quinta-feira, 10 de março de 2011

Quaresma

por Dom Hilário





O Carnaval se foi. Com ele se foram as folias e tudo o mais que costuma acompanhá-lo de bom e de ruim. Agora, aos olhos do cristão abre-se a porta da Quaresma, ou seja, da conversão. A quarta-feira de Cinzas é o símbolo do retorno aos braços do Pai e do esforço para crescer no seguimento de Jesus até o Calvário, onde está plantada a cruz da morte e o sepulcro vazio da ressurreição. É a Páscoa que desponta no horizonte. Vamos com alegria e decisão ao seu encontro!

A Quaresma e a Páscoa que a encerra evocam o batismo. O acontecimento da morte e da ressurreição de Jesus tornou-se também meu por meio do batismo, conforme ensina São Paulo: “Ignorais que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte?” (Romanos 6,3). E ainda: “Sepultados com Cristo no batismo, foi também com Ele que ressuscitastes” (Colossenses 2,12).

Conclusão: a Quaresma me propõe retornar à fonte batismal onde eu fui lavado do pecado e onde a vida divina invadiu todo o meu ser; ali me tornei templo da Trindade e fui inserido na comunidade de Jesus, a Igreja. A Quaresma também me convida a um exame de consciência para conferir se estou ou não caminhando pelo caminho do Evangelho e do seguimento de Jesus. Em resumo, a pergunta é esta: realmente sou “cristão” (de Cristo), sou discípulo do Mestre morto e ressuscitado?

Na Quaresma fala-se sempre em conversão, isto é em “voltar” para Deus e em “voltar-se” para Deus. “Voltar” para Deus é para aqueles que “se voltaram” contra Deus pelo pecado. “Voltar-se” para Deus é para todos. Minha peregrinação sobre a terra deve ter uma bússola, uma estrela que me orienta a buscar constantemente a face de Deus. Não no sentido de buscar experiências espirituais extraordinárias, mas no sentido de nunca permitir que Deus desapareça do horizonte da minha vida de cada dia. Se isso acontecer, seria como se o sol desaparecesse: tudo morreria de frio. Por isso, a minha primeira preocupação quaresmal deve ser a de dar a Deus o primeiro lugar que Ele merece em minha vida.

Deus se fez próximo a mim em Jesus, seu Filho feito meu Irmão. Jesus é o Caminho, a Verdade, a Vida, a Luz, a Ressurreição; Jesus é Deus! Assim, para que Deus seja o “sol” da minha vida, basta seguir Jesus. E você sabe que o caminho percorrido por Jesus neste mundo (e proposto a mim também) não foi um caminho enfeitado de rosas; houve muitos espinhos que o arranharam, e todo mundo sabe como a história terminou: na cruz! Por isso, meu exame de consciência na Quaresma precisa passar por Jesus, pelo seu Evangelho, pelo mesmo caminho que Ele percorreu. Por onde andei até agora? Que caminhos percorri longe dEle? É sempre tempo de “voltar” (converte-se) a Jesus. Nesta Quaresma Ele me espera...

O próprio Jesus me propõe um caminho concreto a percorrer durante a Quaresma: jejum, esmola e oração. O jejum, mais do que abster-se de alimentos (o que também é útil para o corpo e para a alma, quando feito com moderação), é um convite para “fazer jejuar” o demônio e o pecado, isto é, para a renúncia a tudo aquilo que pode me afastar de Jesus. A esmola, mais do que tirar do bolso algum trocado (o que também é conveniente em certas circunstâncias), é ser solidário com as pessoas, particularmente as mais necessitadas; é perdoar as ofensas, reconciliar-se com quem está indisposto com a gente, participar da vida da comunidade eclesial, dispor-se ao serviço dos outros (aqui também se insere a Campanha da Fraternidade). A oração, mais do que multiplicar orações (claro que rezar é indispensável), consiste em ter o coração constantemente “voltado” para Jesus, ouvir sua Palavra, buscar o perdão dos pecados pelo sacramento da Penitência, alimentar-se da Eucaristia.

Para não ir longe demais e não complicar a vida espiritual, durante toda a Quaresma, em preparação para a Páscoa, tenha na sua mente e no seu coração, estas quatro realidades: batismo, jejum, esmola e oração. Caminhe por esse caminho, que é o “caminho de Jesus”. Como Ele, você passará pela cruz (renúncia), como Ele abrirá seu coração ao amor (esmola), como Ele cumprira´em tudo a vontade do Pai (oração). Fazendo isso, sua vida divina (batismo) retomará vigor e você se tornará mais filho/a de Deus, mais discípulo/a de Jesus, mais templo do Espírito Santo, mais irmão/a de todos na Igreja e no mundo. Então, sim, você poderá dizer que, como Jesus, está de fato preparado para celebrar a Páscoa.

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