domingo, 8 de janeiro de 2012

EPIFANIA E BATISMO DO SENHOR


Louvai o nosso Deus, todos os seus servos (Ap 19,5)

Mares e rios, bendizei ao Senhor,
águas das fontes, cantai ao Senhor. Aleluia!



Tanto os fiéis de tradição romana como os de tradição constantinopolitana conservaram, para o dia 6 de janeiro, uma festa cristológica muito antiga, a primeira em que se sintetizavam todos os mistérios do Senhor ao manifestar-se ao mundo. Mas quando no século IV, a data do nascimento do Senhor foi colocada no dia 25 de dezembro, por iniciativa romana, e logo em seguida aceita também pelos orientais, o conteúdo da festa do 6 de janeiro se diversificou. Para os católicos latinos o dia 6 de janeiro é o dia da Epifania, a manifestação de Cristo «luz das nações» considerada a partir da vinda dos Reis Magos em Belém. Esse evento, para os cristãos bizantinos, está incluído na comemoração global do dia 25 de dezembro. Ao passo que no dia 6 de janeiro eles celebram a “Santa Teofania” do Deus que se encarnou. É a segunda manifestação do Salvador, no início de sua vida pública, por ocasião do seu batismo no rio Jordão, que se deu num contexto trinitário, em que Deus Pai fez ouvir sua voz e o Espírito Santo apareceu em forma de pomba.
Era um dia em que os catecúmenos recebiam solenemente o batismo, como na Páscoa. Os textos litúrgicos da festa da Teofania resumem bem os mistérios fundamentais da fé cristã: encarnação do Verbo, com muitas alusões ao nascimento, e a unidade de Deus na Trindade.


Despontou a tua luz, Jerusalém,
e a glória do Senhor te iluminou.
E os povos andarão na tua luz. Aleluia!



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HOMILIA DO PAPA BENTO XVI
Sexta-feira, 6 de Janeiro de 2012


 
Queridos irmãos e irmãs,

A Epifania é uma festa da luz. «Ergue-te, Jerusalém, e sê iluminada, que a tua luz desponta e a glória do Senhor está sobre ti» (Is 60, 1). Com estas palavras do profeta Isaías, a Igreja descreve o conteúdo da festa. Sim, veio ao mundo Aquele que é a Luz verdadeira, Aquele que faz com que os homens sejam luz. Dá-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus (cf. Jo 1, 9.12). Para a liturgia, o caminho dos Magos do Oriente é só o início de uma grande procissão que continua ao longo da história inteira. Com estes homens, tem início a peregrinação da humanidade rumo a Jesus Cristo: rumo àquele Deus que nasceu num estábulo, que morreu na cruz e, Ressuscitado, permanece connosco todos os dias até ao fim do mundo (cf. Mt 28, 20). A Igreja lê a narração do Evangelho de Mateus juntamente com a visão do profeta Isaías, que escutámos na primeira leitura: o caminho destes homens é só o início. Antes, tinham vindo os pastores – almas simples que habitavam mais perto de Deus feito menino, podendo mais facilmente «ir até lá» (cf. Lc 2, 15) ter com Ele e reconhecê-Lo como Senhor. Mas agora vêm também os sábios deste mundo. Vêm grandes e pequenos, reis e servos, homens de todas as culturas e de todos os povos. Os homens do Oriente são os primeiros, seguidos de muitos outros ao longo dos séculos. Depois da grande visão de Isaías, a leitura tirada da Carta aos Efésios exprime, de modo sóbrio e simples, a mesma ideia: os gentios partilham da mesma herança (cf. 3, 6). Eis como o formulara o Salmo 2: «Eu te darei as nações por herança, e os confins da terra para teu domínio» (v. 8).

Os Magos do Oriente vão à frente. Inauguram o caminho dos povos para Cristo. Durante esta Missa, vou conferir a Ordenação Episcopal a dois sacerdotes, consagrá-los-ei Pastores do povo de Deus. Segundo palavras de Jesus, caminhar à frente do rebanho faz parte da função do Pastor (cf. Jo 10, 4). Por isso naqueles personagens, que foram os primeiros pagãos a encontrar o caminho para Cristo, talvez possamos – não obstante todas as diferenças nas respectivas vocações e tarefas – procurar indicações para a missão dos Bispos. Que tipo de homens eram os Magos? Os peritos dizem-nos que pertenciam à grande tradição astronómica que se fora desenvolvendo na Mesopotâmia no decorrer dos séculos, e era então florescente. Mas esta informação, por si só, não é suficiente. Provavelmente haveria muitos astrónomos na antiga Babilónia, mas poucos, apenas estes Magos, se puseram a caminho e seguiram a estrela que tinham reconhecido como sendo a estrela da promessa, ou seja, a que indicava o caminho para o verdadeiro Rei e Salvador. Podemos dizer que eram homens de ciência, mas não apenas no sentido de quererem saber muitas coisas; eles queriam algo mais. Queriam entender o que é que conta no facto de sermos homens. Provavelmente ouviram falar da profecia de Balaão, um profeta pagão: «Uma estrela sai de Jacob, e um cetro se levanta de Israel» (Nm 24, 17). Eles aprofundaram esta promessa. Eram pessoas de coração inquieto, que não se satisfaziam com aparências ou com a rotina da vida. Eram homens à procura da promessa, à procura de Deus. Eram homens vigilantes, capazes de discernir os sinais de Deus, a sua linguagem subtil e insistente. Mas eram também homens corajosos e, ao mesmo tempo, humildes: podemos imaginar as zombarias que tiveram de suportar quando se puseram a caminho para ir ter com o Rei dos Judeus, enfrentando canseiras sem número. Mas, não consideravam decisivo o que se pensava ou dizia deles, mesmo pelas pessoas influentes e inteligentes. Para eles o que contava era a própria verdade, não a opinião dos homens. Por isso, enfrentaram as privações e o cansaço dum caminho longo e incerto. Foi a sua coragem humilde que lhes permitiu prostrar-se diante dum menino filho de gente pobre e reconhecer n’Ele o Rei prometido, cuja busca e reconhecimento fora o objectivo do seu caminho exterior e interior.

Queridos amigos, em tudo isto é possível ver alguns traços essenciais do ministério episcopal. Também o Bispo deve ser um homem de coração inquieto, que não se satisfaz com as coisas rotineiras deste mundo, mas segue a inquietação do coração que o impele interiormente a aproximar-se sempre mais de Deus, a procurar o seu Rosto, a conhecê-Lo cada vez melhor, para poder amá-Lo sempre mais. Também o Bispo deve ser um homem de coração vigilante que percebe a linguagem subtil de Deus e sabe discernir a verdade da aparência. Também o Bispo deve estar repleto da coragem da humildade, que não se interessa do que a opinião dominante diz dele, mas por critério toma a medida da verdade de Deus, comprometendo-se com ela «opportune – importune». Deve ser capaz de ir à frente indicando o caminho. Deve ir à frente seguindo Aquele que a todos nos precedeu, porque é o verdadeiro Pastor, a verdadeira estrela da promessa: Jesus Cristo. E deve ter a humildade de prostrar-se diante daquele Deus que Se tornou tão concreto e tão simples que contradiz o nosso orgulho insensato, que não quer ver Deus assim perto e pequenino. Deve viver a adoração do Filho de Deus feito homem, aquela adoração que lhe indica sem cessar o caminho.

A liturgia da Ordenação Episcopal exprime o essencial deste ministério em oito perguntas dirigidas aos Ordenandos, que começam sempre com a palavra: «Vultis? – Quereis?». As perguntas orientam a vontade e indicam-lhe o caminho a tomar. Gostaria de mencionar aqui, brevemente, algumas das palavras-chave desta orientação, nas quais se concretiza aquilo que há pouco reflectimos a partir dos Magos que aparecem na festa de hoje. A missão dos Bispos é «praedicare Evangelium Christi», «custodire», «dirigere», «pauperibus se misericordes praebere», «indesinenter orare». O anúncio do Evangelho de Jesus Cristo, guardar o depósito sagrado da nossa fé, ir à frente e guiar, a misericórdia e a caridade para com os necessitados e os pobres nas quais se reflecte o amor misericordioso de Deus para connosco e, finalmente, a oração contínua são características fundamentais do ministério episcopal. A oração contínua significa nunca perder o contacto com Deus, deixar-se tocar sempre por Ele no íntimo do nosso coração e deste modo sermos permeados pela sua luz. Só quem conhece a Deus pessoalmente é que pode guiar os outros para Deus. E só quem guia os homens para Deus é que os guia pela estrada da vida.

O coração inquieto, de que falámos inspirando-nos em Santo Agostinho, é o coração que, em última análise, não se satisfaz com nada menos do que Deus e é, precisamente assim, que se torna um coração que ama. O nosso coração vive inquieto por Deus, e não pode ser doutro modo, embora hoje se procure, com «narcóticos» muito eficazes, libertar o homem desta inquietação. Mas não somos só nós, seres humanos, que vivemos inquietos relativamente a Deus. Também o coração de Deus vive inquieto relativamente ao homem. Deus espera-nos. Anda à nossa procura. Também Ele não descansa enquanto não nos tiver encontrado. O coração de Deus vive inquieto, e foi por isso que se pôs a caminho até junto de nós – até Belém, até ao Calvário, de Jerusalém até à Galileia e aos confins do mundo. Deus vive inquieto connosco, anda à procura de pessoas que se deixem contagiar por esta sua inquietação, pela sua paixão por nós; pessoas que vivem a busca que habita no seu coração e, ao mesmo tempo, se deixam tocar no coração pela busca de Deus a nosso respeito. Queridos amigos, foi esta a missão dos Apóstolos: acolher a inquietação de Deus pelo homem e levar o próprio Deus aos homens. E, seguindo os passos dos Apóstolos, esta é a vossa missão: deixai-vos tocar pela inquietação de Deus, a fim de que o anseio de Deus pelo homem possa ser satisfeito.

Os Magos seguiram a estrela. Através da linguagem da criação, encontraram o Deus da história. É certo que a linguagem da criação, por si só, não é suficiente. Apenas a Palavra de Deus, que encontramos na Sagrada Escritura, podia indicar-lhes definitivamente o caminho. Criação e Escritura, razão e fé devem dar-se as mãos para nos conduzirem ao Deus vivo. Muito se discutiu sobre o tipo de estrela que guiou os Magos. Pensa-se numa conjunção de planetas, numa Supernova, ou seja, uma daquelas estrelas inicialmente muito débeis que, na sequência duma explosão interna, irradia por algum tempo um imenso esplendor, num cometa, etc. Deixemos que os cientistas continuem esta discussão. A grande estrela, a verdadeira Supernova que nos guia é o próprio Cristo. Ele é, por assim dizer, a explosão do amor de Deus, que faz brilhar sobre o mundo o grande fulgor do seu coração. E podemos acrescentar: tanto os Magos do Oriente, mencionados no Evangelho de hoje, como os Santos em geral pouco a pouco tornaram-se eles mesmos constelações de Deus, que nos indicam o caminho. Em todas estas pessoas, o contacto com a Palavra de Deus provocou, por assim dizer, uma explosão de luz, através da qual o esplendor de Deus ilumina este nosso mundo e nos indica o caminho. Os Santos são estrelas de Deus, pelas quais nos deixamos guiar para Aquele por quem o nosso ser anseia. Queridos amigos, vós seguistes a estrela que é Jesus Cristo, quando dissestes o vosso «sim» ao sacerdócio e ao ministério episcopal. E certamente brilharam para vós também estrelas menores, que vos ajudaram a não errar o caminho. Na Ladainha dos Santos, invocamos todas estas estrelas de Deus, a fim de que brilhem sempre de novo para vós e vos indiquem o caminho. Com a Ordenação Episcopal, vós mesmos sois chamados a ser estrelas de Deus para os homens, guiando-os pelo caminho que leva à verdadeira Luz: Cristo. Invoquemos, pois, agora todos os Santos, para que possais corresponder sempre a esta vossa missão mostrando aos homens a luz de Deus. Amem.

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Hoje a Igreja se uniu a seu celeste Esposo,
porque Cristo lavou no Jordão o pecado;
para as núpcias reais correm Magos com presentes;
e os convivas se alegrem com a água feita vinho. Aleluia!


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ANGELUS COM O PAPA BENTO XVI 
Praça de São Pedro - Vaticano
Domingo, 8 de janeiro de 2012

Queridos irmãos e irmãs

Hoje celebramos a festa do Batismo do Senhor. Esta manhã conferi o Batismo a 16 crianças e por isto, gostaria de propor uma breve reflexão sobre nosso ser filhos de Deus. Antes de tudo, partamos do nosso ser simplesmente filhos: esta é a condição fundamental que nos une. Nem todos são pais, mas todos seguramente são filhos. Vir ao mundo não é nunca uma escolha, não nos vem pedido antes de nascer. Mas durante a vida, podemos amadurecer uma atitude livre em relação a própria vida: podemos acolhê-la como um dom e, em um certo sentido, tornar aquilo que já somos: filhos. Esta passagem sinaliza uma etapa de maturidade do nosso ser e no relacionamento com nossos pais, que se enche de reconhecimento. É uma passagem que nos torna também capazes de ser também genitores, não biologicamente, mas moralmente. 


Também em relação a Deus somos todos filhos. Deus é a origem da existência de toda criatura e é Pai em modo singular de cada ser humano: tem como ele ou com ela uma relação única, pessoal. Cada de nós é querido, é amado por Deus. E também nesta relação com Deus, por assim dizer, podemos renascer, isto é, nos tornar aquilo que somos, Isto acontece mediante a fé, mediante um sim profundo e pessoal a Deus como origem e fundamento da nossa existência. Com este “sim” eu acolho a vida como dom do Pai que está nos céus, um Pai que não vejo, mas no qual creio e que sinto no profundo do coração ser o Meu Pai e de todos os meus irmãos em humanidade, um Pai imensamente bom e fiel. 

Sobre o que se baseia esta fé em Deus Pai? Se baseia em Jesus Cristo: a sua pessoa e a sua história nos revelam o Pai, o fazem conhecer, o quanto é possível deste modo. Crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, nos conduz a renascer do alto, isto é, de Deus, que é amor (Jo 3,3). E precisamos ter claro que ninguém se faz homem: nascemos sem o nosso próprio fazer, o passivo de ter nascido precede o ativo do nosso fazer. O mesmo é também se diz do ser cristão: ninguém pode fazer-se cristão somente pela própria vontade, também ser cristão é um dom que precede o nosso fazer: devemos renascer em um novo nascimento. São João diz: A quantos o acolheram deu o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1,12). Este é o sentido do Sacramento do Batismo, o Batismo é um novo nascimento, que precede o nosso fazer. Com a nossa fé podemos ir ao encontro de Cristo, mas somente Ele mesmo pode fazer-nos cristãos e dar a esta nossa vontade, a este nosso desejo a resposta, a dignidade, o poder de nos tornarmos filhos de Deus que de nós mesmos não temos.


Caros amigos, este domingo do Batismo do Senhor conclui o Tempo do Natal. Rendamos graças a Deus por esse grande mistério, que é fonte de regeneraçção para a Igreja e para o mundo inteiro. Deus se fez Filho do Homem, para que o homem se tornasse filho de Deus, mediante o Batismo. À Virgem Maria, Mãe de Cristo e de todos aqueles que creem nEle, pedimos que nos ajude a viver realmente como filhos de Deus, não com as palavras, e não somente com as palavras, mas com os fatos. Escreve ainda São João: “Este é o seu mandamento: que creiamos no nome do seu Filho Jesus e nos amemos uns aos outros, este é o preceito que Ele nos deu (I Jo 3,23)



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Oração 

Ó Deus, que hoje revelastes o vosso Filho às nações, guiando-as pela estrela,
concedei aos vossos servos, que já vos conhecem pela fé, contemplar-vos um dia
face a face no céu.. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade 
do Espírito Santo.



Fontes:

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