quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

INICIAÇÃO CRISTÃ: BATISMO E CRISMA




O que é a “iniciação cristã”? “Iniciar” alguma pessoa em alguma coisa significa explicar-lhe o sentido do que ela pretende saber, fazer ou ser e levá-la a fazer experiência da nova realidade em que está sendo iniciada. A expressão “iniciação cristã” se refere ao caminho que se deve seguir para que uma pessoa conheça Jesus Cristo, aprenda a ser “cristã”, seguidora do Mestre. Isso envolve instrução, treino, aprendizagem e vivência.

Da mesma forma como o agricultor planta a sementinha de uma árvore frutífera e em seguida cuida para que a semente germine, cresça, forme tronco, ramos e folhas, e finalmente produza flores e frutos; assim também a semente da Palavra de Deus, semeada no coração de quem se aproxima de Cristo, deve ser cultivada para que germine, floresça e produza frutos de vida eterna. Isso é a iniciação cristã. Ela se dá pelo conhecimento da Palavra de Deus transmitida pela Igreja, pela fé em Jesus, pelo esforço de conversão, pela recepção dos sacramentos do Batismo, da Crisma (Confirmação) e da Eucaristia: são esses três sacramentos que “fazem o cristão”.

Vejo que você já levanta um questionamento. Você me diz: que sentido pode ter para mim a iniciação cristã, se fui batizado/a quando criancinha, fiz a primeira Comunhão sem ter muita noção do sentido da Eucaristia e recebi a Crisma entendendo muito pouco do que estava acontecendo?

Boa pergunta. Este é um dos problemas mais sérios da vida da Igreja, de modo especial no Brasil. Digamos que você nasceu num país católico (hoje, cada vez menos...), numa família católica, foi batizado/a criancinha, a catequese da sua paróquia deixou a desejar, nem sempre os/as catequistas se sentiam devidamente preparados, recebeu os sacramentos da Eucaristia e da Crisma atendendo ao pedido do padre, como queria a família, como manda o costume e... pronto. Você se tornou “cristão”; na prática, você “nasceu católico”... Entretanto, – agora lhe pergunto: você tem consciência do que significa “ser cristão”? Você vive de fato como “cristão”, isto é, como “seguidor de Cristo”? Eis o problema.

É que no fundo faltou a “iniciação cristã”. Você, criancinha, não podia tomar consciência de nada; a adolescência é um tempo difícil para todo mundo; sua família talvez não tivesse condições religiosas para lhe oferecer um ambiente de fato cristão; também pode ser que a sua comunidade eclesial não conseguia oferecer-lhe uma catequese adequada... O fato é que você “nasceu católico”, mas não houve o “desenvolvimento” de sua fé. A sementinha recebida no Batismo não germinou, não cresceu... Claro, não pode produzir frutos: este é o drama de grande parte do catolicismo brasileiro; este é também o grande desafio da catequese.

Se não houve iniciação cristã antes do Batismo porque a pessoa foi batizada sendo criancinha (o mesmo se diga dos sacramentos da Crisma e da Eucaristia), a iniciação deve ser substituída pela catequese. E se, por desgraça, a catequese falhar, está comprometida toda a educação da fé, toda a vida cristã. Resultado prático: muitos cristãos adultos precisam, hoje, de iniciação cristã que não tiveram antes do Batismo porque batizados como criancinhas e porque a catequese recebida após o Batismo foi insuficiente. Além disso, faltou-lhes o apoio cristão da família e da comunidade eclesial, sem falar do ambiente da sociedade que muitas vezes caminha em sentido contrário ao de Cristo. Por isso é que a catequese de adultos é tão importante quanto a catequese das crianças. Feliz a diocese, a paróquia, a comunidade que compreender esta realidade e providenciar a iniciação cristã para seus cristãos adultos e uma catequese adequada para suas crianças.

Faltando a iniciação cristã e uma catequese adequadas, os que se dizem “cristãos” não passarão de “crianças” em termos de fé e compromisso. A semente da Palavra de Deus que deu início à vida divina precisa germinar, crescer, produzir flores e frutos. Enquanto nossos católicos não passarem de “crianças” e não se tornarem “adultos na fé”, nosso cristianismo será sempre sem consequências práticas em meio à sociedade. Quando tivermos por todo Brasil catequistas bem preparados para essas tarefas e leigos/as maduros em sua fé, então teremos um Brasil “católico” de verdade, não tanto pelo número dos que se declaram tais no recenseamento, quanto pela qualidade da vivência de sua fé.


Batismo

Antes de tudo, por que é preciso receber o Batismo? Porque esta foi e é a vontade explícita de Jesus. Ele disse aos seus apóstolos: “Ide e ensinai a todos os povos; batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-os a observar tudo o que vos prescrevi” (Mateus 28,18-19). Eis aí a vontade explícita do Senhor: que todos recebam o Batismo a fim de que todos tenham a vida eterna.

O Evangelho nos conta que uma noite Jesus recebeu a visita de Nicodemos. Na conversa, Jesus lhe disse: “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus... Quem não renascer da água e do Espírito Santo não poderá entrar no Reino de Deus.” (João 3,3-5). A mesma resposta foi dada por S. Pedro no dia de Pentecostes à multidão que lhe perguntava: “Que devemos fazer?”. Pedro respondeu: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos dos Apóstolos 2,37-38). Veja como tudo é muito simples para Jesus: fé em sua Palavra, esforço de conversão, Batismo. A ordem dada por Jesus continua sendo cumprida pela sua Igreja até hoje: foi assim que também você recebeu o Batismo.

Só Jesus podia “inventar” uma coisa dessas, tão simples e ao mesmo tempo tão profunda: por meio de um pequeno rito com água e com as palavras ”Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, purificar você do pecado original, infundir em você a vida divina, torná-lo filho/a de Deus, morada da Santíssima Trindade, membro da comunidade de Jesus (a Igreja) e herdeiro da felicidade eterna. Não é o máximo? De fato é o máximo, pois de simples ser humano, o Batismo fez de você um ser “divino”. O que falta, então? Tomar consciência desse acontecimento grandioso e esforçar-se por viver de acordo com a nova realidade divina que se instalou em seu corpo e em sua alma. Não queira permanecer eterna “criança” do ponto de vista divino: cresça, desenvolva a vida divina que está em você, alimente-a pela Palavra de Deus, pela oração, pelos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia, pelo amor fraterno... Assuma os compromissos do Batismo, arque com as consequências que dele derivam.

Que consequências são essas? Vejamos: 1) O Batismo libertou você do pecado: esforce-se para não pecar e viver como pede o Evangelho, santamente. 2) Você se tornou filho de Deus: viva como verdadeiro filho/a do Pai do céu. 3) Tornou-se uma coisa só com Jesus: viva unido a Ele, nunca se separe dele pelo pecado. 4) Foi feito templo do Espírito Santo: proceda em tudo de acordo com o Espírito. 5) Foi agregado à comunidade da Igreja: participe intensamente da vida eclesial. 6) Tornou-se irmão/a de todos: viva em paz com todos, queira bem a todos, perdoe a todos. 7) Foram infundidas em seu coração as virtudes da Fé, da Esperança e da Caridade (amor): viva a sua fé, mantenha sempre a esperança e amplie o mais possível seu amor fraterno.

Veja quantos compromissos o Batismo introduz em sua vida. Que se conclui de tudo isso? Que o Batismo é para ser vivido diariamente. Não tem sentido ser batizado, e depois viver de qualquer jeito, longe de Deus, do Evangelho de Jesus e de sua Igreja. Seja um cristão consciente e comprometido, do contrário, diante de Deus, você ficará uma eterna “criança”, esvaziando tudo o que Jesus fez pela sua salvação.

Um sugestão prática: por que você não elabora um pequeno “projeto de vida cristã” com base nas realidades batismais acima descritas? Depois, esforce-se por ser coerente com ele e por fazer de vez em quando uma revisão de visa. É assim que você crescerá na coerência batismal e se tornará sempre mais discípulo/a de Jesus.


Crisma


“Recebe, por este sinal, o Espírito Santo, o dom de Deus.”
Foi com estas palavras que no dia da sua Crisma o bispo lhe ungiu a testa em forma de cruz com o óleo consagrado na quinta-feira santa: por meio da simplicidade deste rito, o Espírito Santo tomou conta de todo o seu ser. Junto com o Batismo e a Eucaristia, a Crisma faz parte da iniciação cristã, isto é, é um dos sacramentos que “fazem o cristão”. “Crisma” é palavra grega que significa “unção”. No Antigo Testamento ungiam-se os sacerdotes e os reis, que eram chamados os “Ungidos do Senhor”. No Novo Testamento, Jesus, o Messias, é chamado “Cristo”, que significa precisamente “Ungido”.

A Crisma é, pois, o sacramento pelo qual o Pai, por meio de Jesus, lhe comunica o Espírito Santo e seus dons. Para quem não tem fé, é impossível crer uma coisa dessas. Entretanto, é isto o que acontece. A imposição das mãos do bispo e a unção com o óleo significam que o Espírito Santo “desce” sobre você e toma conta de todo o seu ser, da mesma forma como o óleo, aos poucos, penetra a pedra mais dura. Por sua vez, a cruz traçada em sua testa significa que você pertence a Cristo: é Ele que lhe comunica o Espírito Santo. Por isso, a Crisma é o sacramento que faz do cristão uma pessoa consciente de que, pelo Batismo, se tornou filho/a de Deus, pertence ao Cristo que o redimiu do pecado e se deixa guiar pelo Espírito Santo.

A Crisma não é um complemento do Batismo, como se o Batismo sozinho não tivesse sido completo; mas está intimamente ligada a ele, pois ela potencializa, fortalece e estimula a vida divina recebida no Batismo. Sintetizando os efeitos do sacramento da Crisma: ela torna você de modo mais pleno filho/a de Deus; une-o de forma mais intensa a Cristo; aperfeiçoa os laços que o unem com a Igreja; dá-lhe a força do Espírito Santo para difundir e defender a fé pela palavra e pela ação, para testemunhar com coragem o nome de Cristo e nunca ter vergonha do Evangelho.

Em outras palavras, a Crisma lhe comunica o Espírito Santo e seus dons para que você se torne semelhante a Jesus, o Ungido de Deus, que é profeta, sacerdote e rei. Quem recebeu a Crisma deve ser profeta para anunciar a Palavra de Deus, sacerdote para oferecer o culto espiritual a Deus e rei para testemunhar Cristo e implantar seu Reino em toda parte. Esta é maneira pela qual Jesus cumpre sua repetida promessa de enviar aos seus discípulos/as o Espírito Santo: você pode conferir esta bela promessa e sua realização em João 16,7-15; 20,22 e nos Atos dos Apóstolos 2,1-4; 8,15-17.

A Crisma produz ainda outro efeito que é chamado “caráter”; é como a “marca” de Cristo, sinal de que você pertence a Jesus. O caráter é “indelével”, isto é, nada, nem o pecado mortal, o apaga. São Paulo escreve aos Coríntios: “Deus nos marcou com o seu selo e deu aos nossos corações o penhor do Espírito” (2 Coríntios, 1,21). E aos Efésios: “Fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido” (Efésios 1,13). Veja também 1 João 2,20.27. Daí ser fundamental que nunca desapareça de dentro de você a consciência de pertencer a Jesus em tudo e por tudo.

A presença do Espírito Santo traz consigo o que costumamos chamar de “dons”, os “sete dons”. Presente em você, o Espírito Santo age em todas as suas faculdades: inteligência, vontade, liberdade... A ação santificadora do Espírito se adapta às suas necessidades de cada momento; daí os dons receberem nomes diversos; no fundo, porém, é sempre o mesmo Espírito Santo que age em você a fim de que se torne sempre mais semelhante a Jesus e viva de acordo com o Evangelho.

Vale a pena especificar esses sete dons e observar como cada um produz efeitos específicos. A Sabedoria ajuda você a “saborear” as coisas de Deus, isto é, a olhar tudo e todos com olhar divino, a viver de acordo com o Evangelho, a não se deixar conduzir só pela dimensão humana da vida e das coisas. A Inteligência lhe faz “compreender” a Palavra de Deus e as coisas de Deus; sem essa compreensão, não é possível “saborear” as coisas de Deus. O Conselho o orienta a “discernir”, à luz da fé e da Palavra de Deus, o que está de acordo com Deus e o que é contrário a Ele. A Fortaleza, como a palavra diz, o “fortalece” para estar pronto a seguir Jesus Cristo, a dar testemunho corajoso do Evangelho, a difundir o Reino de Deus no ambiente em que vive e a combater contra o mal que tenta tomar conta do seu coração. A Ciência lhe proporciona maior “conhecimento” dos mistérios da fé e do caminho da vida cristã. A Piedade o leva a viver o “amor filial” para com o Pai do céu (piedade = em latim se diz “píetas” e significa amor dos filhos para com os pais). Finalmente, o Temor de Deus ajuda você a “respeitar” a Deus, temendo amorosamente violar seus Mandamentos e ofendê-lo.Como você percebe, junto com a vida divina que lhe foi comunicada no Batismo, os dons do Espírito Santo santificam e fortalecem sua inteligência e sua vontade – toda a sua pessoa – para que você possa viver realmente como filho/a de Deus e produzir os “frutos do Espírito”.

Você pode perguntar: o que são os frutos do Espírito Santo? O cristão é comparado a uma árvore: Jesus disse que “toda árvore boa produz frutos bons e toda árvore má produz maus frutos” (Mateus 7,17). Ora, o crismado que procura ser uma boa “árvore”, produzirá os frutos do Espírito. São Paulo fala deles escrevendo aos Gálatas. Diz: “Deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne, pois são contrários uns aos outros... As obras da carne são estas: fornicação, impureza libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódios, ambição, discórdia, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes... Ao contrário, os frutos do Espírito são caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gálatas 5,16-17.19-23).

É fácil ver que a Crisma compromete seriamente você com Jesus e a Igreja. Você deve ser consciente de sua responsabilidade como discípulo/a de Jesus. Por isso, precisa esforçar-se para dar testemunho do Evangelho e do próprio Jesus Cristo. Além disso, deve também ser consciente de que a Crisma o empenha mais intensamente no cumprimento da missão da Igreja, isto é, de evangelizar e transformar a sociedade e o mundo. No seu “projeto de vida cristã” que lhe sugeri ao tratar do Batismo inclua a bela a radiosa realidade divina do Espírito Santo que lhe foi dado pelo sacramento da Crisma.


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