Por Dom Hilário
O profeta Isaías é chamado “o quinto evangelista”. Por quê? Porque, séculos antes de Jesus, enquanto profeta, portanto, falando em nome Deus, interpretou a realidade do seu tempo em termos que certamente ao mesmo tempo apontavam para o que haveria de acontecer com o próprio Jesus. São famosas, por exemplo, as palavras de Isaías que a Igreja aplica a Jesus particularmente na Sexta-Feira da Paixão: tem-se a impressão de que o profeta assistiu aos sofrimentos do Redentor e os registrou pormenorizadamente.
A Igreja nos propõe a leitura de Isaías também no tempo litúrgico do Advento. Também neste caso parece que o profeta viu com seus olhos a chegada do Salvador do mundo e, por isso, exortou as pessoas do seu tempo a se prepararem para acolhê-lo devidamente. Aliás, é o que faz São João Batista, repetindo aos homens e mulheres do seu tempo as mesmas palavras de Isaías.
Por isso, Isaías é figura importante do tempo do Advento e convém que prestemos atenção às suas exortações. O que ele diz? No primeiro domingo do Advento Isaías contempla, em visão, o monte de Sião, onde está construída Jerusalém e, nela, se ergue o templo do Senhor. Ele vê todos os povos voltarem seus olhos para lá e acorrerem ao encontro do Senhor a fim de ouvir sua Palavra e observar seus preceitos, porque é precisamente no templo do Senhor que o Senhor habita.
Não foi em Jerusalém que Jesus se manifestou ao mundo como Salvador de todos os povos? Não foi em Jerusalém que ele foi crucificado e ressuscitou? Pois que seja assim também durante o tempo do Advento: que todos os corações se voltem para Jerusalém, propriamente, se voltem para Jesus.
No segundo domingo do Advento Isaías retorna e diz que “naqueles dias, nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, sugira o rebento de uma flor; sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e temor de Deus” (Isaías 11,1-2). Em seguida, anuncia um mundo novo de justiça e de paz por obra do Messias: “Naquele dia, a raiz de Jessé se erguerá como um sinal entre os povos; hão de buscá-la as nações, e gloriosa será sua morada” (Isaías 11,10).
Novamente o profeta aponta para o futuro Messias ao qual acorrerão todos os povos, pois Ele é a Salvação. Dessa forma, o profeta exortava seus contemporâneos a manterem firme a esperança na vinda do Salvador do mundo. Foi o Advento mais longo, mais esperado, até que se realizou em Jesus.
Por isso, João Batista, que é recordado no Evangelho do segundo domingo do Advento, também ele apela para o profeta Isaías: o profeta se autodefinia como “a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Mateus 3,3). Também hoje ressoa o convite de Isaías, pela voz de João Batista e pela voz da Igreja: endireitar os caminhos, preencher os vales, arrasar os montes da vida para que o Messias, Jesus, possa vir ao nosso encontro no Natal.
No terceiro domingo do Advento as palavras de Isaías são uma conclamação à alegria pela proximidade da vida do Salvador: “Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores” (Isaías 36,1-2). O texto prossegue: “Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmais os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é o vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar” (Isaías 35,3-4).
O Advento não é só tempo de olhar para Jerusalém (primeiro domingo), de preparar o caminho do Senhor (segundo domingo), mas também de alegrar-se porque o Senhor está para chegar (terceiro domingo). A alegria messiânica, tão bem celebrada pelo evangelista São Lucas, é um dos sinais da chegada do Messias. Esta é a razão pela qual o terceiro domingo do Advento é chamado, em latim, “Dominica Laetare”, isto é, “Domingo do Alegrai-vos”, e o celebrante pode vestir-se de cor-de-rosa, em vez de roxo, precisamente para significar a alegria da proximidade do Redentor.
Finalmente, no quarto domingo do Advento o profeta Isaías aponta para Nossa Senhora, aquela que será a Mãe do Messias: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel” (que significa “Deus conosco”) (Isaías 7,14). Dessa forma, nós também somos convidados a olhar para Maria, a portadora do Senhor que vem ao nosso encontro com Jesus nos braços, o que ocorre particularmente no Natal.
Como você vê, Isaías nos ajuda a viver em profundidade o Advento e a nos preparar bem para o santo Natal. Fique atento à Palavra de Deus, alegre-se, admire e agradeça a Providência divina que, séculos antes do nascimento do Salvador, anunciou por boca de Isaías o que iria acontecer: o nascimento do Filho de Deus, que recebeu o nome de “Jesus”, isto é, “Deus salva”. O Natal é o início da nossa salvação: como não alegrar-se? Mas é preciso também preparar-se. Viva intensamente o Advento para celebrar intensamente o Natal!
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