sexta-feira, 24 de junho de 2011

Natividade de São João Batista

Ut queant laxis Resonare fibris Mira gestorum Famuli tuorum Solve polluti Labii reatum Sancte Ioannes.


Para que teus servos, possam ressoar claramente a maravilha dos teus feitos, limpe nossos lábios impuros, ó São João.

Como a Santa Mãe de Deus, dele também se celebra a data de dois nascimentos: para a vida terrena, em 24 de junho, e para a vida eterna em 29 de agosto. 

Neste dia 24 de junho, os cristãos do Oriente e do Ocidente celebram o nascimento de São João Batista. Também coincide, nas duas tradições, a data em que se celebra o seu martírio em 29 de agosto. No Oriente bizantino, porém, as comemorações do grande Profeta e Precursor são sem dúvida mais numerosas. Com relação ao nascimento, os calendários bizantinos assinalam, no dia 23 de setembro, a data da concepção do “glorioso Profeta, Precursor João, o que batizou Jesus no Jordão”. Antigamente também os martirológios latinos registravam essa comemoração em 24 de setembro; porém a partir do século XV foi abolida. Na tradição oriental é comum iconografar São João Batista na forma de um Anjo. Com efeito “era mais que um homem”, como diz o evangelho, e a palavra “mensageiro” em grego aggeloV coincide com nossa tradução”. Sendo um dos santos mais venerados no Oriente bizantino, é compreensível que muitas sejam as formas de representá-lo em ícones: encontramo-lo representado sozinho, ou em episódios da sua vida, especialmente o da sua decapitação. João é filho de Zacarias que, por causa de sua pouca fé, tornou-se mudo, e de Isabel, aquela que era estéril. O nascimento de João Batista anuncia a chegada dos tempos messiânicos, nos quais a esterilidade se tornará fecundidade e o mutismo, exuberância profética. 

O profeta João Batista era filho do sacerdote Zacarias (da geração de Aarão) e da justa Isabel (da geração de Davi). Eles moravam perto de Hebron, nas montanhas, ao sul de Jerusalém. Ele era parente do Nosso Senhor Jesus Cristo por parte de sua mãe e nasceu 6 meses antes Dele. Conforme nos relata o Evangelho, o arcanjo Gabriel apareceu ao seu pai no templo, anunciando o nascimento do seu filho. E eis, na justa família de pais idosos, que não tiveram filhos, enfim nasce um filho que eles sempre pediram a Deus. 

Pela graça de Deus ele não foi morto no meio de milhares crianças massacradas em Belém e seus arredores. São João cresceu num deserto inóspito, preparando-se através de uma vida austera para a grande missão — jejuando, rezando e meditando sobre as coisas Divinas. Ele vestia uma veste rústica, de pêlos de camelo e um cinturão de couro, e comeu mel silvestre e gafanhotos. Ele permaneceu lá no deserto até, aos trinta anos, ser chamado pelo Senhor para a pregação ao povo judeu. 

Obedecendo à esta chamada, o profeta João foi até o rio Jordão, para preparar o povo para a recepção do esperado Messias (Cristo). Preparando-se para a festa de purificação, o povo costumava vir até o rio para as abluções rituais. E foi aqui que João começou pregar a eles a penitencia e o batismo para a remissão dos pecados. A essência de sua pregação visava a mostrar ao povo que antes de lavar o corpo, é necessário purificar-se espiritualmente, e desta maneira preparar-se para a aceitação do Evangelho. Naturalmente, o batismo de João ainda não era o batismo cristão, efetuado pela obra Divina. O sentido deste batismo era preparar o povo para o batismo futuro pela água e pelo Espírito Santo. 

Numa das orações o profeta João é comparado à uma estrela da manhã, que com o seu brilho excedia o brilho de todas as outras estrelas e anunciava a manhã do dia abençoado, iluminado pelo Sol espiritual de Cristo (Mal. 4:2). Quando a espera de Messias chegou ao seu ponto culminante, o Próprio Salvador do mundo, Senhor Jesus Cristo veio até João no rio Jordão para ser batizado. O batismo de Cristo foi acompanhado por fenômenos milagrosos — a descida do Espírito Santo na forma de um pombo e a voz de Deus Pai do céu: «Este é o Meu Filho amado...» 

Tendo recebido a revelação a respeito de Jesus Cristo, o profeta João dizia ao povo: «Este é o Cordeiro de Deus, que toma sobre Si os pecados do mundo». Quando dois dos discípulos de João ouviram isto, eles logo seguiam Jesus Cristo. Estes dois discípulos eram João o Teólogo e André, o Primeiro Chamado, irmão do Simão Pedro. 

Com o ato de batismo, o profeta João como que terminasse a sua missão profética. Ele não tinha medo de mostrar todos os vícios e pecados tanto dos homens simples, como dos poderosos. Por tudo isto ele logo sofreu. 

O rei Herodes Antipas (filho do Herodes Grande) mandou prender o profeta João e mete-lo na prisão porque o profeta o acusava de ter abandonado a sua legitima esposa (filha do rei da Arábia, Arefa) e convivendo em concubinato com a Herodíades. Herodíades era esposa do irmão de Herodes, Felipe. 

Herodes promoveu um banquete no dia do seu aniversário, do qual participaram muitos convidados. Salomé, filha da ímpia Herodíades, dançava uma dança sensual e Herodes, junto com os outros convidados, ficou tão fascinado, que jurou à Salomé cumprir qualquer desejo dela, até presenteá-la com a metade do seu reino. A bailarina, ensinada pela sua mãe, pediu lhe dar num prato a cabeça de João Batista. Herodes respeitava João como profeta e portanto entristeceu-se com este pedido. Porém, ele teve vergonha de quebrar o juramento e assim mandou o guarda para a prisão para decapitar o profeta. A cabeça do João foi entregue à moça, a qual levou-a até a sua mãe. Herodíades, após ter profanado a cabeça do santo, a jogou num lugar imundo. Os discípulos do João Batista sepultaram o corpo dele na cidade de Sebaste, na Samária. 

No ano 38 d.C. Herodes foi castigado pelo seu crime: o seu exército foi derrotado por Arefa, que empreendeu a campanha militar contra ele para vingar a desonra de sua filha, abandonada por Herodes por causa da Herodíades, e no ano seguinte, o imperador de Roma, Calígula, condenou Herodes e o deportou para uma prisão. 

Conforme a tradição, o Evangelista Lucas, que visitava várias cidades, pregando o Evangelho, levou consigo da Sebaste uma parte da relíquia do grande profeta — a sua mão direita. No ano 959, quando os maometanos conquistaram a Antioquia, (durante o reinado do imperador Constantino Porfirogenito), o diácono Jó trasladou a mão do Precursor da Antioquia para a Calcedonia, de onde ela foi levada para a Constantinopla e onde ela foi guardada até a tomada da cidade pelos turcos. Depois, a mão direita do são João Batista foi guardada em São Petersburgo, na igreja de Nosso Senhor Aquiropita, no Palácio de Inverno. 

A santa cabeça do são João Batista foi encontrada por uma mulher piedosa, Joana, e sepultada numa urna no monte das Oliveiras. Mais tarde, um asceta que estava cavando o solo, preparando o lugar para alicerces de uma nova igreja, achou a relíquia e a guardou consigo. Antes da sua morte, temendo a profanação por parte dos ímpios, ocultou-a na terra no mesmo lugar onde ela foi achada. Durante o reinado do imperador Constantino Grande, dois monges vieram para Jerusalém, para orar no Santo Sepulcro. São João Batista apareceu a um deles em sonho indicando, onde estava enterrada a sua cabeça. A partir desta data, os cristãos começaram a festejar o Primeiro Achado da cabeça do São João Batista. 

Foi sobre o João Batista que Jesus disse: «Entre os nascidos de mulher não existe profeta nenhum maior do que João Batista». João Batista é glorificado pela Igreja como «um anjo, apóstolo, mártir, profeta, círio e amigo de Cristo, o selo dos profetas e intercessor da velha e nova graça, e entre os nascidos, a mais venerável e luminosa voz do Verbo».

"Ele é que deve crescer, e eu diminuir" (Jo 3, 30)
Na louvada memória do justo,
tu, Precursor, és o testemunho do Senhor:
verdadeiramente, foste mais venerável do que os profetas,
pois recebeste a honra de batizar o Messias nas águas do rio; 
sofreste com alegria pela verdade,
anunciaste àqueles que estavam ainda no inferno 
a vinda de Deus feito Homem, 
que redime os pecados do mundo e nos dá a grande graça.





Orígenes, presbítero e teólogo, Homilia 6 
Admiremos João Batista por causa do seguinte testemunho: "Entre os filhos de mulher, ninguém ultrapassa João Batista" (Lc 7,28); ele mereceu ser elevado a uma tal reputação de virtude que muitas pessoas pensavam que ele era o Cristo (Lc 3,15). Mas há uma coisa ainda mais admirável: Herodes, o tetrarca, detinha poder real e podia fazê-lo morrer quando quisesse. Ora ele tinha cometido uma ação injusta e contrária à lei de Moisés ao tomar a mulher do seu irmão. João, sem ter medo dele nem fazer acepção de pessoas, sem dar importância ao poder real, sem recear a morte..., sem escamotear qualquer destes perigos, repreendeu Herodes com a liberdade dos profetas e condenou o seu casamento. Lançado na prisão por causa desta audácia, não se preocupou nem com a morte nem com um julgamento com sentença incerta mas, a partir do cárcere, os seus pensamentos iam para o Cristo que ele tinha anunciado. 
Não podendo ir em pessoa ao seu encontro, envia os seus discípulos para lhe trazerem informações: "Tu és aquele que deve vir ou temos que esperar outro?" (Lc 7,15). Notem bem que, mesmo na prisão, João ensinava. Mesmo naquele lugar ele tinha discípulos; mesmo na prisão, João cumpria o seu dever de mestre e instruía os seus discípulos, conversando sobre Deus. 
Nestas circunstâncias, levantou-se a questão de Jesus e João envia-lhe alguns discípulos... Os discípulos regressam e trazem ao mestre o que o Salvador lhes tinha encarregado de anunciar. Essa resposta foi para João uma arma para enfrentar o combate; morre com confiança e com grande coragem se deixa decapitar, seguro na palavra do próprio Senhor em como aquele em quem acreditava era verdadeiramente o Filho de Deus. Esta foi a liberdade de João Batista, aquela foi a loucura de Herodes que, aos seus numerosos crimes, acrescentou primeiro a prisão, depois o martírio de João Batista.



PAPA BENTO XVI 
ANGELUS 

Domingo, 24 de Junho de 2007
Solenidade da Natividade de São João Baptista 
Queridos irmãos e irmãs! 
Hoje, 24 de Junho, a liturgia convida-nos a celebrar a solenidade do Nascimento de São João Baptista, cuja vida está toda orientada para Cristo, como a da mãe d'Ele, Maria. João Baptista foi o precursor, a "voz" enviada para anunciar o Verbo encarnado. Por isso, comemorar o seu nascimento significa na realidade celebrar Cristo, cumprimento das promessas de todos os profetas, dos quais o Baptista foi o maior, chamado para "preparar o caminho" diante do Messias (cf. Mt 11, 9-10). 
Todos os Evangelhos iniciam a narração da vida pública de Jesus com a narração do seu baptismo no rio Jordão por obra de João. São Lucas situa a entrada em cena do Baptista com uma moldura histórica solene. Também o meu livro Jesus de Nazaré se inspira no baptismo de Jesus no Jordão, acontecimento que teve grande ressonância no seu tempo. De Jerusalém e de todas as partes da Judeia o povo acorria para ouvir João Baptista e fazer-se baptizar por ele no rio, confessando os próprios pecados (cf. Mc 1, 5). A fama do profeta baptizador cresceu a tal ponto que muitos perguntavam se era ele o Messias. Mas ele ressalta o evangelista negou-o decididamente: "Eu não sou o Messias" (Jo 1, 20). Contudo, ele permanece a primeira "testemunha" de Jesus, tendo recebido a indicação do Céu: "Aquele sobre Quem vires o Espírito descer e permanecer é que baptiza no Espírito Santo" (Jo 1, 33). Isto acontece precisamente quando Jesus, tendo recebido o baptismo, saiu da água: João viu descer sobre Ele o Espírito como uma pomba. Foi então que "conheceu" a plena realidade de Jesus de Nazaré, e começou a dá-lo a "conhecer a Israel" (Jo 1, 31), indicando-o como Filho de Deus e redentor do homem: "Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1, 29). 
De profeta autêntico, João deu testemunho da verdade sem condescendências. Denunciou as transgressões dos mandamentos de Deus, também quando os protagonistas eram os poderosos. 
Assim, quando acusou de adultério Herodes e Herodíades, pagou com a vida, selando com o martírio o seu serviço a Cristo, que é a Verdade em pessoa. Invoquemos a sua intercessão, juntamente com a de Maria Santíssima, para que também nos nossos dias a Igreja saiba manter-se sempre fiel a Cristo e testemunhar com coragem a sua verdade e o seu amor a todos.

Logo ao nasceres não trazes mancha, 
João Batista, severo asceta, 
Mártir potente, do ermo amigo, 
grande profeta. 

De trinta frutos uns se coroam; 
a fronte de outros o dobro cinge. 
Tua coroa, dando três voltas, 
os cem atinge.

Assim cingido de tanto mérito,
retira as pedras do nosso peito,
torto caminho, chão de alto e baixo,
torna direito.

Faze que um dia, purificados,
vindo a visita do Redentor,
possa em nossa alma, que preparaste,
seus passos pôr. 

A vós, Deus Único, o céu celebra,
Trino em pessoas canta também.
Mas nós na terra, impuros, pedimos
perdão. Amém.



Doce, sonoro, ressoe o canto, 
minha garganta faça o pregão. 
Solta-me a língua, lava-me a culpa, 
ó São João! 

Anjo no templo, do céu descendo, 
teu nascimento ao pai comunica, 
de tua vida preclara fala, 
teu nome explica. 

Súbito mudo teu pai se torna, 
pois da promessa, incréu, duvida: 
apenas nasces, renascer fazes a voz perdida. 

Da mãe no seio, calado ainda, 
o Rei pressentes num outro vulto. 
E à mãe revelas o alto mistério 
do Deus oculto. 

Louvor ao Pai, ao Filho unigênito, 
e a vós, Espírito, honra também: 
dos dois provindes, com eles sois 
um Deus. Amém.

Ó Deus, que suscitastes São João Batista, a fim de preparar para o Senhor um povo perfeito, concedei à vossa Igreja as alegrias espirituais e dirigi nossos passos no caminho da salvação e da paz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. 


Fontes:

Nenhum comentário:

Postar um comentário