe III da Espanha, Leopoldo I da Alemanha, Dom João I, de Portugal.
E a devoção dos Papas: Bento XV o pontífice da paz, chamou o Escapulário a "arma dos cristãos" e aconselhava aos seminaristas que o usassem. Pio IX gravou em seu cálice a seguinte inscrição:"Pio IX, confrade Carmelita". Leão XVIII, pouco antes de morrer, disse aos que o cercavam: "Façamos agora a Novena da Virgem do Carmo e depois morreremos".
Pio XI escrevia, em 1262, ao Geral dos Carmelitas: "Aprendi a conhecer e a amar a Virgem do Carmo nos braços de minha mãe, nos primeiros dias de minha infância". Pio XII afirmava: "É certamente o Sagrado Escapulário do Carmo, como veste Mariana, sinal e garantia da proteção e salvação ao Escapulário com que estavam revestidos. Quantos nos perigos do corpo e da alma sentiram a proteção Materna de Maria".
O Papa João XXIII assim se pronunciou: "Por meio do Escapulário do Carmo, pertenço à família Carmelitana e aprecio muito esta graça com a certeza de uma especialíssima proteção de Maria. A devoção a Nossa Senhora do Carmo torna-se uma necessidade e direi mais uma violência dulcíssima para os que trazem o Escapulário do Carmo"
Paulo VI afirmava que entre os exercícios de piedade devem ser recordados o Rosário de Maria e o Escapulário do Carmo.
O Papa João Paulo II é devotíssimo de Nossa Senhora e coloca a recitação do Rosário entre suas orações prediletas. Ele quis ser Carmelita. Defendeu sua tese sobre São João da Cruz, o grande Carmelita renovador da Ordem.

John Mathias Haffert, autor do livro "Maria na sua Promessa do Escapulário", entrevistou a Irmã Carmelita Lúcia, a vidente de Fátima ainda viva e perguntou, por que na última aparição Nossa Senhora segurava o escapulário na mão?
Irmã Lúcia respondeu simplesmente: "É que Nossa Senhora quer que todos usem o Escapulário".Artigo escrito por Dom Pedro Fedalto, Arcebispo de Curitiba .


O Valor e o Significado do Escapulário

O Escapulário de Nossa Senhora do Carmo é um sinal de Maternidade Divina de Maria. Como tal, representa o compromisso de seguir Jesus como Maria, o modelo perfeito de todos os discípulos de Cristo. 



O uso do Escapulário a Virgem nos ensina a: * Viver abertos a Deus e à sua vontade;
* Escutar e praticar a palavra de Deus;
* Orar em todo momento, descobrindo Deus presente em todas as circunstâncias;
* Estar aberto a caridade e as necessidades da Igreja;
* Alimentar a esperança do encontro com Deus na vida eterna pela proteção e intercessão de Maria.


O Escapulário do Carmo não é: * Um sinal de proteção mágica ou amuleto;
* Uma garantia automática de salvação;
* Uma dispensa de viver as exigências da vida Cristã.


O Escapulário em suas normas práticas:
* O Escapulário é imposto só uma vez por um sacerdote ou pessoa autorizada;
* O uso do Escapulário exige no mínimo a oração de três Ave-Marias em honra a Nossa Senhora do Carmo;
* O Escapulário compromete com uma vida autêntica de Cristãos que se conformam com as exigências evangélicas, recebem os sacramentos e professam uma especial devoção à Santíssima Virgem.


Fonte:

Nossa Senhora do Carmo

Data est ei decor Carmeli
Ao olharmos para a história da Igreja encontramos uma linda página marcada pelos homens de Deus, mas também pela dor, fervor e amor à Virgem Mãe de Deus: é a história da Ordem dos Carmelitas, da qual testemunha o cardeal Piazza: "O Carmo existe para Maria e Maria é tudo para o Carmelo, na sua origem e na sua história, na sua vida de lutas e de triunfos, na sua vida interior e espiritual".

Carmelo (em hebraico, "carmo" significa vinha; e "elo" significa senhor; portanto, "Vinha do Senhor"): este nome nos aponta para a famosa montanha que fica na Palestina, donde o profeta Elias e o sucessor Elizeu fizeram história com Deus e com Nossa Senhora, que foi pré-figurada pelo primeiro numa pequena nuvem (cf. I Rs 18,20-45). Estes profetas foram "participantes" da Obra Carmelita, que só vingou devido à intervenção de Maria, pois a parte dos monges do Carmelo que sobreviveram (século XII) da perseguição dos muçulmanos, chegaram fugidos na Europa e elegeram São Simão Stock como seu superior geral; este, por sua vez, estava no dia 16 de julho intercedendo com o Terço, quando Nossa Senhora apareceu com um escapulário na mão e disse-lhe: "Recebe, meu filho, este escapulário da tua Ordem, que será o penhor do privilégio que eu alcancei para ti e para todos os filhos do Carmo. Todo o que morrer com este escapulário será preservado do fogo eterno".

Vários Papas promoveram o uso do escapulário e Pio XII chegou a escrever: "Devemos colocar em primeiro lugar a devoção do escapulário de Nossa Senhora do Carmo - e ainda - escapulário não é 'carta-branca' para pecar; é uma 'lembrança' para viver de maneira cristã, e assim, alcançar a graça duma boa morte". Neste dia de Nossa Senhora do Carmo, não há como não falar da história dos Carmelitas e do escapulário, pois onde estão os filhos aí está a amorosa Mãe.



O Monte Carmelo

No centro-oeste de Israel, como um manto verde triangular, estende-se, por 20 km, uma cadeia montanhosa que, desde Meguido, afina-se em direção ao mar mediterrâneo, como que atraída por ele, levando consigo a terra que adentra o mar com uma ponta, formando aos seus pés uma baía. Naquele ponto há um terraço que termina, abrupto, com uma parede de pedra de 700 metros. A este promontório aludia-se quando se nomeava o Monte Carmelo, nome, porém, que refere-se a toda a cordilheira. O nome Karmel, derivado de Karem (vinha), pode significar campo, lugar fértil ou vinha em flores.

A singular beleza de seu verde, ressaltado no contraste com o azul do mar, inspirou o profetismo hebreu que nas suas poéticas previsões anunciavam, dentre os dons que farão resplandecer o povo escolhido, como a força, a glória e a riqueza (cf. Jr.15,9), a oferta de Deus ao seu povo, da beleza daquele Monte (cf. Is.35,2). Sua altura inspirou as românticas alusões sobre a esbelteza estonteante da mulher amada (cf. Ct.7,6).

Imaginá-lo ressequido e sem vida servia aos profetas para dar a imagem mais realista possível das desgraças vaticinadas sobre Israel, decorrentes de sua teimosa infidelidade (cf. Am.1,2 e Na. 1,4).

Neste cenário, como casa feita ao estilo do seu morador, rondava Elias. Seu rosto, curtido pelo fogo que lhe era companhia constante, mas ao mesmo tempo suavizado pela brisa em que via a face de Deus, parecia o reflexo das visões paradisíacas de certos ângulos do Monte, misturadas aos abismos e formações rochosas que diziam aos homens não ser ali lugar para atreverem-se em permanecer. 

Provavelmente o santo profeta e seus seguidores tinham aquele Monte como seu ponto de referência. Ali Elias desafiou os sacerdotes de Baal, orou para que cessasse a seca castigante que se abateu sobre Israel, saciou sua própria sede bebendo em suas fontes, alimentou-se das mãos generosas daquela natureza que lhe servia figos, romãs, melões e azeitonas, e abrigou-se em suas grutas. 

Para perpetuar a memória do profeta, a tradição judia, cristã e islâmica teve que escolher entre as grutas e as fontes existentes no Monte, uma que pudesse aglutinar os corações de seus veneradores. A gruta escolhida foi aquela existente abaixo do promontório, sob o farol de Haifa, a 50m do nível do mar. Uma sala de 8,70 metros de largura por 13,5 metros de comprimento, que os árabes denominam El Kader - o verdejante. Ocupada no século XII e XIII por cristãos ortodoxos gregos, foi transformada em mesquita, quando o local foi tomado pelos sultões. Quando os Carmelitas Descalços compraram a extensão do terraço, no século XVII, ocuparam a gruta por pouquíssimo tempo. A ira dos muçulmanos os obrigou a devolver-lhes a gruta para, que a ocupam até os dias de hoje.

Entre as fontes, qual foi a de Elias? A tradição apontou como sendo a fonte que está a 3 kilômetros ao sul do promontório, no vale Es-Siah - o vale do peregrino. Trata-se de uma fonte abundante e permanente. Foi aí, exatamente aí, junto à fonte de Elias, que alguns homens, dentre os tantos cristãos refugiados no Monte, acuados por Saladino, estabeleceram-se desprentensiosamente, quem sabe esperando dias melhores que os pudesse permitir caminhar de volta a Jerusalém. 

Junto à fonte
Wadk'ain es-Siah, é assim que os árabes chamam um dos vales do Monte Carmelo que se abre ao Mediterrêneo, no flanco oeste da montanha sagrada. Ao redor do vale, algumas grutas são convidativas aos latinos que têm seus sonhos povoados pela figura terrível de Saladino. É um bom lugar para ficar. Cinco, dez, quantos pararam por ali? Não se sabe. Com certeza um número pequeno de homens. Limpas as áreas ao redor de cada habitação, vão se insediando e adaptando o corpo e o espírito à nova paisagem.

A data também vacila, na falta de dados mais consistentes. Com certeza entre 1187, data da tomada de Jerusalém, e 1220, data do mais antigo testemunho da existência de eremitas naquela região. Na esteira dos itinerários e escritos históricos que apareciam naqueles tempos, Jacó de Vitry também escreveu sua Historia Orientalis. Em seu escrito fala da divisão da Terra Santa nos tempos das cruzadas, e menciona o fenômeno religioso daqueles dias. Ao relatar como muitos dos cruzados, desejosos de uma vida retirada, escolhiam diversos lugares santificados pela presença do Senhor para recolher-se neles, como o deserto onde Jesus jejuou durante 40 dias e o Jordão, fala de alguns que elegeram o Monte Carmelo onde - diz ele - “à imitação do santo varão e solitário profeta Elias.... junto ao manancial que chamam fonte de Elias, não longe do mosteiro da bem-aventurada Virgem Margarida, levavam uma vida solitária nas colméias das pequenas celas, fabricando o mel da doçura espiritual como abelhas do Senhor.” Este é o único testemunho ocular daqueles inícios, a nos alcançar.

Jacó, bispo de uma cidade francesa, teria ficado admirado pelo vai-vém dos homens naquele vale, saindo e entrando em suas celas, tal como as abelhas em suas habitações. A imagem nos dá a sensação de uma vida já mais ou menos organizada e lauras construídas e dispostas de tal modo a formar um retângulo. De fato, com o passar do tempo, os habitantes do vale do peregrino foram compactuando-se sob o chão da mesma aventura: peregrinos sem meta, soldados sem forças, restam-lhe ser eremitas que os transformam em peregrinos do Absoluto e combatentes da vida interior. Ao impor-se a provisoriedade do tempo - um passado inglório, um presente precário e um futuro incerto - eles buscam o nova Jerusalém, onde o Cordeiro brilha para sempre, sem templo, sem cidade, sem lamparinas. Que bons ventos, pensam, os conduziram até ali!

A lenda da descendência profética
O surgimento de uma lenda

Os esforços empreendidos pelos Carmelitas por impor-se e serem aceitos na vida eclesial européia incluíram várias frentes e batalhas, como vimos. No século XIV a intelectualidade carmelitana dedicou a maior parte de suas energias a comprovar a magnificência de sua origem. A todos quantos duvidavam de suas origens, diziam: somos do Monte! E aos que caçoavam-lhes pela falta de fundador, defendiam-se: - somos filhos de Elias, descendentes do profeta.

A descendência profética 


O primeiro texto oficial, chamado por isso de rubrica prima, incorporado às Constituições de 1281, as primeiras conhecidas e conservadas, expressa a convicção dos ermitães. “Declaramos - diz o texto - dando testemunho da verdade, que, desde o tempo em que os profetas Elias e Eliseu viveram devotamente no Monte Carmelo, os santos Padres, tanto do Antigo como do Novo Testamento, para quem a contemplação das coisas celestiais conduziu à solidão deste Monte, levaram ali, sem dúvida, vida exemplar, junto à fonte de Elias, em santa penitência, mantida sem interrupção e com proveito. A estes mesmos sucessores, Alberto, Patriarca de Jerusalém, em tempos de Inocêncio III, uniu em uma comunidade, escrevendo para eles uma Regra, que o papa Honório, sucessor do mesmo Inocêncio, e muitos de seus sucessores, aprovando esta Ordem, a confirmaram com muito louvor por meio de cartas. Na profissão desta Regra, nós, seus seguidores, servimos ao Senhor em diversas partes do mundo, até o dia de hoje”.

Esta Rubrica Prima é a semente de onde germinou, nos séculos futuros, frondosamente, até o excesso, as maravilhosas lendas elianas que deram à Ordem razões de sua existência e consistência ao seu espírito.

As lendas fazem parte da cultura literária de um povo. O cristianismo não foge à regra. Neste tipo de literatura o povo se diz, conta-se, resolve-se, e é conhecido por outros povos. E as lendas são um dos meios para que a palavra o personifique, camuflando, em fatos fantasiosos, a sua história e os seus valores. Pode-se dizer que a lenda é um modo divertido de expressar coisas sérias. O herói sujeito a dados históricos, reflete os anseios de um grupo ou de um povo; sua conduta depõe a favor de uma ação ou de uma idéia cujo objetivo é arrastar outros indivíduos para o mesmo caminho. A lenda, mais verdadeira do que a história, devido à quantidade de ensinamentos humanos que trazem, contraria freqüentemente a verdade psicológica: uma abóbora, por exemplo, transforma-se em carruagem; um rato, em cocheiro. O Carmelo, em seu contato com o judaísmo, nascido na idade média, sobrevivente na igreja através dos séculos, enriqueceu-se do que encontrou e foi criativo em acrescentar outros dados a antigas lendas ligadas ao profeta.

As lendas que têm como protagonista o Profeta Elias são um valiosíssimo patrimônio da Ordem, riqueza de sua história e da progressiva consciência de si mesma. Elas contém também verdades imbutidas a respeito das pessoas, da cultura, do mundo e da fé de quem as cultivou, além de, por serem lendas, oferecerem elementos de espiritualidade universais, em que gerações podem se espelhar.

Desprezá-las, movidos pela influência de um empobrecedor e primitivo espírito cientificista da modernidade, é privar-se de uma grande riqueza do tesouro mesmo da Ordem, tão rico quanto só as intuições podem ser.
Os carmelitas, como filhos do profeta, recontam as lendas judaicas e as recriam, acabando elas por fundamentarem uma opinião sobre as suas origens, defendidas e cridas como verdade histórica até algum tempo atrás. Segundo esta opinião a Ordem foi fundada por ninguém menos que o grande e celebrado Profeta. Desde quando ele formou em torno de si um grupo de profetas que o seguiam, a Ordem Carmelita, nascida como uma escola de profetas, existiu sem conhecer interrupção.

Visto assim, a Ordem teria passado por três períodos em sua história. O primeiro, o profético, pertencente ao tempo do Antigo Testamento. O segundo, o período grego, desde Jesus, que os profetas do Monte reconhecem e o seguem, até a primeira metade do século XII. O terceiro e último período, o latino, vai do século XII em diante.

A estória afirma também sobre a existência de três regras diversas: a de João XLIV, Patriarca de Jerusalém, dada ao redor do ano 410, intitulada Instituição dos primeiros monges; a de Aymérico de Limoges, Patriarca de Antioquia, cujo texto é na verdade uma tradução para o latim da regra de João, com alguma alteração, e dada em meados do século XII, e a de Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém, promulgada entre 1209 e 1214.

A mais antiga obra escrita a tratar disto é o Tratactus de Instituitione et peculiaribus religiosorum carmelitarum (1370-1380) do catalão Filipe Ribot. O tratado traz a obra atribuída a João XLIV e a Espítola de Cirilo ou de processu Ordinis et varris eius regulis ad Eusebium Priorem Montis Neroi.

A De instituione primorum monachorum, atribuída a João Nipote Silvano, bispo XLIV de Jerusalém, que, antes da nomeação à sede patriarcal, teria sido monge no Monte Carmelo, e trazida à tona por Filipe Ribot, foi o principal texto de que se serviam os religiosos carmelitas para a leitura espiritual e guia ascético. Desde sua publicação foi tida como a regra existente até o aparecimento do texto de Alberto de Jerusalém. Análises textuais nos dão conta de que são fruto do próprio século em que apareceu, o século XIV e, numa hipótese provável, fruto do punho do próprio Ribot.

A obra propõe Elias como fundador da Ordem, interpretando alegoricamente a passagem do livro de Re, 17,2ss, exemplo de pobreza, vida de abnegação, mortificação, solidão e continência, homem amoroso para com Deus e com o próximo, eremita singular, pai da vida monástica.

A obra trata também dos sucessores de Elias; dos lugares que ocuparam os ermitãos nas diversas épocas; de Eliseu, sucessor do Profeta; da conversão ao cristianismo dos filhos dos Profetas; do culto que tributavam à Santíssima Virgem, do hábito e seu significado espiritual.

Cirilo é o personagem que, segundo a tradição da Ordem, foi o sucessor de Brocardo no priorado do Monte Carmelo. Sua epístola, publicada no tratado de Filipe Ribot, traz um resumo da história da Ordem em cinco pequenos capítulos, seguidos dos textos das Regras de João, a sua tradução para o latim, feita por Aymerico, e a de Alberto. 

Elias, o pai 
A crença na origem eliana da Ordem gerou uma série de escritos no século XIV sobre a figura do Profeta. O desenvolvimento do tema eliano, provocado pelas circunstâncias, servirá para a Ordem instalada na Europa, longe de suas raízes, estabelecer bases que gerem fidelidade aos de dentro da Ordem, e identidade que gere confiança nos de fora. Neste reencontro com o Profeta, a Ordem firma seu ideal de comprometer-se na busca do rosto de Deus e de servi-Lo com puritas cordis.

Elias, cuja presença entre os eremitas do Monte era natural, lembrado veladamente na Regra de Alberto pela referência que faz "à fonte", sem ser mencionado, é, no século XIV, exaltado e defendido como o fundador do Carmelo e da Vida Religiosa. O Carmelo seria, então, dentre as Ordens, a mais antiga. Desta afirmação desenvolve-se um ardente debate sobre a hereditariedade da Ordem ou a "sucessão eliana". Alguns autores chegam a elencar todos os sucessores de Elias até o pe. Geral de então. Outros, dando prosseguimento à lógica, sem escrúpulos, afirmavam que João Batista e Maria freqüentaram o Monte e conheceram a nossa Ordem. Uma das histórias mais impressionantes é de um santo homem, contemporâneo da Virgem Maria e pretendente a casar-se com ela. Vendo que ela havia escolhido José, ele resolve abraçar o celibato e pede admissão entre os profetas do Monte. Quando Maria e José, como os judeus piedosos da Galiléia, levam o Menino Jesus para ser abençoado e instruído no Carmelo pelos eremitas, é ele que os recebe à porta.

Quanto mais argumentos surgiam, mais discussões provocavam. Grande parte dos escritos do século XIV são de apologia doméstica, que visava defender o caráter eliano da Ordem.

Um ponto importante foi a tentativa de se aproximar a Virgem Maria do Profeta. De extrema relevância foi a interpretação dada ao texto sobre a nuvenzinha, de 1Re.18,45. O primeiro a trazer esta interpretação foi João Baconthorp. Segundo esta visão o Profeta Elias já rendia o culto à Virgem, de forma a prevê-la naquela nuvem, pequena, insignificante, despercebida, mas que, pela graça de Deus, transformar-se-ia em uma tempestade que fez chover para todos o Divino Salvador.

As lendas elianas não se restringiram à finalidade de explicar a origem da Ordem. O Carmelo foi um meio importante para o resgate e a publicidade de lendas já famosas entre os judeus.

As lendas elianas eram abundantes no mundo judaico. Escritos extra-bíblicos estão cheios destas estórias, muitos ligados à sua arrebatação aos céus, à sua constante aparição na terra, à sua figura simpática de benfeitor dos pobres e amigo dos humildes, como socorredor e libertador dos fiéis em toda situação extrema, como amigo dos sábios e estudiosos da Torah, devido o seu zelo por ela, e finalmente como precursor do Messias. Especialmente o Midrash acentua, mais que o vingador zeloso que Elias demonstra ser em determinado momento do livro dos Reis, o profeta terno, doce, compreensivo, amigo dos necessitados, dos aflitos, dos que correm perigo. Coragem e compaixão são as qualidades do profeta ressaltados nos contos judaicos. Neles o homem de Deus aparece milagrosamente, assumindo os mais incríveis disfarces para salvar alguém, para transmitir ensinamentos ou para ajudar quem precisa. Elias tornou-se para o povo de Israel o símbolo da redenção futura, um homem que infunde esperança.

Em suas andanças pelo mundo o profeta age na vida das pessoas e as ajuda em seus caminhos. Conta-se que certo dia o profeta permitiu ao Rabi Joshua ben Levi acompanhá-lo, com uma condição: não importava o quão estranhas pudessem parecer as ações do profeta, o Rabi não poderia pedir-lhe explicações. No momento em que isso acontecesse, os dois teriam que se separar.

O primeiro lugar no qual pararam foi em frente à uma modesta casa onde moravam um homem pobre e sua esposa. O único bem que possuíam era uma vaca que lhes dava o leite para sua sobrevivência. Ao ver os dois viajantes, o casal os convidou para seu lar.

Ofereceram comida e bebida, além de um lugar confortável para dormir. No dia seguinte, após agradecer pela hospitalidade e se despedir do casal, o profeta rezou com fervor pedindo aos Céus a morte da vaca que possuíam. Antes mesmo que o profeta e o rabino saíssem da casa, o animal morreu. Rabi Joshua, chocado pela desgraça que havia se abatido sobre o hospitaleiro e bondoso casal, pensou: “Será que esta é a recompensa pela bondade e gentileza que este pobre homem teve conosco?” Mas não ousava interpelar o profeta, pois temia colocar um fim à viagem.

À noite chegaram à casa de um homem muito rico. Apesar de permitir que os dois passassem a noite sob seu teto, ele não os recebeu nem ofereceu comida ou bebida. Antes que lá chegassem o profeta e o rabino, ruíra uma das paredes da casa e o homem estava ansioso para que alguém a consertasse, o mais rápido possível. Quando o profeta Elias deixou a casa, rezou novamente aos Céus pedindo que o muro se erguesse sozinho, algo que aconteceu em seguida. Rabi Joshua estava cada vez mais perplexo, mas nada disse.

Os dois seguiram viagem novamente e chegaram a uma sinagoga maravilhosamente decorada. Mas, infelizmente, os fiéis não estavam à altura da construção, pois na hora que viram os dois peregrinos, não se mostraram nem um pouco generosos com os mesmos, não lhes oferecendo comida nem bebida. Na hora em que deixaram a cidade, o profeta expressou o desejo de que Deus transformasse todos os presentes em líderes. Novamente Rabi Joshua se calou, aturdido.

Na cidade seguinte foram recebidos calorosamente, com alimentos e refrescos. Todos os convidaram para descansar em suas casas. Desta vez, ao deixar a cidade, o profeta pediu a Deus que desse aos habitantes daquela cidade um único líder.

Rabi Joshua, então, não conseguiu mais se conter; já não entendia mais nada. Pediu a Elias explicações sobre suas estranhas ações. Ao se separarem, o profeta explicou a Rabi Joshua: 
“Pedi que a vaca do pobre homem morresse, porque já havia sido decretada pelos Céus a morte da esposa daquele gentil homem e o Anjo da Morte já estava a caminho. Por isto pedi que o animal morresse no lugar da esposa. Assim só perderia as posses e não sua esposa. Quanto ao homem rico, havia um grande tesouro debaixo do muro caído, por isto pedi que o muro fosse logo erguido; assim o tesouro ficaria enterrado ainda por algum tempo. Pedi para que os fiéis da sinagoga tão pouco hospitaleiros tivessem muitos líderes porque, em um lugar assim, brigas são inevitáveis e não há prosperidade”. E concluiu Eliahu ha-Navi: “Para nossos gentis hóspedes pedi só um líder para guiar a cidade, porque o sucesso é garantido quando uma só pessoa coordena os projetos. Agora que você conseguiu ver que a Justiça Divina vai além das simples aparências e entendeu por que às vezes parece prosperar quem faz o mal e sofrer quem faz o bem, não seja tão apressado em julgar e esteja sempre ciente de que Deus é Justo”.
Um outro texto judaico diz que quando o anjo da morte apareceu para levar Elias, este se encontrava conversando com Eliseu sobre a Torah. Como não lhe era permitido interromper o estudo [da Torah], Satanás se pôs na espera; porém, num relance, um carro de fogo puxado por cavalos de fogo se interpôs entre Elias e seu discípulo. Elias subiu nele e foi arrebatado ao céu em um turbilhão. Satanás foi então protestar diante de Deus pela não acontecida morte de Elias; porém antes de começar a falar, Deus o preveniu: "Eu criei os céus precisamente para que Elias pudesse subir a eles". O anjo insistiu e o Eterno permitiu que houvesse uma luta entre Satanás e Elias. O profeta saiu vencedor e pediu a Deus permissão para aniquilar a seu adversário. A permissão não lhe foi dada porque a derrota definitiva de Satanás deverá acontecer no final dos tempos (Zohar hadash Ruth 1, 1; Sepher Elijahu, p. 19).

Tudo o que diz respeito ao profeta é de interesse para o Carmelo que o escolheu como inspirador. Tudo, como a estória bem humorada dos melões transformados em pedras pelo Profeta, diante da recusa de um agricultor que recusa-se em oferecer um deles para saciar a fome de Elias; ou fatos extraordinários da infância do Tesbita, que era alimentado, no regaço de seu pai, com tições incandescentes; ou ainda as estórias sobre os discípulos de Elias, entre os quais encontrava-se o filho da viúva de Sarepta, ressuscitado pelo Profeta em agradecimento à generosidade de sua mãe. Como reconhecimento o jovem serve o Profeta e é ele quem olha para o horizonte, enquanto o profeta ora no promontório do Monte Carmelo. Depois da morte do profeta o jovem é enviado por Eliseu para ungir Ihehu e, finalmente, recebe de Deus a missão de profetizar à cidade de Nínive!

No âmbito da história da Ordem é digna de nota a lenda sobre a homilia que Santo Elias teria proferido aos seus filhos, antes de subir ao céu num carro de fogo. Um autor medieval, Tiago Saliano, retoma a lenda e ainda é capaz de construir o texto inteiro da prédica, proferida em latim clássico! Um outro momento em que o Profeta aproveita a oportunidade para dar uma canja aos seus filhos do Monte Carmelo foi durante a transfiguração de Jesus, em que ele aparece ao seu lado, juntamente com Moisés. Alguém preocupou-se em escrever também esta homilia.

Uma lenda famosa tem a fonte do profeta como protagonista. Ela pára de jorrar na ausência dos carmelitas e volta a verter sempre que retornam.

Tais lendas são formas literárias simbólicas, com o largo uso da fantasia, que querem dizer, ao seu modo, verdades permanentes. Através delas Elias estabelece-se como o pai do Carmelo, inspirador de toda a Ordem, chamada a ser, por isso, profética como ele. Nele os carmelitas encontraram a exemplaridade eremítica e apostólica.

Os ventos que levaram os eremitas a aportarem no Monte Carmelo, foram os mesmos que levaram seus descendentes a encontrarem em Elias a perfeita expressão de seu "duplo espírito", da contemplação e da ação apostólica, do encontro com Deus no encontro com os irmãos, do divino e do humano.

O Carmelo, neste encontro com o Profeta, perpetua a tradição monástica que, já nos seus inícios, viu em Elias um exemplo inspirador da vida orante e solitária. Cassiano, Antão, Pacômio, Agostinho, Gregório Nazianzeno, e outros Padres da Igreja, todos exaltam a figura do Profeta sob este perfil.

De fato, o ciclo eliano, imortalizado no dois livros dos Reis, revelam o profeta como homem de solidão, que encontra Jahvé, que sofre solitariamente, que ora e jejua. A sua ascensão no fogo significa a paixão ardente pelo Absoluto e a sua dedicação ao Deus vivente.

De outro lado a Sagrada Escritura também nos dá testemunho dos momentos de empenho ativo do profeta em defesa da pureza da fé e da justiça. As suas lutas contra as várias opressões religiosas e econômicas não foram simples episódios esporádicos. A história da vinha de Nabot, a seca e o desafio do Monte Carmelo, o contraste com a caravana que vai consultar Baal-Zebub, têm, certamente, uma força imperativa a indicar o campo do mundo como lugar de uma ativa presença de quem arde de zelo por Deus.


A primeira tradição espiritual carmelitana enfatizou os valores eremíticos, orantes e solitários de Elias. Mas, já no século XIV, no contexto de uma dilatação do serviço apostólico e uma quase mínima experiência eremítica, começa a aparecer uma interpretação também apostólica de Elias. As duas frases bíblicas com que o Carmelo se refere a Elias: Vivit Deus ante cuius conspectum sto (I Re. 17,1) e Zelo zelatus sum pro Dominus Deo Exercituum (I Re. 19.10.14), representam os valores contemplativo e ativo dialeticamente conexos.

Ricos são os símbolos utilizados nos textos sagrados sobre o Profeta. Eles servem para expressar os aspectos mais característicos do profetismo de Elias. A seca, a chuva recordam a aridez da vida distante de Deus e a fecundidade de sua presença; o fogo, presente no sacrifício, no encontro com os soldados enviados pelo Rei, ou no momento de sua subida para o céu, sinaliza a força divina e o ardor do coração do profeta. Os fenômenos naturais no Monte Horeb expressam o modo como Deus povoa a solidão dos que se abrem à sua ação. Elias é só. Sente-se só na adoração a Deus; luta só contra os profetas de Baal; foge só; está a sós com Deus; quer que Eliseu o deixe, para ir sozinho aonde Deus lhe manda; sobe só aos céus. Só Deus pode povoá-lo. O manto, enfim, é significante do poder transmitido, do apoio, da fraternidade, do bem compartilhado.

Da importância que Elias tomou no Carmelo como figura em que a história da espiritualidade carmelitana concentrou as balizas da sua vida, são testemunhas os pais do Carmelo Descalço, Teresa e João da Cruz.
Por seis vezes Santa Madre recorda o Profeta em suas obras. Três das citações estão concentradas nas Moradas, o livro de ouro da Santa Madre, em que ela trata do cume da vida contemplativa (5M 1,3; 6M, 7,8; 7M, 4,13).
Em um de seus poemas conclama: “Caminhemos para o céu, monjas do Carmelo, ao Pai Elias seguindo, nós vamos contradizendo, com sua fortaleza e zelo”. Trata-se de duas virtudes caras a Teresa: determinada determinação, força de vontade, decisão firme e zelo pela causa de Deus, que se revela no serviço à Igreja. 
Em Fundações 27,17 relembra Santo Elias fugindo de Jezabel, quando sentia o cansaço nas suas caminhadas fundacionais (cf. tb. F. 28,20).

Também São João da Cruz cita o Profeta por seis vezes (S.II, 8,4;20,2; 24,3; S. III, 42,5; C.14, 14-15; Ch.2, 17). Em 5 citações refere-se a ele como "nosso pai"; em uma "o profeta".


A Ordem da Virgem

No mesmo século em que os Carmelitas esculpem teoricamente a imagem de Elias como seu fundador, o século XIV, empenham-se, com o mesmo entusiasmo, em cimentar a base mariana da Ordem. Maria vai-se apresentando como a alma mesma do frade, fundamento do seu modo de pensar e viver, de modo que nada nele há que não pertença à Santíssima Virgem. Daí o dizer que o "o Carmelo é todo de Maria".

Assim como o vínculo dos primeiros eremitas com Elias era evidente, por isso as lendas em torno dele tinham coerência lógica, também era patente a relação primitiva com a Virgem. A ela foi dedicado o primeiro oratório e a ela traziam gravada no nome. Os patronos tinham para a sociedade medieval uma importância muito maior que em nosso tempo. A consciência era de que os patronos não eram escolhidos, mas eles é quem escolhiam para si a igreja, a cidade, o país que protegiam. A importância era tanta que entre as cidades medievais havia uma disputa para ver qual o patrono era mais forte. O Brasil barroco, filho de Portugal, assumiu esta reverência pelo padroeiro. No interior de Minas Gerais encontra-se uma pequena cidade que mantém uma interessante tradição. Na câmara de vereadores existe uma cadeira vitalícia reservada para Santo Antônio, o padroeiro da cidade. É como se ele participasse da vida da comunidade. O salário de vereador é entregue todos os meses à paróquia local.

Ser patrona significava não só ter o dever de honrá-la, mas também de garantir sua proteção. Existia a concepção de uma relação recíproca: o fiel oferecia o obsequium e o servitium devoto e total ao titular e, em troca, recebia “ajuda” e “proteção”, “graças” e “benefícios”. Este é, justamente, o caso do monte Carmelo. O título mariano se transformará na origem de uma fonte espiritual profundamente encarnada. A Virgem Maria será a Patrona do grupo, e o grupo se sentirá unido a ela vital e existencialmente, considerando-se inclusive “instituído para honrá-la e servi-la”. Eles podiam reivindicar, com todo o direito, o título de “Irmãos da Virgem Maria do Monte Carmelo”. Maria era a Senhora absoluta dos Carmelitas.

O mais notável entre os teólogos carmelitanos daquele tempo, João Baconthorp, aplica a Maria a promessa divina feita em Isaías: Data est ei decor Carmeli - dar-te-ei a beleza do Carmelo. Para ele Maria é quem embeleza o Monte e o Monte é dela, ela é a Senhora do Carmelo, a Dominca Loci. O itinerário do Carmelita será o de tudo fazer para a sua honra e glória porque, segundo a vontade divina, esta é a razão da existência de sua Ordem. A vida do Carmelita exige, por isso, uma sincera e vasta imitação das virtudes contempladas em Maria, porque a conformidade é o meio melhor para a sua glorificação.

Senhora e mãe. É esta a tarefa desempenhada por Maria em suas relações com o Carmelo. Em resposta o frade empenha-se na conformidade a ela e na sua imitação.

Do antigo eremitério os frades reconhecem em Maria o modelo e guia para a fraternidade, com sua presença “em meio às celas” e no lugar do banquete eucarístico. Maria encarna a disponibilidade absoluta diante da Palavra de Deus, já que ela é a serva-escrava, a virgem puríssima e silenciosa. Na busca do rosto de Deus e na espera de seus dons, ela é a irmã de puro coração, concentrada na meditação dos mistérios salvíficos. Ela nos ensina a louvar a Deus em suas misericórdias e a ver a história à luz dos critérios de Deus. Ela é a patrona e a mãe, solícita e atenta para com seus filhos e irmãos, honrada por eles com o hábito e com o nome que levam, com os títulos litúrgicos e com a leitura dos textos bíblicos.

O título da Ordem, que oficialmente encontramos na bula de Inocêncio IV, heremitae fratres ordinis sancte Mariae de Monte Carmeli, de 1247, tem sua força inspiradora na capela que se encontra no meio das celas.

Dia a dia, a recíproca fidelidade se transforma em certeza e em identificação, será o homem novo com o que se identificarão e com o qual serão reconhecidos, vindo a ser assim em uma nova chave de leitura e de interpretação do próprio projeto de vida. A finalidade e o ideal é o de permanecer no seguimento de Cristo, seguindo as pegadas e o modelo da Mãe, com os sentimentos da Mãe e com as qualidades interiores da Mãe. Uma presença viva que se transforma em companhia existencial para o serviço do Senhor no caminho da fé. Esta convicção justificará o florescer dos distintos títulos marianos, presentes na história dos destinatários da Regra de Alberto de Jerusalém: da Patrona à Domina Loci; da Virgem Puríssima à irmã; da Mãe do Senhor à Mater et decor Carmeli; da Flos Carmeli à Stella Maris. 
Seguindo o exemplo daquela primeira capela, os Carmelitas consagraram à Virgem as Igrejas que aos poucos iam construindo junto aos seus primeiros conventos na Europa.

Por um período bastante longo, esta denominação na Europa foi objeto de discussão, do momento em que os adversários da nova Ordem – entre os quais veneravam também de modo particular a Mãe de Deus – julgavam ser a reivindicação deste título um sinal de arrogância. Por este motivo, os Carmelitas se viram constrangidos por muito tempo a defendê-lo com paixão, como podemos constatar pelos estatutos dos Capítulos gerais ocorridos entre 1294 e 1324, pelos quase todos os tratados escritos no século XIV, e do fato que esses – na Alemanha de 1287 e em Roma em 1379 – pediram indulgência para todos aqueles que tivessem chamado os Carmelitas com o título mariano. Eram beneficiados com indulgência todos os fiéis que, vendo um carmelita, o cumprimentassem com a saudação - Eis aí um filho da Virgem Maria!

Para não deixar dúvidas de que a Virgem Maria no nome dos frades era a Mãe do Senhor, acrescentaram ao Dei Genitrix - Mãe de Deus. Daquele momento em diante o título completo foi Fratres Dei Genitrix Mariae de Monte Carmelo - Irmãos da Mãe de Deus Maria do Monte Carmelo. Com o tempo o nome que se firmou foi Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do monte Carmelo.

Como as outras Ordens religiosas, também os carmelitas inseriram na fórmula da sua Profissão Religiosa o nome de Maria, de modo que prometiam obediência a Deus e à Beata Virgem do Monte Carmelo. Tal fórmula a encontramos já prescrita nas primeiras constituições que a Ordem se deu em 1281.

O Capítulo Geral de 1294 decretou que se inserisse o nome de Maria no Confiteor, e em 1312, estabeleceu-se de se recitar o oficio de Nossa Senhora a cada Sábado do mês ou pelo menos cada semana; devia-se cantar a cada dia a Missa da Beata Virgem Maria, e no calendário carmelitano foi inserida a festa da Imaculada Conceição, título este que os Carmelitas defendem, no bojo das discussões teológicas a respeito. O capitulo Geral de 1324 prescreveu enfim a Salve Regina em todas as horas canônicas do ofício divino.

Em relação à festa de Nossa Senhora do Carmo, houve, durante os séculos XIII e XIV, intentos de se celebrar uma festa que fosse própria. Celebravam-se, sim, a partir de meados do século XIII, as festas da Purificação, Anunciação, Assunção e Natividade. Em 1312 introduziu-se a festa da Imaculada Conceição. Somente no final do século XIV aparece a Comemoração solene da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. A primeira menção desta solenidade a temos em um calendário litúrgico próprio de 1386.

Da leitura dos textos litúrgicos da Commemoratio depreende-se que ela foi instituída para dar graças à Virgem pelos seus inumeráveis benefícios, principalmente por sua intervenção por ocasião da aprovação da Regra feita por Honório III. A festividade foi associada à memória da entrega do Escapulário até 1609, quando, a partir da Inglaterra, extendeu-se a toda a Ordem. Em 1624 a Espanha começa a celebrar esta festa. Benedito XIV extendeu a comemoração para toda a Igreja em 1726. No Brasil a comemoração foi elevada ao grau de festa em 1990, pela Conferência Nacional dos Bispos, por indicação de D. Pedro Fedalto, arcebispo de Curitiba.

A história consolidou o espírito mariano da Ordem, definitivamente.
O Carmelo é dela e ela toda do Carmelo.


Tendo o profeta como Pai e Maria como Mãe, o Carmelo não terá problemas de orfandade e com pais tão ilustres adquire respeito no seio da Igreja. Os carmelitas têm onde buscar inspirações para sua vida, posto que filhos de dois nascimentos, no dizer de Padre Vieira: 
“As duas cores e as duas peças do hábito carmelitano são a prova e a herança destes dois nascimentos. A prova e herança do nascimento do pai sem mãe é o manto branco, dado por Elias nas mãos de Eliseu carmelita; a prova e herança do nascimento de Mãe sem pai é o escapulário pardo, dado pela Virgem Maria nas mãos de Simão, também carmelita e geral santo dos carmelitas. Só parece diferença entre os dois nascimentos de Cristo e desta sagrada religião, que no nascimento de Cristo, o Pai era do céu e a Mãe da terra; no nascimento dos carmelitas, o pai era da terra e a Mãe do céu. Mas nesta troca do céu e terra tinham tanto de celestiais estes nascimentos, e tanto de celestiais estas duas peças ou divisas do hábito carmelitano, que a Mãe trouxe o escapulário descendo do céu à terra, e o pai lançou o manto subindo da terra ao céu.
Não há religião posto que todas sejam santíssimas que tivesse tais princípios, nem se possa gloriar de tais progenitores. E como estes benditos filhos foram duas vezes nascidos, e por duas gerações, ambas miraculosas, ambas singulares, ambas celestiais e divinas, não será excesso de devoção nem encarecimento de louvor, que com as mesmas vozes do Evangelho os aclamemos neste dia duas vezes bem-aventurados: bem-aventurados por filhos de tal Mãe: Beatus venter qui te portavit, e bem-aventurados por filhos de tal pai: Beati qui audiunt Verbum Dei et custodiunt illud” (sermão de Nossa Senhora do Carmo). 


"A devoção do Escapulário do Carmo fez descer sobre o mundo 
copiosa chuva de graças espirituais e temporais". (Pio XII)

O Escapulário ou Bentinho do Carmo é um sinal externo de devoção mariana, que consiste na consagração à Santíssima Virgem Maria, por meio da inscrição na Ordem Carmelita, na esperança de sua proteção maternal. O escapulário do Carmo é um sacramental. No dizer do Vaticano II, "um sinal sagrado, segundo o modelo dos sacramentos, por intermédio do qual significam efeitos, sobretudo espirituais, que se obtêm pela intercessão da Igreja". (S.C. 60)

Algumas informações:
Só pode benzer e impor Escapulário que estiver revestido de ordem sacra, ou seja, sacerdotes e/ou diáconos. Não importa qual seja o tamanho, matéria ou cor de que é feito o Escapulário. O seu uso diário e permanente, embora muito recomendado, não é essencial; essencial é o compromisso de viver cristãmente, à imitação de Maria Santíssima.


A Medalha-Escapulário substitui plenamente o próprio Escapulário. Quanto aos compromissos práticos, recomenda-se muito a recitação e a meditação do terço ou, pelo menos, uma parte dele ou qualquer outra prática de devoção a Maria.

Às paróquias do Carmo, Sodalícios da Ordem Carmelitana Secular, Confrarias do Carmo, Colégios, Hospitais, Asilos, Orfanatos consagrados a Nossa Senhora do Carmo recomenda-se a promoção dos Encontros da Família Carmelitana com a finalidade sobretudo, de estreitar os laços de verdadeira fraternidade cristã. Temos todos um mesmo ideal de santificação e de auxílio mútuo neste empreendimento - e isto se torna mais fácil se tivermos consciência de que somos uma grande Família, de que somos todos irmãos do CARMO!

O Poder do Escapulário
O Monte Carmelo, na Palestina, é o lugar sagrado do Antigo e Novo Testamento. É o Monte em que o Profeta Elias evidencia a existência e a presença do Deus verdadeiro, vendo os 450 sacerdotes pagãos do Baal e os 400 profetas dos bosques, fazendo descer do céu o fogo devorador que lhes extinguiu a vida. (III Livro dos Reis, XVIII, 19 seg.). É ainda o Profeta Elias que implora do Senhor chuva benfazeja, depois de uma seca de três anos e três meses (III Livro dos Reis, XVIII, 45).

É no Monte Carmelo que a tradição colocou a origem da Ordem Carmelitana. Alí, viviam eremitas entregues à oração e à penitência.


Há quem afirme que o primeiro oratório em louvor à Virgem Maria foi levantado no Monte Carmelo. Sempre foi transmitida a crença que aquela nuvem branca que surgiu do mar e se transformou em chuva benéfica é símbolo da Imaculada Conceição de Maria.

São Luis IX, rei da França, sobe ao Monte Carmelo. Encontra-se com aqueles eremitas e fica encantado, quando lhe contam que sua origem remonta ao Profeta Elias, levando uma vida austera de oração e penitência, cultivando ardente devoção à Nossa Senhora.

Trinta anos, antes de São Luis IX subir ao Monte Carmelo, dois cruzados ingleses levaram para a Inglaterra alguns monges.


Na Inglaterra, vivia um homem penitente, como o Profeta Elias, austero como João Batista. Chamava-se Simeão. Mas, diante de sua vida solitária na convacidade de uma árvore no seio da floresta, deram-lhe o apelido de Stock.

Dizem os historiadores que Nossa Senhora lhe apareceu, exortando-o a unir-se aos Monges Carmelitas.


Os Carmelitas transferiram-se do Oriente para a Europa, por causa das perseguições sofridas, com seus conventos destruídos, queimados, seus religiosos presos, mortos e os sobreviventes dispersos. Diferente porém não foi sua sorte na Europa.


São Simão Stock, unindo-se aos Carmelitas, tanto se distinguiu por sua piedade, austeridade, visão e liderança, acabando sendo eleito Superior de todos os Carmelitas da Europa, em 1245. Teve coragem de adaptar a vida dos Carmelitas, que devia ser um misto de contemplação e de atividade apostólica e pastoral. Preparou os Religiosos, mandando-os às Universidades. Isto desagradou aos mais velhos. Se não bastassem as dificuldades internas, o clero diocesano que não aceitava os frades mendigantes Franciscanos e Dominicanos, fez guerra também aos Carmelitas. São Simão Stock até pensou em mudar o hábito que tanto chamava a atenção na Europa.Sentindo ele sempre mais a oposição interna e externa e sendo já nonagenário, reconhecia que as provações eram superiores a suas forças.Foi então que recorreu com muita confiança à proteção de Nossa Senhora. Na noite de 16 de julho de 1251, no Convento de Cambridge, no condado de Kent, Inglaterra, assim rezava São Simão Stock na sua cela: "Flor do Carmelo, Vinha florífera, Esplendor do céu, Virgem fecunda, singular. Ó Mãe benigna, sem conhecer varão, aos Carmelitas dá privilégio, Estrela do Mar!".



Terminada esta prece, levanta os olhos marejados de lágrimas, vê a cela encher-se, subitamente, de luz. Rodeada de anjos, apareceu-lhe a Virgem Santíssima, revestida de esplendor, trazendo nas mãos o Escapulário dizendo a São Simão Stock, com inexprimível ternura maternal: "Recebe, filho queridíssimo, este Escapulário de tua Ordem, como sinal peculiar de minha fraternidade, como privilégio para ti e para todos os Carmelitas. Quem morrer revestido dele não sofrerá o fogo eterno. Eis um sinal de salvação, de proteçao nos perigos, eis uma aliança de paz e de eterna amizade".
Nossa Senhora voltou ao céu e o Escapulário permaneceu como sinal de Maria.
Na última aparição de Lourdes e de Fátima, Nossa Senhora traz o Escapulário. São passados 733 anos, desde o dia 16 de julho de 1251. Todos os que trouxeram o Escapulário, com verdadeira piedade, com sincero desejo de perfeição cristã, com sinais de conversão, sempre foram protegidos na alma e no corpo contra tantos perigos que ameaçam a vida espiritual e corporal. É só ler os anais carmelitanos para provar a proteção e a assistência de Maria Santíssima.

O Escapulário é a devoção de papas e reis, de pobres e plebeus, de homens cultos e analfabetos. É a devoção de todos. Foi a devoção de São Luis IX, de Luis XIII, Luis XIV da França, Carlos VII, Filipe I e Filipe III da Espanha, Leopoldo I da Alemanha, Dom João I, de Portugal.
E a devoção dos Papas: Bento XV o pontífice da paz, chamou o Escapulário a "arma dos cristãos" e aconselhava aos seminaristas que o usassem. Pio IX gravou em seu cálice a seguinte inscrição: "Pio IX, confrade Carmelita". Leão XVIII, pouco antes de morrer, disse aos que o cercavam: "Façamos agora a Novena da Virgem do Carmo e depois morreremos".



Pio XI escrevia, em 1262, ao Geral dos Carmelitas: "Aprendi a conhecer e a amar a Virgem do Carmo nos braços de minha mãe, nos primeiros dias de minha infância". Pio XII afirmava: "É certamente o Sagrado Escapulário do Carmo, como veste Mariana, sinal e garantia da proteção e salvação ao Escapulário com que estavam revestidos. Quantos nos perigos do corpo e da alma sentiram a proteção Materna de Maria".


O Papa João XXIII assim se pronunciou: "Por meio do Escapulário do Carmo, pertenço à família Carmelitana e aprecio muito esta graça com a certeza de uma especialíssima proteção de Maria. A devoção a Nossa Senhora do Carmo torna-se uma necessidade e direi mais uma violência dulcíssima para os que trazem o Escapulário do Carmo"
Paulo VI afirmava que entre os exercícios de piedade devem ser recordados o Rosário de Maria e o Escapulário do Carmo.


O Papa João Paulo II é devotíssimo de Nossa Senhora e coloca a recitação do Rosário entre suas orações prediletas. Ele quis ser Carmelita. Defendeu sua tese sobre São João da Cruz, o grande Carmelita renovador da Ordem.

"O escapulário é um sinal particular de união com Jesus e Maria. Para aqueles que o levam, é um sinal de filial abandono ao amparo da Virgem Imaculada. Que em nossa batalha contra o mal, Maria nossa Mãe nos envolva em seu manto. Eu vos confio à Sua proteção e vos abençôo de coração." (Papa Bento XVI)


John Mathias Haffert, autor do livro "Maria na sua Promessa do Escapulário", entrevistou a Irmã Carmelita Lúcia, a vidente de Fátima ainda viva e perguntou, por que na última aparição Nossa Senhora segurava o escapulário na mão? Irmã Lúcia respondeu simplesmente: "É que Nossa Senhora quer que todos usem o Escapulário".





O Valor e o Significado do Escapulário

O Escapulário de Nossa Senhora do Carmo é um sinal de Maternidade Divina de Maria. Como tal, representa o compromisso de seguir Jesus como Maria, o modelo perfeito de todos os discípulos de Cristo. 



O uso do Escapulário a Virgem nos ensina a: * Viver abertos a Deus e à sua vontade;
* Escutar e praticar a palavra de Deus;
* Orar em todo momento, descobrindo Deus presente em todas as circunstâncias;
* Estar aberto a caridade e as necessidades da Igreja;
* Alimentar a esperança do encontro com Deus na vida eterna pela proteção e intercessão de Maria.


O Escapulário do Carmo não é: * Um sinal de proteção mágica ou amuleto;
* Uma garantia automática de salvação;
* Uma dispensa de viver as exigências da vida Cristã.


O Escapulário em suas normas práticas:
* O Escapulário é imposto só uma vez por um sacerdote ou pessoa autorizada;
* O uso do Escapulário exige no mínimo a oração de três Ave-Marias em honra a Nossa Senhora do Carmo;
* O Escapulário compromete com uma vida autêntica de Cristãos que se conformam com as exigências evangélicas, recebem os sacramentos e professam uma especial devoção à Santíssima Virgem.




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