sexta-feira, 25 de março de 2011

Dia da Anunciação

Ave, do mar Estrela, bendita Mãe de Deus,
fecunda e sempre Virgem, portal feliz dos céus.
Ouvindo aquele Ave do anjo Gabriel,
mudando de Eva o nome, trazei-nos paz do céu.

Não temas, ó Maria, por Deus agraciada; 
haverás de conceber um Menino e o dar à luz; 
seu nome há de ser: o Filho do Altíssimo.
Neste dia, a Igreja festeja solenemente o anúncio da Encarnação do Filho de Deus. O tema central desta grande festa é o Verbo Divino que assume nossa natureza humana, sujeitando-se ao tempo e espaço. 

Hoje é o dia em que a eternidade entra no tempo ou, como afirmou o Papa São Leão Magno: "A humildade foi assumida pela majestade; a fraqueza, pela força; a mortalidade, pela eternidade."

Com alegria contemplamos o mistério do Deus Todo-Poderoso, que na origem do mundo cria todas as coisas com sua Palavra, porém, desta vez escolhe depender da Palavra de um frágil ser humano, a Virgem Maria, para poder realizar a Encarnação do Filho Redentor:

"No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem e disse-lhe: ‘Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.’ Não temas , Maria, conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Maria perguntou ao anjo: ‘Como se fará isso, pois não conheço homem?’ Respondeu-lhe o anjo:’ O Espírito Santo descerá sobre ti. Então disse Maria: ‘Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tu palavra’" (cf. Lc 1,26-38).


Sendo assim, hoje é o dia de proclamarmos: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1,14a). E fazermos memória do início oficial da Redenção de TODOS, devido à plenitude dos tempos. É o momento histórico, em que o SIM do Filho ao Pai precedeu o da Mãe: "Então eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade" (Hb 10,7). Mas não suprimiu o necessário SIM humano da Virgem Santíssima.

Cumprindo desta maneira a profecia de Isaías: "Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco" (Is 7,14). Por isso rezemos com toda a Igreja:

"Ó Deus, quisestes que vosso Verbo se fizesse homem no seio da Virgem Maria; dai-nos participar da divindade do nosso Redentor, que proclamamos verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Por nosso Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo".
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“Akáthistos” é uma palavra grega que significa “não sentado”, de pé. Esse hino do século VI é cantado sempre de pé. O hino Akáthistos canta o mistério da encarnação salvífica do Verbo de Deus, descreve a maternidade de Maria e canta seu papel no mistério de Cristo e da Igreja. O Papa João Paulo II o denominou “um esplêndido hino”. Os estudiosos da Mariologia dizem que é o mais belo hino dedicado a Nossa Senhora.

No século VI, no Oriente, começou a ser cantado o hino Akáthistos – palavra grega que significa não sentado, de pé. Trata-se do mais célebre hino mariano, a mais bela composição mariana do rito bizantino, “um esplêndido hino” (João Paulo II, 25.3.88).


Akáthistos canta o mistério da encarnação salvífica do Verbo de Deus, descreve a maternidade de Maria e canta seu papel no mistério de Cristo e da Igreja. Não é possível precisar o autor desse hino. Certamente trata-se de um grande poeta, um eminente teólogo, um profundo contemplativo. O autor teve o mérito de traduzir, numa oração, a síntese da fé que a Igreja dos primeiros séculos professava a Maria. Tudo indica que esse hino, cujo original é em grego, tenha sido composto entre a segunda metade do século V e os primeiros anos do século VI, em Constantinopla.


“Queremos que este cântico universal, este poderoso e dulcíssimo hino seja a profecia de uma humanidade nova, a dos redimidos que no cântico de louvor se reconhecem irmãos. E enquanto a experiência cotidiana nos põe diante das múltiplas formas de mal, que derivam da pobreza do nosso limite, a renovada contemplação da comum salvação no Verbo, encarnado no seio da Virgem, é anúncio constante de uma nova fraternidade naquele único Senhor, irmão e mestre, carne da nossa carne, no qual a criação vence toda a opacidade e se faz transparência do Invisível. [...] A história da Virgem é a história dos redimidos, a história de toda a criatura” (João Paulo II, 25.3.1988).


Divide-se o Akáthistos em duas partes: A primeira parte (estâncias de 1 a 12), seguindo o Evangelho da infância (Lc 1-2; Mt 1-2), propõe e comenta a teofania, isto é, o aparecimento e a primeira revelação histórica de Deus na carne humana assumida, com os efeitos salvíficos que daí derivam. As primeiras seis (de 1 a 6) estâncias do hino, de conotação cristológica, encenam e cantam a descida do Verbo e sua manifestação às primeiras testemunhas: a Virgem-Mãe, João Batista, Isabel e José. As outras seis estâncias (de 6 a 12), de conotação eclesial, mostram a epifania de Deus no mundo, portadora de luz e graça para todos: os protagonistas e beneficiários os pastores, os magos, os redimidos da escravidão dos ídolos e o justo Simeão, modelo da espera de Israel.

A segunda parte do hino (estâncias de 13 a 24) propõe a teologia da Igreja antiga, isto é, a profissão dos dogmas de fé relacionados a Maria: as primeiras seis estâncias (de 13 a 18) a contemplam imersa no mistério de Cristo, enquanto as últimas seis (de 19 a 24) a cantam presente no mistério da Igreja em curso.

1. Deus envia o anjo para fazer a saudação; o mistério se realiza em Maria; explode a alegria, cessa a condenação, renova-se a criação.

2. A estupefação de Maria: a criatura encontra-se diante da misteriosa iniciativa de Deus.

3. Diante do evento misterioso surge espontaneamente a pergunta: “como?”. Respondendo-lhe o anjo lhe revela que somente ela‚ tão profundamente iniciada na experiência do divino a ponto de tornar-se guia para a ascensão do homem.

4. Descendo, o Espírito Santo cobre a Virgem, tornando seu ventre em terra-virgem fecunda de graças.

5. A visitação: à saudação de Maria, o mistério se revela a João e o toca em seu íntimo; floresce o perdão, a misericórdia se difunde; Maria é a sua mediadora e o seu altar.

6. O mistério é revelado a José, a “testemunha” virginal.

7. A adoração dos pastores: prefiguração dos apóstolos, dos pastores e dos mártires, que ao longo dos tempos anunciam e confessam Cristo, nascido da Virgem, que assim como vestiu de carne o Senhor, reveste de glória os fiéis.

8. A chegada dos magos: ao anúncio de fé pregado pelos pastores, o homem que o acolhe encaminha-se em busca de Deus. Inicia-se o itinerário catecumenal, que se conclui em Maria, de quem, se fez carne a Palavra do Pai.

9. A adoração dos magos: o caminho catecumenal do homem se conclui com a renúncia a Satanás e aos vícios e com alegre adesão ao único Senhor, de que é artífice e marco a Mãe de Deus.

10. Os magos retornam à sua terra e, na própria vida, o neófito torna-se arauto de Cristo.

11. Como prenunciava Isaías (Is 19,1), Cristo entra no Egito, levado por Maria; Desmoronam os ídolos e atrás dela inicia-se o êxodo no novo povo em direção à terra prometida.

12. O encontro com Simeão; a espera e a sabedoria do homem se iluminam em Cristo.

13. A concepção virginal : com novo prodígio, renasce a vida; a santidade e a obediência virginal da nova Eva se contrapõem à obediência da antiga e a cancelam reconciliando o mundo com Deus.

14. Em Cristo, o homem retorna às origens, no Verbo encarnado se lhe abrem os céus.

15. A maternidade divina como vértice supremo, trono de Deus e único caminho para que o homem perdoado torne-se “deus”.

16. Também para os anjos o mistério do Verbo encarnado é nova luz de conhecimento e de êxtase.

17. O parto virginal, abismo de sabedoria divina: a luz da sabedoria humana rejeita o mistério; a verdadeira sabedoria é a fé dos simples, que encontra em Maria a sua luz.

18. Nós jamais teríamos podido nos aproximar de Deus, se ele não houvesse descido, humilde, entre nós, para nos salvar e atrair-nos suavemente para si.

19. A virgindade perpétua de Maria, início da santa Igreja, sublime modelo para os virgens; Maria, que no seu ventre desposou Deus, ao homem, agora conduz os virgens e os desposa ao Verbo de Deus.

20. o primeiro dever dos virgens é o culto a Deus; por mais que prolongue suas louvações, o homem nunca chega a celebrar dignamente os benefícios divinos.

21. A maternidade espiritual de Maria, a “Mãe da Igreja” , da mesma forma que gerou a Cabeça segundo a carne, não cessa de nela regenerar os seus membros, com os sacramentos que infundem a luz e a vida, tendo brotado do seu seio e do seu coração.

22. A nossa regeneração nasce do mistério pascal, que tem suas raízes no seio virginal, com efeito, para a nossa salvação, Cristo desceu do céu e se encarnou em Maria Virgem.

23. A mediação celeste: Maria é templo e arca que acompanha e protege a Igreja peregrina na santa conquista da pátria celeste; é refúgio e esperança de cada fiel.

24. A nossa advogada: que a Mãe de Deus nos salve de todo perigo e do último castigo.

A trama do hino gira em torno de três palavras: a saudação do anjo, “AVE”, que desencadeia toda a louvação, e os dois refrões: “AVE, VIRGEM E ESPOSA” e “ALELUIA”.

AVE: o Akáthistos inicia quando o anjo desce do céu, enviado por Deus para dar anúncio de júbilo a Virgem e, por seu intermédio, a toda a terra: O mais excelso dos anjos foi enviado do céu para dizer “ave” à mãe de Deus(o termo grego Kaire = alegra-te = ave). Todo entrelaçamento do hino e o seu cenário estão envolvidos para a alegria do céu. Com efeito, é um evangelho de alegria que, em Maria, se abre para o mundo: o anúncio de que Deus se fez homem!

AVE VIRGEM ESPOSA: desposada com Deus, mas não desposada com homem; uma posse pessoal exclusiva do Pai, Filho e Espírito, mas virgem de toda posse de natureza humana. Assim, o refrão coloca a figura Virgem na própria fronteira entre o criado e o incriado, quase como vértice extremo da ascensão humana, que mergulha no esplendor divino e por ele é inteiramente revestida, sem perder as suas propriedades de criatura.

ALELUIA: o refrão das estâncias pares, glorifica só o Senhor, de quem parte a iniciativa, brota a vida, inicia a história e se difunde a graça e em quem terminam, mergulhados em Cristo, através do Espírito, na contemplação da divindade, o itinerário espiritual de todo homem e o itinerário cósmico.

Na visão teológica do Akáthistos, Maria está presente e ativa em toda a extensão do mistério: onde quer que a humanidade de Cristo seja fonte de vida, ali está Maria, que lhe deu sua carne, ali está inscrita a sua figura virgem e sua ação de Mãe.

Hoje como ontem, a Virgem é presença ativa na Igreja peregrina: sustentáculo para a fé, para os apóstolos, força para os mártires, já que todos, em toda parte, anunciam e testemunham Cristo, que ela nos deu.

O autor do Akáthistos certamente foi um grande poeta, um insigne teólogo, um consumado contemplativo: tão grande que soube traduzir em síntese de oração a fé professada pela Igreja; tão humilde que desapareceu anonimamente. O seu nome é conhecido por Deus e ignorado pelo mundo. E é melhor que assim seja: desse modo, o hino é de todos, porque é da Igreja. Segundo os estudos mais recentes, a data de composição do Akáthistos oscila entre a segunda metade do século V e os primeiros anos do século VI.

Valor Ecumênico 

O Akáthistos é comum aos irmãos ortodoxos e aos católicos de rito bizantino: é uma vetusta e solene ponte no sentido da plena comunhão de fé com as igrejas do Oriente. Mas também para os irmãos evangélicos do ocidente para os quais o culto a Maria ainda constitui pedra de tropeço, ele poderia representar um autêntico valor e uma base de diálogo: por sua antigüidade; pela fórmula laudatória , que, se bem compreendida, redunda em glória do Senhor; pelo substrato cristológico-eclesial; pela doutrina rica e sóbria, isenta de exaltações, que desemboca no próprio mistério da encarnação, isto é, no primeiro artigo de fé cristológica professado por todas as igrejas.




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